Um esforço conjunto para aumentar o tempo útil de jogo

O maior destaque desta jornada vai para as palavras de Sérgio Conceição e para a questão relacionada com as perdas de tempo no futebol português, ou seja, com o tempo útil de jogo que se verifica na Liga portuguesa. Para melhor compreender esta problemática, vou socorrer-me dos dados lançados em Dezembro de 2018 pelo Observatório de Futebol (CIES), que relativamente a este assuntou, e após a análise de 37 competições europeias, chegou à seguinte conclusão: Portugal é o país da Europa onde há menos tempo útil de jogo, mais concretamente (50,9%). Na prática, jogam-se apenas 46 minutos por partida. 

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O maior destaque desta jornada vai para as palavras de Sérgio Conceição e para a questão relacionada com as perdas de tempo no futebol português, ou seja, com o tempo útil de jogo que se verifica na Liga portuguesa. Para melhor compreender esta problemática, vou socorrer-me dos dados lançados em Dezembro de 2018 pelo Observatório de Futebol (CIES), que relativamente a este assuntou, e após a análise de 37 competições europeias, chegou à seguinte conclusão: Portugal é o país da Europa onde há menos tempo útil de jogo, mais concretamente (50,9%). Na prática, jogam-se apenas 46 minutos por partida. 

Em sentido contrário, ou seja, nos campeonatos em que mais tempo se joga, temos a Liga sueca, (60,4%), logo seguida no ranking pela Champions League (60,2%) e Liga holandesa (58,6%). Por curiosidade, a Liga Europa ocupa a nona posição (57,15%) e os nossos vizinhos espanhóis estão em 17.º lugar (55,8%). 

Mais do que lamentar os números, que são bem elucidativos, urge encontrar soluções para este problema. E não vale a pena tentar identificar quem é que é mais ou menos culpado, porque todos os intervenientes directos podem e devem fazer mais do que fazem para mudar este estado de coisas e as respectivas estatísticas. 

Aos árbitros, pode pedir-se que deixem jogar mais, que privilegiem mais o contacto, que não apitem tudo, que punam com sanções disciplinares desde cedo os que retardam o recomeço do jogo e que, no limite, adicionem no final de cada parte o tempo perdido.Agora, há uma coisa que as pessoas têm de compreender: os árbitros não são médicos e não têm a capacidade de avaliar se os jogadores que caem no relvado estão ou não a necessitar de assistência. Todos nós nos lembramos do que aconteceu a Miklós Fehér, que sorriu e caiu no chão sem ninguém lhe ter tocado, por isso, sempre que um jogador está caído, deve o árbitro permitir que seja assistido. Importante é que esse tempo seja bem contabilizado e acrescentado, apesar da quebra de ritmo que essa paragem acaba por provocar.

Outro expediente ainda que podem e devem os árbitros usar é a gestão da reentrada no terreno de jogo. Quando os jogadores que solicitam assistência, mal saem pela linha lateral, pedem de imediato para voltar a entrar, é bom que os árbitros os deixem uns segundos lá fora, privando assim a equipa, momentaneamente, de um jogador, para que percebam “que o crime não compensa”. 

Mas se de árbitros podemos falar, como parte da solução, não tenho dúvidas absolutamente nenhumas de que também os treinadores e jogadores podem e devem fazer muito mais. A começar, desde logo, por não usarem as perdas de tempo como um recurso táctico. Percebo a importância e o preço do “ponto” nas contas finais dos campeonatos, mas se estes agentes directos continuarem com estas atitudes de anti-jogo, não há arbitro nem futebol que resistam. 

A reflexão sobre este assunto remete-nos, uma vez mais, para outro aspecto da mudança das leis de jogo, ou seja, para a paragem do cronómetro sempre que a bola sai do terreno de jogo ou este é interrompido pelo árbitro, como acontece noutros desportos. Seria uma solução possível de aplicar no futebol profissional, com os meios técnicos e os recursos humanos existentes. 

Mas para piorar este quadro do tempo útil de jogo, também temos a questão das estatísticas no que ao número de cartões (amarelos e vermelhos) diz respeito. Numa lista de 31 campeonatos europeus, Portugal aparece no 7.º lugar, com uma média de 5,16 cartões por jogo (4,90 amarelos e 0,26 vermelhos). E se somarmos a estes números as faltas, então o cenário piora definitivamente: com uma média de 32,9 faltas por jogo, Portugal é também o país onde mais faltas se cometem. Em comparação, por exemplo, com a Liga inglesa, que apresenta uma média de 24,2, o fosso é abismal. 

Quando passamos para o sumo do futebol, que é o golo, verificamos que é mais do mesmo, pois Portugal aparece na cauda da tabela (28.º), com uma média de 2,32 golos por jogo e apenas com três países em situação pior (Grécia, Israel e Rússia). Entre os melhores exemplos europeus destacam-se a Espanha (em terceiro lugar), com 2,90 golos por jogo, Inglaterra (6.º), com 2,84, e Itália (7.º), com 2,80. 

Em conclusão, a nossa Liga é das piores no que diz respeito ao tempo útil de jogo, ao número de faltas e cartões mostrados e também ao número de golos por jogo. Tudo isto merece uma profunda reflexão de todos, em que os árbitros serão parte importante da solução, mas não serão os únicos responsáveis.