André procura Abandonados e fotografa-os. O Blog do Ano é dele

André Ramalho pegou em duas paixões — a fotografia e os edifícios desocupados — e juntou-as num blogue, Abandonados, que abre portas há muito fechadas e desvenda histórias esquecidas. Foi eleito o Blog do Ano .

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Foi numa noite de saída com amigos, nas Caldas da Rainha, que um grupo decidiu visitar uma discoteca abandonada e ver o que lá se passava. Entre eles, em 2014, estava André Ramalho, vencedor do prémio final do Blog do Ano da Media Capital, que ficou fascinado com o edifício e decidiu voltar no dia seguinte, dessa vez já com máquina fotográfica em punho. A partir daí “apanhou-lhe o gosto” e começou a procurar mais “abandonados” e a arquivá-los num blogue com esse mesmo nome, nascido em 2017.

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Foi numa noite de saída com amigos, nas Caldas da Rainha, que um grupo decidiu visitar uma discoteca abandonada e ver o que lá se passava. Entre eles, em 2014, estava André Ramalho, vencedor do prémio final do Blog do Ano da Media Capital, que ficou fascinado com o edifício e decidiu voltar no dia seguinte, dessa vez já com máquina fotográfica em punho. A partir daí “apanhou-lhe o gosto” e começou a procurar mais “abandonados” e a arquivá-los num blogue com esse mesmo nome, nascido em 2017.

Ao telefone com o P3, André, designer de interfaces de 28 anos, explica que a ideia era “divulgar as histórias e imagens dos sítios”, contar o que ia descobrindo. Começou, então, “pelos locais mais fáceis” — as fábricas e edifícios que encontrava na zona onde morava —, mas depois foi procurando “coisas melhores”. Agora, viaja com a namorada, que partilha a mesma paixão, e juntos tiram “um dia para explorar as cidades que visitamos e outro para fotografar abandonados”, conta.

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André Ramalho tem 28 anos e vive nas Caldas da Rainha.

Encontrar e fotografar abandonados “depende da sorte”. “Às vezes vejo dez sítios bons e só consigo tirar fotos a um ou dois; outras vezes consigo tirar a sete.” E, além da sorte, é preciso cuidado. O fotógrafo conta que recentemente sofreu uma lesão, ao trespassar o muro de um palácio em Lisboa, e relembra a importância de não partir para a descoberta dos abandonados sozinho: “Não é só por ter que saltar muros, ou janelas, mas porque muitos dos edifícios têm telhados a cair, o chão pode ceder, entre outras coisas.”

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André Ramalho

Mas como é que se descobre estes sítios esquecidos e que encerram em si tanta história? “Uma das formas é o Google, andar pelo Google Maps à procura de edifícios que pareçam abandonados. Depois tenho de ir ao sítio confirmar se realmente estão. Outra opção é através de grupos no Facebook ou de pessoas que fazem isto e trocar informações”, explica. André aproveita o tempo livre para vasculhar o país e é na zona Norte, mais concretamente no Porto, que tem encontrado mais abandonados.

Foi precisamente no Norte do país que encontrou uma das casas que mais gostou de descobrir — a Casa Azul, como lhe chamou, “porque o interior é maioritariamente azul”. “Dentro da casa tinha um piano, um altar, toda a mobília, muitas molduras. Eu entrei lá e pensei: ‘Isto é brutal!’. Foi a primeira casa que visitei que estivesse em tão bom estado, era mesmo muito bonita.”

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André Ramalho

Um ano e meio depois do início da aventura, “Abandonados” valeu-lhe o prémio Blog do Ano atribuído pela Media Capital, que à terceira edição adoptou o mote “irreverência”. Para o fotógrafo, foi precisamente o conceito do blogue que lhe deu a vitória: “Julgo que o prémio se deveu ao facto de eu ter um blogue diferente na edição em que procuravam algo irreverente". "Acabei por não ganhar na categoria viagens, que era a que tinha concorrido, mas ganhei o prémio final e não estava nada à espera, porque o meu blogue é muito pequeno em comparação com outros que estavam [nomeados]”, refere. “O meu blogue tem umas 40 publicações em um ano e meio. Mas demoro muito tempo a escrever os textos, a editar fotos e a despender de fins-de-semana para viajar a esses locais”, lamenta.

“Estou a pensar lançar um canal no YouTube com a minha namorada, para tentar divulgar estes locais. As pessoas normalmente vêem o resultado final da exploração, que são as fotografias, mas com vídeo talvez seja mais fácil fazer com que sintam o momento em que estamos a explorar, a descobrir e a mexer nas coisas.”