Dakar sem Peugeot encolhe nas dunas do Peru

Armada portuguesa liderada por Paulo Gonçalves acelera com 19 participantes em edição de 10 etapas, dominada pela areia e com a maior participação feminina de sempre.

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O espanhol Carlos Sainz e o francês Stéphane Peterhansel, nos carros, e a “armada” KTM, nas motos, partem como principais favoritos à vitória no 41.º Rali Dakar, prova rainha de todo-o-terreno, que hoje arranca, no Peru. A edição deste ano, que termina a 17 de Janeiro, fica marcada pela desistência de Argentina, Chile e Bolívia em receber a “maratona”, que fica circunscrita ao Peru e a dez dias de competição, com 70% dos cerca de 3.000 quilómetros cronometrados a serem disputados em dunas de areia, o que exige mais navegação e esforço físico.

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O espanhol Carlos Sainz e o francês Stéphane Peterhansel, nos carros, e a “armada” KTM, nas motos, partem como principais favoritos à vitória no 41.º Rali Dakar, prova rainha de todo-o-terreno, que hoje arranca, no Peru. A edição deste ano, que termina a 17 de Janeiro, fica marcada pela desistência de Argentina, Chile e Bolívia em receber a “maratona”, que fica circunscrita ao Peru e a dez dias de competição, com 70% dos cerca de 3.000 quilómetros cronometrados a serem disputados em dunas de areia, o que exige mais navegação e esforço físico.

Ao contrário dos 14 dias de prova que vinham sendo habituais, em 2019 serão apenas dez etapas, duas delas em formato maratona, em que os pilotos não têm acesso à assistência. Ainda assim, o interesse tem sido crescente, com 554 participantes, em 337 veículos à partida, mais 1,7% do que no ano passado. Esta será, também, a edição mais feminina de sempre, com 17 mulheres a alinharem à partida.

Sem a presença da Peugeot, pelo menos de forma oficial, a discussão pela vitória nos automóveis volta a ficar em aberto, com Sainz e Peterhansel, recordista de vitórias, com 13, a serem os principais favoritos, aos comandos de dois Mini. O francês Ciryl Deprés e o espanhol Nani Roma, ambos em Mini, também partem com ambições de lutar pela vitória, assim como Nasser Al-Attiyah, do Qatar, e o sul-africano Giniel de Villiers, da equipa oficial da Toyota.

Destaca-se ainda o regresso do norte-americano Robby Gordon, após dois anos de ausência e o francês Sébastien Loeb, nove vezes campeão mundial de ralis, que participa num Peugeot privado.

KTM favorita

Nas motos, o favoritismo pende para a KTM, que mantém como pilotos o austríaco Mathias Walkner, o australiano Toby Price e o britânico Sam Sunderland, vencedores das últimas três edições, até porque a grande rival da marca austríaca, a Honda, surge com os seus principais pilotos limitados por lesões.

O espanhol Joan Barreda esteve parado praticamente o segundo semestre e o português Paulo Gonçalves foi submetido a uma intervenção cirúrgica de emergência na primeira semana de Dezembro, para retirar o baço, após uma queda na última prova do campeonato nacional de rally raid, no Alentejo.

As “outsiders” Yamaha e Husqvarna não serão adversárias da KTM, que não perde uma edição desde a vitória do francês Richard Sainct pela BMW, em 2000. Nos camiões, o duelo deve centrar-se entre o Kamaz do russo Eduard Nikolaev, vencedor em 2017 e 2018, e o Iveco do Team De Rooy, de regresso após um ano de ausência, liderado pelo holandês Gerard De Rooy, que venceu em 2016.

A 41.ª edição do Rali Dakar começa e termina em Lima e será a primeira vez na história da competição que se desenrola num único país. O Governo peruano terá de investir cerca de 9,8 milhões de euros, mas espera um retorno directo de 52 milhões.

Paulo Gonçalves limitado

Paulo Gonçalves (Honda), Joaquim Rodrigues Jr. (Hero) e Mário Patrão (KTM) concentram as principais esperanças portuguesas de conseguir um bom resultado. Paulo Gonçalves é o cabeça de cartaz da armada portuguesa de 19 elementos. A operação no início de Setembro afectou a preparação para a corrida sul-americana. Por isso, espera "gerir o andamento" ao longo dos 10 dias de competição, em que "tudo pode acontecer".

O “motard” português conta com a ajuda dos antigos adversários Hélder Rodrigues e Rúben Faria, que integram a estrutura da Honda. Os antigos pilotos foram contratados no final de 2018 pela equipa oficial da Honda como “riders advisor” e “team manager”, respectivamente, numa estrutura que contava já com Bianchi Prata como responsável da logística e Marco Reis como mecânico.

"São antigos pilotos, com muita experiência, e que terminaram no pódio. Têm por função apoiar-nos durante a corrida, nalguma dúvida que surja. Participarão mais na preparação do 'road book' e na abordagem à especial seguinte. Somos cinco pilotos e podemos não estar atentos a todos os pormenores, pelo que vão ajudar-nos com a experiência", explicou Paulo Gonçalves.

