Olympiacos: O "milagre" que não mascara a crise

Vitória sobre o Milan por 3-1 garantiu passagem na Liga Europa, mas formação helénica tem hegemonia interna em xeque. “Foram mimados pelo sucesso”, acusa jornalista grego.

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Clube ateniense venceu 17 campeonatos nos últimos 20 anos LUSA/GEORGIA PANAGOPOULOU

Na noite de quinta-feira, a situação era difícil: com apenas uma jornada para ser disputada, o Olympiacos estava obrigado a vencer o AC Milan por dois — ou mais — golos para assegurar a passagem aos 16 avos-de-final da Liga Europa. O certo é que, apesar de todas as fichas estarem do lado italiano, a formação comandada por Pedro Martins conseguiu surpreender o Milan e, com um triunfo por 3-1, empurrou os “rossoneri” para fora da competição. O triunfo foi efusivamente celebrado — com direito a invasão de campo — mas não esconde as dificuldades que o emblema ateniense tem enfrentado nos últimos dois anos.

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Na noite de quinta-feira, a situação era difícil: com apenas uma jornada para ser disputada, o Olympiacos estava obrigado a vencer o AC Milan por dois — ou mais — golos para assegurar a passagem aos 16 avos-de-final da Liga Europa. O certo é que, apesar de todas as fichas estarem do lado italiano, a formação comandada por Pedro Martins conseguiu surpreender o Milan e, com um triunfo por 3-1, empurrou os “rossoneri” para fora da competição. O triunfo foi efusivamente celebrado — com direito a invasão de campo — mas não esconde as dificuldades que o emblema ateniense tem enfrentado nos últimos dois anos.

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Adeptos do Olympiacos invadiram o relvado para festejarem passagem GEORGIA PANAGOPOULOU / LUSA

O perene campeão do futebol grego vive dias complicados no capítulo interno. Terceira classificada, a oito pontos do líder PAOK, a formação ateniense não tem conseguido acompanhar a regeneração dos rivais. Os reis e senhores do futebol helénico parecem ter perdido a aura dominadora que lhes valeu 17 campeonatos nas últimas duas décadas. Os adeptos dos restantes clubes regozijam com o mau momento do rival ateniense, felizes por voltarem a ter uma Liga competitiva.

Por sua vez, os associados do Olympiacos têm-se mostrado cada vez mais descontentes com a espiral descendente da formação controlada pelo empresário Evangelos Marinakis. O último técnico vitorioso em Atenas foi Paulo Bento, despedido no final da temporada 2016-17, após ter conquistado o heptacampeonato para o Olympiacos, série vitoriosa que também envolveu Leonardo Jardim, Vítor Pereira e Marco Silva.

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Vítor Pereira conquistou dois títulos ao serviço do clube grego KOSTAS TSIRONIS / REUTERS

O PÚBLICO contactou vários ex-treinadores e jogadores portugueses que passaram pelo clube helénico, mas sem sucesso — cláusulas contratuais impedem antigos funcionários de discutirem publicamente o clube. Conseguimos chegar à fala com Zeca Rodrigues, jogador português que se naturalizou grego e agora alinha pela selecção helénica. O médio representou o Panathinaikos durante seis épocas, nas quais o Olympiacos foi sempre campeão. “Eram a equipa mais forte, economicamente. Tinham sempre um grande encaixe financeiro e conseguiam contratar jogadores de grande dimensão. Acho que foi por isso que foram campeões durante tantos anos”, explica o jogador.

A rivalidade entre os dois emblemas, aliada à hegemonia dos adversários, acrescentava um cariz especial ao “derby dos eternos inimigos”: “Houve jogos que venci, outros em que fui derrotado. Mas era sempre especial ganhar ao Olympiacos. Sentíamos que existia alguma injustiça dentro de campo e queríamos demonstrar que éramos melhores do que eles”.

“Se não for campeão, Pedro Martins não fica no clube”

Para o jornalista do diário Neo Kosmos Gerard Papasimakopoulos, a crise de resultados prende-se com a falta das receitas provenientes da Liga dos Campeões: “O Olympiacos dominava a Liga e estava habituado a esse dinheiro. É a primeira vez que esses fundos não chegam e, como se pensava, o clube não tinha um plano de contingência”. 

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Técnico português soma 16 vitórias em 25 partidas RAUL CARO / LUSA

Nos anos de domínio ateniense, o vencedor do campeonato era o único com acesso directo à Champions. Com o fim do monopólio financeiro do Olympiacos, a Liga grega está a experienciar uma mudança de paradigma, conforme explica Gerard ao PÚBLICO: “Está a haver uma mudança de guarda. O PAOK está a assumir maior controlo e o AEK juntou-se ao clube de Salónica na batalha contra o rival”.

Mas como é que um clube que estava a anos-luz dos adversários cai tão abruptamente? “O Olympiacos foi mimado pelo sucesso. Despedir técnicos campeões tornou-se normal. Quando não jogavam futebol fantástico ou não tinham lideranças de 20 pontos, mandavam o treinador embora”, explica Gerard. De acordo com o jornalista helénico, Pedro Martins é um sério candidato a ser a próxima vítima do proprietário Marinakis: “Até não está a fazer um mau trabalho. Trouxe jogadores que se adaptam ao estilo de jogo, mas não acredito que fique no clube se não vencer o campeonato”.

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Empresário aplicou castigo pesado ao plantel principal ALKIS KONSTANTINIOIS / REUTERS

400 mil euros em castigos  

Evangelos Marinakis é figura conhecida do futebol helénico, pelos métodos motivacionais pouco ortodoxos que utiliza junto do plantel do Olympiacos. Na época transacta, num momento em que ainda restava um mês de competição, dispensou os jogadores e multou a equipa em 400 mil euros.

“Para alguém que vive na Grécia, um gesto destes não é algo fora do normal. Por isso é que o nosso futebol está a ir pela sanita abaixo”, defende Gerard Papasimakopoulos, apontando o dedo à complacência dos adeptos: “Há mais queixas sobre a forma como Marinakis gere o clube mas, para já, está seguro na liderança. Os adeptos costumam virar-se contra a equipa e culpar os jogadores pelos maus resultados”.

O Olympiacos aguarda, agora, o sorteio da Liga Europa, que se realizará na próxima segunda-feira. Não sendo cabeças de série, os gregos têm possibilidades de defrontar o Benfica, terceiros classificados no grupo E da Liga dos Campeões. Para o campeonato, o Lamia será o próximo adversário, com os homens de Pedro Martins obrigados a vencerem para não se afastarem ainda mais da liderança.