“Somos pagos para ter opinião. Andar à roda é uma cobardia”
Miguel Sousa Tavares passou de jornalista para comentador e agora está numa zona intermédia, onde conjuga as duas funções. Olha com desconfiança para Rui Rio e admite que Marcelo, se se candidatasse hoje, precisasse de mais ajuda para ser eleito do que apenas da TV.
Contesta as redes sociais, mas elas não são o melhor meio de chegar aos mais novos?
Todos os anos, as televisões generalistas perdem 200 a 300 mil espectadores para as redes sociais. A nova geração não vê TV. Temos que pensar como podemos ir buscá-la, como podemos segurá-la, se é que algum dia vamos conseguir. Ao mesmo tempo, tenho que ter respeito por aqueles que se foram embora e perceber que tipo de informação precisam; não o que gostam, mas do que precisam.
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Contesta as redes sociais, mas elas não são o melhor meio de chegar aos mais novos?
Todos os anos, as televisões generalistas perdem 200 a 300 mil espectadores para as redes sociais. A nova geração não vê TV. Temos que pensar como podemos ir buscá-la, como podemos segurá-la, se é que algum dia vamos conseguir. Ao mesmo tempo, tenho que ter respeito por aqueles que se foram embora e perceber que tipo de informação precisam; não o que gostam, mas do que precisam.
Explicando o porquê das notícias?
Sim, porque aconteceu e as consequências. Tentar dar-lhes uma visão mais vasta do mundo. Não basta cada um fechar-se no seu casulo, ter as aplicações no telemóvel, ser informado apenas pelas redes sociais, e estar convencido que está informado - porque não está.
Dar cultura geral informativa?
Exacto. Nunca tantos souberam tão pouco sobre tantas coisas. Os miúdos estão sempre com os telemóveis a apitar com alertas de notícias e eles só vêem os títulos do que lhes interessa, não lêem um artigo desenvolvido sobre qualquer assunto.
O primado das redes sociais e as fake news não são também culpa da comunicação social?
É dificil dizer que a comunicação social esteja a contribuir para isso. Julgo é que as fake news e o populismo são uma consequência directa da informação se ter deslocado para as redes sociais, que é uma fonte de informação sem escrutínio, irresponsabilizável, um campo aberto para se publicar o que se quiser, incluindo mentiras. No Brasil, 70% da informação vem das redes sociais, e o que me espantou foi saber que hoje 65% dos portugueses também têm informação a partir das redes sociais. Isso é que é brutal!
Há um excesso de políticos a comentar na TV em detrimento da sociedade civil?
Com certeza que há. Uma coisa é o espaço de debate político bem marcado, que deve existir. Outra são os políticos comentaristas, que me parece uma cena portuguesa, um exagero: há na TV políticos no activo, outros na reserva e outros ainda à espera de dar o salto. Faz falta mais espaço civil, encontrar pessoas diferentes, do mundo empresarial, por exemplo.
Um bom comentador é aquele que dá a sua opinião mas também apresenta as várias versões e faz o público pensar?
Não, isso era o que fazia o Marcelo, que fugia a ter opinião. ‘Este pensa isto, este pensa aquilo, este pensa aqueloutro; pode ser por aqui, por ali, por além.’ O bom comentador é aquele que explica os factos e o contexto e vinca a sua opinião, mas também deixa margem para que os outros o contestem. Um bom articulista e comentador tem que ter a sua opinião. Nós somos pagos para ter opinião. Andar à roda e no fim fugir, por muito controversa que possa ser a opinião sobre um assunto, é uma cobardia, uma hipocrisia mesmo.
Marcelo passou de comentador a Presidente. É a prova do poder que a TV ainda tem?
É difícil dizer. Acho que ele chegou lá por mérito próprio, embora precisasse de uma tribuna que revelasse os seus atributos e a TV foi uma boa para isso. Há três anos, a TV ainda servia para eleger, amanhã não chegaria, tinha que ser uma rede social. Marcelo teria que estar no Facebook ou no Twitter como Trump. Bolsonaro não é eleito pela TV, é o primeiro Presidente brasileiro que despreza as televisões por completo e é eleito através das redes sociais.
A comunicação social tem ajudado a dinamitar o PSD como diz Rui Rio?
Não, de todo. Conheço muito mal Rui Rio mas um dia fiz uma conferência com ele sobre jornalismo e política. Ouvi-o falar e fiquei siderado. Percebi é um defensor da censura. Deixem-no à solta e é um censor. Ele não entende o que é a liberdade de imprensa e por isso vai ter sempre um conflito com a imprensa.
Isso prejudica um partido do arco da governação.
É péssimo. É um caminho suicidário. E até acho que a imprensa é muito branda com ele porque percebe que ele nunca chegará ao poder. Se quisesse exterminá-lo já o teria feito.
Também é branda com António Costa?
Acho que a imprensa lhe acha alguma graça. Como eu acho: é um notável malabarista da política. António Costa herdou coisas complicadas e a de Sócrates é a mais complicada de todas: suceder a um líder que está na prisão é uma coisa difícil.
A imprensa lidou bem com o processo Sócrates?
Na fase da investigação, a imprensa lidou muito mal. Independentemente de ele ser culpado ou inocente, atropelaram-se todas as regras da investigação, aceitaram-se como normais as sistemáticas violações do segredo de justiça.