Soy trans: em criança queria ser Óscar, hoje é Gabriel

No metro de Madrid um rosto a preto e branco diz, orgulhoso, soy trans. Com 20 anos, Gabriel sente-se finalmente bem no seu corpo: "É uma grande libertação".

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"Os meus amigos, tanto os cisgénero como os 'trans', são muito importantes para mim. Eles ajudaram-me a ultrapassar o medo de fazer o 'coming out' aos meus pais." Susana Vera/Reuters

Gabriel Diaz de Tudanca é um espanhol de 20 anos que, embora tenha nascido biologicamente mulher, soube desde cedo que se identificava com o sexo masculino. “Quando tinha três anos, voltei da escola e disse à minha mãe que, quando crescesse, seria um homem chamado Óscar”, recorda o jovem. 

Com o apoio da família e amigos, passou por tratamentos cirúrgicos e hormonais, mudou o nome e renovou os documentos de identidade para reflectir o que sente ser o seu verdadeiro género — e, durante três anos, Susana Vera, fotógrafa da Reuters, acompanhou todo o processo.

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Susana Vera/Reuters

Espanha encontra-se relativamente avançada no que toca aos direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero), mas, ainda assim, as autoridades exigem um diagnóstico médico antes de permitir a mudança de género nos documentos oficiais, já que a transexualidade é classificada como uma doença mental. "Não levei a mal, ser diagnosticado como 'mentalmente doente'", diz Gabriel. "Mas sinto-me revoltado por ter que fazer o diagnóstico para poder alterar documentos, fazer tratamento hormonal ou uma cirurgia."

A Organização Mundial de Saúde determinou em Junho que ser transexual não deveria ser classificado como um transtorno mental — a transexualidade é agora considerada como uma “incongruência de género”, uma condição relacionada à saúde sexual. Em Portugal, com a nova lei de identidade de género, para mudar o sexo e o nome no registo civil só os jovens "trans" entre os 16 e os 18 anos é que têm apresentar um atestado de um psicólogo ou médico que confirme a vontade, sem a carga patológica da disforia de género.

Gabriel iniciou aos 17 anos os primeiros tratamentos hormonais para desenvolver características secundárias — a sua voz ficou mais grave, ganhou mais pêlo, a gordura corporal ficou distribuída de outra forma. Depois fez também uma cirurgia de remoção de peito. "Foi uma grande mudança na minha vida", sublinha Gabriel. "É uma grande libertação".

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Susana Vera/Reuters,Susana Vera/Reuters

Hoje em dia, já é socialmente aceite como homem, embora tenha sido rejeitado por algumas pessoas. Um amigo de infância disse que não o considerava um homem porque Gabriel não tinha pénis.

Actualmente, o jovem tem namorada e sente-se orgulhoso da sua identidade. Participou inclusive numa campanha de sensibilização da Câmara Municipal de Madrid para a prevenção de crimes de ódio contra transgénero — o seu rosto pôde ser visto numa série de cartazes colocados ao longo da rede de metro da cidade com a frase Soy trans ("Sou trans"). Porque é preciso informar e sensibilizar: "O ódio e a intolerância dos outros são resultado da ignorância das pessoas sobre os transexuais."

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"Após a campanha alguns tipos começaram a escrever comentários de ódio no meu Instagram", diz Gabriel. Fez queixa e hoje estão à espera de julgamento. (1 de Julho de 2016) Susana Vera/Reuters

Tradução de Raquel Grilo