O prisioneiro inglês

Quem perde são os ingleses que não têm qualquer estímulo para aprender línguas estrangeiras.

Já não me lembro em que livro inglês dos anos 70 encontrei uma explicação paternalista e condescendente sobre a dobragem de filmes. Segundo o autor só os grandes países de Europa ocidental é que se davam ao luxo de dobrar os filmes. O resultado: falavam mal inglês por estarem sempre expostos à língua pátria.

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Já não me lembro em que livro inglês dos anos 70 encontrei uma explicação paternalista e condescendente sobre a dobragem de filmes. Segundo o autor só os grandes países de Europa ocidental é que se davam ao luxo de dobrar os filmes. O resultado: falavam mal inglês por estarem sempre expostos à língua pátria.

Em contrapartida países pequenos como a Holanda, a Dinamarca e Portugal não têm mercados que justifiquem a dobragem e por isso usam legendas. O resultado: falam bem inglês porque se fartam de ouvir inglês.

Portugal seria assim o único país soalheiro onde toda a gente fala inglês e se podem ver filmes e séries à vontade, porventura aprendendo umas lecas de português por osmose visual, através das legendas.

Nesta perspectiva a importância cultural de um país é inversamente proporcional à fluência em inglês. Na Dinamarca, por exemplo, as livrarias têm mais livros ingleses e americanos do que dinamarqueses. O que me pode parecer muito civilizado pode, com outros olhos, parecer sinal de uma gentil colonização.

Quem perde com isto tudo são os ingleses que não têm qualquer estímulo para aprender línguas estrangeiras. Sentem-se reizinhos porque o inglês é uma língua universal mas em matéria de línguas e culturas conhecer só uma é nem sequer poder compará-la com outra qualquer - e logo não ter uma noção da personalidade da própria língua.

Até as maravilhosas dobragens brasileiras dos filmes da Disney (e os livros aos quadradinhos como o Tio Patinhas) enriquecem a nossa língua e abrem-nos os ouvidos.