O teu cão faz-te olhinhos? A anatomia dele evoluiu para reforçar laços com os humanos

Um grupo de investigadores comparou a musculatura facial de cães e lobos para perceber se a domesticação pode ter influenciado a anatomia dos animais. Para os cães “serem mais apelativos” aos humanos, um músculo à volta dos seus olhos foi-se desenvolvendo, permitindo-lhes levantar a parte interior da sobrancelha.

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Ryk Porras/Unsplash

Os donos de cães podem confirmar: é quase impossível resistir quando eles fazem olhinhos. O simples acto de levantarem a parte interior das sobrancelhas dá-lhes um ar angelical, semelhante às expressões que os humanos fazem quando estão tristes e, por isso, provoca uma resposta afectiva. Um grupo de investigadores ingleses, americanos e um português — Rui Diogo, da Faculdade de Medicina da Universidade de Howard, em Washington, nos Estados Unidos — acredita ter encontrado uma explicação para a existência desta expressão: os cães poderão ter desenvolvido novos músculos à volta dos olhos, que lhes dão expressividade, para reforçar laços com os humanos.

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Os donos de cães podem confirmar: é quase impossível resistir quando eles fazem olhinhos. O simples acto de levantarem a parte interior das sobrancelhas dá-lhes um ar angelical, semelhante às expressões que os humanos fazem quando estão tristes e, por isso, provoca uma resposta afectiva. Um grupo de investigadores ingleses, americanos e um português — Rui Diogo, da Faculdade de Medicina da Universidade de Howard, em Washington, nos Estados Unidos — acredita ter encontrado uma explicação para a existência desta expressão: os cães poderão ter desenvolvido novos músculos à volta dos olhos, que lhes dão expressividade, para reforçar laços com os humanos.

“O processo de domesticação transformou lobos em cães e mudou os seus comportamentos e anatomia”, começam por explicar os investigadores no estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). A anatomia muscular do focinho de um cão foi sendo redesenhada especificamente para permitir a comunicação facial com pessoas. A transformação mais notória a nível de comportamento terá sido a capacidade para entender os sinais dos humanos, “de uma forma que nenhum outro animal consegue”.

Para determinar se a domesticação poderia ter interferido especificamente nos músculos faciais, os investigadores compararam focinhos dissecados de quatro lobos cinzentos e seis cães domésticos. Para além disso, quantificaram os movimentos faciais de nove lobos a viver em reservas protegidas no Reino Unido e na Alemanha e de 27 cães de vários abrigos ingleses, quer em termos de frequência, quer de intensidade, durante interacções sociais com humanos em intervalos de cerca de dois minutos.

As conclusões indicam que a musculatura de ambos é “relativamente uniforme”, sendo diferente apenas “à volta do olho”: onde nos cães existia um músculo que lhes permitia levantar as sobrancelhas, nos lobos via-se apenas um “escasso aglomerado de fibras musculares”. E é precisamente esta característica que pode provar que o processo de domesticação poderá ter alterado, de facto, a anatomia dos cães. Embora “se saiba que o corpo do cão sofreu pressões” a nível de alterações genéticas, este teste mostra que as diferenças anatómicas podem ser vistas “no tecido mole” — “uma diferença curiosa para espécies que estão separadas apenas por 33 mil anos”.

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O contacto visual é crucial para a interacção entre cães e humanos. É desta forma que o animal percebe, por exemplo, que uma determinada ordem é dirigida a ele. Além disso, “a motivação que leva um cão a estabelecer contacto visual com o dono pode ser um indicador do vínculo existente entre ambos”.