Visita ao Museu Etnográfico do Vouga é, agora, guiada pela família que lá viveu

Aplicação móvel ajuda a contar a história da Casa dos Carrondos, transformada, desde 1977, em unidade museológica. Situado em Mourisca, Águeda, o equipamento guarda mais de 50 mil peças.

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Podia ser uma casa senhorial igual a tantas outras. Datada de finais do século XIX, de gosto burguês, e com uma fachada coberta de azulejos. O jardim mantém-se fiel ao estilo da época e a forma como se encontra cuidado leva-nos a acreditar que a casa ainda é habitada. E assim é, de alguma forma. Hoje, este belo imóvel situado em Mourisca do Vouga, município de Águeda, é propriedade do Grupo Folclórico da Região do Vouga e alberga um museu etnográfico digno de ser visitado. Uma experiência que pode, agora, ser vivida de forma mais atractiva e lúdica, graças à criação de uma aplicação móvel (bilingue) que decidiu colocar a família Carrondo, que outrora habitou a casa, a guiar as visitas ao espaço.

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Podia ser uma casa senhorial igual a tantas outras. Datada de finais do século XIX, de gosto burguês, e com uma fachada coberta de azulejos. O jardim mantém-se fiel ao estilo da época e a forma como se encontra cuidado leva-nos a acreditar que a casa ainda é habitada. E assim é, de alguma forma. Hoje, este belo imóvel situado em Mourisca do Vouga, município de Águeda, é propriedade do Grupo Folclórico da Região do Vouga e alberga um museu etnográfico digno de ser visitado. Uma experiência que pode, agora, ser vivida de forma mais atractiva e lúdica, graças à criação de uma aplicação móvel (bilingue) que decidiu colocar a família Carrondo, que outrora habitou a casa, a guiar as visitas ao espaço.

Na prática, foram criadas “quatro personagens - pai, mãe e filhos -, que contam a histórias da utilização de objectos que constituem o espólio do museu”, introduz Paulo Morgado, da empresa responsável pela criação da app, que permite que a visita seja feita ao longo de três percursos diferentes ou de forma livre (através da leitura dos QR-codes nos artefactos expostos). “Fomos contidos na quantidade de peças que apresentamos nesta narrativa, pois o museu tem mais de 50 mil. Fomos às peças-chave”, acrescenta o director da Pointify. Só a título de exemplo, só xailes são mais de 100, alguns deles “peças únicas, que o Museu do Traje, em Lisboa, gostava de ter e não tem”, nota.

Seja nesta sala ou em qualquer um dos outros espaços da casa, as peças escondem narrativas emocionantes. Começando, desde logo, pelo bengaleiro instalado à entrada da habitação, peça comum “nas casas senhoriais, dada a importância da bengala ao longo dos tempos”. “Se no século XVII esta simbolizava riqueza e importância, no século XIX passa a ser um objecto de moda incontornável”, conta Alcides Carrondo, o anfitrião da visita guiada através da app.

A visita atravessa, ainda, a sala dos lenços, a sala de jantar, a cozinha, os quartos, a sala dos jogos e a sala das profissões. Nesta última, são apresentados vários artefactos da agricultura – que era, na época, uma das maiores formas de subsistência na Mourisca do Vouga – sem deixar de dar visibilidade a profissões como as do barbeiro ou o fotógrafo, passando pelo sapateiro, ferreiro e costureira. Todas elas evocadas com peças antigas e originais, que foram sendo doadas ao Grupo Folclórico da Região do Vouga.

A mítica FAMEL, que foi uma das maiores empresas de motorizadas de Portugal, também está ali representada, através de fotografias e de documentos originários da fábrica. Estava instalada ali mesmo, em Mourisca do Vouga, e dava emprego a gente da terra. O mesmo acontece com a SOTAM, outra fábrica de motorizadas que marcou a história da terra.

Dentro daquele museu cabe também uma representação do que eram as antigas escolas primárias. Na parede, um grande mapa, que “mostra o império português, com Portugal Insular e Ultramarino”, e as fotografias de Oliveira Salazar e de Carmona. “Temos de saber os nomes de todos os rios, serras e caminhos-de-ferro do nosso território!”, contam as personagens que guiam a visita multimédia. Ao lado, recriam-se, também, uma farmácia antiga e um pequeno local de culto. Tudo para que não se perca a memória daquele que foi o modo de vida de outras épocas.

As novas tecnologias ao serviço da história

Celestino Pinto é o presidente do Grupo Folclórico da Região do Vouga e, consequentemente, o verdadeiro responsável pelo Museu Etnográfico do Vouga. Conhece cada uma das mais de 50 mil peças que ali estão e está sempre a postos para contar as histórias que giram à volta delas. Ainda assim, vê com bons olhos esta aposta nas novas tecnologias para ajudar a orientar os visitantes, conseguida no âmbito de uma parceria com a câmara municipal de Águeda.

Da parte da autarquia, surge o reconhecimento da importância desta unidade museológica enquanto atractivo turístico e a perspectiva de que “esta aplicação ajude a atrair ainda mais visitantes ao Museu Etnográfico”, destaca a vereadora Elsa Corga. “É muito interessante este contraste entre o que temos exposto no museu, tão antigo, com as novas tecnologias”, acrescentou.