Hélder Rodrigues participou em 11 edições da prova, entre 2006 e 2017, somando oito vitórias em especiais e dois terceiros lugares, em 2011 e 2012, com a Yamaha. A última participação do antigo corredor foi em 2017, tendo terminado na nona posição. Rúben Faria foi segundo classificado em 2013, pela KTM, contando dez participações, incluindo a do ano passado, em que foi navegador de André Villas-Boas, num Toyota. Paulo Gonçalves explicou que a iniciativa de contratar os antigos pilotos "partiu da própria equipa".

Aos 39 anos, “Speedy”' Gonçalves parte para o seu 11.º Rali Dakar com o objectivo de "terminar", depois de retirar o baço há quatro meses. “Sinto-me fora da forma ideal, mas com determinação para atingir o objectivo", garante, depois de no ano passado ter ficado de fora devido a lesões no ombro e joelho, cenário que esteve quase a repetir-se:

“A queda não foi nada de especial. Levantei-me logo, mas como estava indisposto, fui ao hospital. Fui logo operado”, recorda. Apesar de já ter tido “alta” médica, sabe que terá de evitar acidentes “que possam provocar um grande impacto na zona abdominal”.

"O Dakar nunca é fácil. Sobretudo para quem está fora da forma ideal. Estou a recuperar dos pontos, mas também perdi muito sangue. Foram cerca de três litros. Por isso fui operado de urgência. Nas últimas semanas, a recuperação foi, sobretudo, para repor os níveis de hemoglobina, que ficaram muito baixos", explicou o piloto da Honda, segundo em 2015. O facto de ser uma prova mais curta, com dez etapas em vez das habituais 14, deixa Paulo Gonçalves apreensivo.

"Com certeza que a organização preparou muitas ‘armadilhas’ para manter a corrida em aberto. Grande parte do percurso será disputada em dunas e em areia, pelo que será muito desgastante em termos físicos e mecânicos. Com areia e dunas haverá muita navegação", garante o piloto, de 39 anos.

Rodrigues vence fantasmas

Já Joaquim Rodrigues Jr. (Hero) ainda tem bem presente na memória a queda sofrida logo na primeira etapa da edição de 2018. Um voo de dezenas de metros numa duna não assinalada no “road book” deixou marcas físicas no piloto de Barcelos, que será submetido a uma intervenção cirúrgica quando regressar da América do Sul para retirar os ferros que teve de colocar nas costas.

"No deserto, com o sol, tudo parece plano. Ia a uma velocidade normal quando, de repente, faltou-me o chão e apaguei", recorda. A partir daí teve de enfrentar várias cirurgias à coluna e uma recuperação difícil, regressando à competição em Agosto, no Chile, antes de voltar ao Peru para o Desafio Ruta 40.

"Foi difícil, pois a prova era perto do local onde quase acabou e minha carreira e onde estive perto de ficar numa cadeira de rodas. Mas quis lá voltar por causa disso, por saber que a parte mental num atleta é muito importante e terminei a prova muito contente. Saiu-me um peso enorme de cima dos ombros", admitiu o piloto da Hero.

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Agora, Joaquim Rodrigues está "praticamente a cem por cento" e com "confiança" para voltar a surpreender, como em 2017 quando terminou na 10.ª posição, em ano de estreia.

Por seu lado, Mário Patrão, que no ano passado ficou de fora devido a uma apendicite, teve um ano em cheio com a vitória no Morocco Desert Challenge e o segundo lugar na Taça do Mundo de Bajas. Agora espera melhorar o 13.º lugar conseguido em 2016 e ajudar a KTM a vencer a geral.

"Temos noção de que o Dakar é uma prova extremamente exigente e dura, mas quero ajudar a equipa a renovar o título que já conquistou por 17 vezes. Não creio que por serem menos dias de competição a corrida seja menos dura", referiu. Por isso, pretende "entrar com alguma cautela, sem arriscar demasiado, para terminar a prova com a mota em boas condições", adiantou o piloto de Seia.

Para além dos três “oficiais”, há outros destaques entre as caras nacionais. A começar pelo estreante António Maio (Yamaha), campeão nacional de todo-o-terreno, que há anos tentava um projecto para esta competição. O militar da GNR tem, juntamente com Mário Patrão, repartido o domínio do TT nacional nos últimos anos.

A eles juntam-se ainda o luso-alemão Sebastian Buhler (Yamaha), que também faz a sua estreia no Dakar, tal como Hugo Lopes (KTM) e Miguel Caetano (Yamaha). Já David Megre (KTM) e Fausto Mota (Yamaha) são repetentes. Na categoria de SSV, que integrou a competição pela primeira vez em 2018, participam Miguel Jordão/Lourival Roldan (Can-Am Maverick) e o antigo campeão nacional TT em automóveis Ricardo Porém/Jorge Monteiro (Can-AM Maverick).

Nos carros, Pedro Mello Breyner regressa com um Alta Ruta 4x4 Peru, tendo a companhia de Bruno Martins/Rui Ferreira (Can-Am X3 UTV). Nesta categoria, nota ainda para o navegador Filipe Palmeiro, que acompanha o russo Boris Garafulic, num MINI da X-Raid.

Nos camiões, correm José Martins, num DAF, Paulo Fiúza (mecânico do espanhol Alberto Herrero, num MAN) e Armando Loureiro (navegador do francês Michel Boucou, em Iveco).