Parabéns insultuosos

Aquele parágrafo homofóbico era a única coisa que o homem tinha lido com o meu nome apenso.

Um energúmeno vem dar-me os parabéns por um comentário homofóbico que está online com o meu nome por baixo.
Explico ao mentecapto que não fui eu que escrevi. Ele insiste: “Mas está assinado por si!”
Apetece-me ceder: “Então nesse caso apanhou-me. Sim, fui eu. Pois se está o meu nome é porque fui eu, de certeza, que disse essa enormidade”.
Mas a besta está lançada. Quer congratular-me por uma opinião labrega que ele, no seu infinito analfabetismo, gostou de conseguir ler.
“Mas não deixa ser uma bojarda bem dada”, continua a criatura, pedindo-me de joelhos que aceite a autoria do que me foi atribuído.
“Não, não foi. É uma atitude desumana”, precisei eu, “e custa-me conhecer um ser humano capaz de aplaudir essa brutalidade”.
Percebi então que aquele parágrafo homofóbico era a única coisa que o homem tinha lido com o meu nome apenso.
Ele tinha-me conhecido por ter dito uma selvajaria que correspondia à selvajaria dele. E os parabéns dele eram a única maneira que ele tinha de dizer “parabéns, és igual a mim!”
Finalmente aceitou que o autor – ó palavra! – era outra pessoa. Mas queria à mesma a minha cumplicidade.
“Mas ele tem razão sobre os gays...”
“Não é ter ou não ter razão: é ofender a liberdade por ignorância e estupidez”.
“Ok”, disse a besta, maçada por ter sido apanhada em falso, “só queria dar-lhe os parabéns”.
Não sei como é que ainda não tinha desistido daquele ser humano: “Não compreende que o seu elogio é um insulto?”
 “Como é que um elogio pode ser um insulto?” retorquiu a alimária, contente por ter detectado uma contradição.

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Um energúmeno vem dar-me os parabéns por um comentário homofóbico que está online com o meu nome por baixo.
Explico ao mentecapto que não fui eu que escrevi. Ele insiste: “Mas está assinado por si!”
Apetece-me ceder: “Então nesse caso apanhou-me. Sim, fui eu. Pois se está o meu nome é porque fui eu, de certeza, que disse essa enormidade”.
Mas a besta está lançada. Quer congratular-me por uma opinião labrega que ele, no seu infinito analfabetismo, gostou de conseguir ler.
“Mas não deixa ser uma bojarda bem dada”, continua a criatura, pedindo-me de joelhos que aceite a autoria do que me foi atribuído.
“Não, não foi. É uma atitude desumana”, precisei eu, “e custa-me conhecer um ser humano capaz de aplaudir essa brutalidade”.
Percebi então que aquele parágrafo homofóbico era a única coisa que o homem tinha lido com o meu nome apenso.
Ele tinha-me conhecido por ter dito uma selvajaria que correspondia à selvajaria dele. E os parabéns dele eram a única maneira que ele tinha de dizer “parabéns, és igual a mim!”
Finalmente aceitou que o autor – ó palavra! – era outra pessoa. Mas queria à mesma a minha cumplicidade.
“Mas ele tem razão sobre os gays...”
“Não é ter ou não ter razão: é ofender a liberdade por ignorância e estupidez”.
“Ok”, disse a besta, maçada por ter sido apanhada em falso, “só queria dar-lhe os parabéns”.
Não sei como é que ainda não tinha desistido daquele ser humano: “Não compreende que o seu elogio é um insulto?”
 “Como é que um elogio pode ser um insulto?” retorquiu a alimária, contente por ter detectado uma contradição.