É urgente desmistificar o papel dos psicólogos

É importante deixarmos cair as amarras, os preconceitos e as crenças de que só os malucos vão ao psicólogo.

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Kelvin Balingit/Unsplash

Crescemos com a ideia de que chorar é para os fracos, ter raiva é feio e falar daquilo que sentimos é de evitar. Temos medo de ir ao psicólogo porque os “psicólogos são para malucos” e, afinal, se não estamos doentes, para quê ir ao psicólogo?

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Crescemos com a ideia de que chorar é para os fracos, ter raiva é feio e falar daquilo que sentimos é de evitar. Temos medo de ir ao psicólogo porque os “psicólogos são para malucos” e, afinal, se não estamos doentes, para quê ir ao psicólogo?

Todos nós já conseguimos desmistificar muitas das crenças que nos foram colocando ao longo do caminho, não só relativamente aos psicólogos e aos nossos sentimentos, mas também a um conjuntos de mitos e preconceitos que vão contaminando a forma como nos relacionamos com a vida, connosco próprios e com os outros. No entanto, não raras vezes, cruzamo-nos com pais que nos dizem “Não lhe digam que são psicólogos”, não vá o filho ouvir esta palavra e desatar a fugir, já que ele não é maluco e os psicólogos são para malucos.

E, espantem-se, talvez os psicólogos sejam mesmo para malucos, para todos aqueles que são malucos por crescer, por se desenvolver, por se conhecerem melhor, para os malucos que querem desconstruir os seus medos, as suas angústias, tudo aquilo que de alguma forma é mais escuro dentro de si. Assim, se pensarmos bem, talvez os psicólogos sejam mesmo para malucos, aqueles malucos que querem ser cada vez mais autênticos, melhor consigo próprios.

É importante deixarmos cair as amarras, os preconceitos e as crenças de que só os malucos vão ao psicólogo. Ou, em alternativa, redefinirmos o conceito de maluco. Acreditem, somos tão mais felizes quanto mais escutarmos o que se passa no nosso coração, quanto mais transparentes connosco próprios e com os outros formos e, acima de tudo, quanto menos medo tivermos de tudo aquilo que nos assusta, nos deixa tristes ou muito zangados.

Só assim, passo a passo, conseguimos dar sentido e ligar tudo aquilo que se passa dentro de nós. Na verdade, “maluco” — como habitualmente concebemos o termo — fica quem tem medo de olhar para dentro de si, quem guarda as lágrimas, “maluco” fica quem varre as tristezas para debaixo do tapete, quem, em vez de se expressar, se transforma numa espécie de bomba relógio que, mais tarde ou mais cedo, acabará por explodir. No fundo, “maluco” é quem foge de si próprio e de se conhecer, só porque é assim que a sociedade definiu que tinha de ser.