As palavras podres

O fingimento da espontaneidade é um espectáculo atroz. O fingimento da comunicação - um esforço fraudulento para apresentar uma série de respostas feitas como uma conversa aberta - é ainda mais indigno.

Não é só quando se vêem pessoas famosas a serem entrevistadas. É também nas conversas do dia-a-dia: nota-se quando as coisas não estão a ser ditas pela primeira vez.

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Não é só quando se vêem pessoas famosas a serem entrevistadas. É também nas conversas do dia-a-dia: nota-se quando as coisas não estão a ser ditas pela primeira vez.

Mesmo as pessoas que são pagas para repetir as mesmas histórias acabam por cansar-se. A princípio vivem das reacções de quem os ouve, divertindo-se com elas.

Mas chega a um ponto em que se aborrecem e as palavras ganham o artificialismo do sorriso forçado. As histórias, por muito bem contadas e aperfeiçoadas ao longo dos anos, começam a apodrecer.

Quando se conta uma coisa pela primeira vez a frescura vem do entusiasmo com que se procura apresentá-la por uma simples razão: a pessoa que está a contar também quer saber como é que a coisa (uma ideia, uma emoção, um acontecimento) vai ser contada.

Não sabe porque a pessoa que está a ouvi-la contribui muito para isso. A história muda conforme as reacções e palavras do interlocutor. Esta plasticidade só é interessante quando a história ainda está a ser inventada.

Em contrapartida as pessoas habituadas a repetir as mesmas platitudes - e não são só políticos - não estão realmente a ouvir as perguntas que lhes fazemos porque as respostas já estão prontas muito antes de se fazer a primeira pergunta.

O fingimento da espontaneidade é um espectáculo atroz. O fingimento da comunicação - um esforço fraudulento para apresentar uma série de respostas feitas como uma conversa aberta - é ainda mais indigno.

O facto destes fingimentos abundarem não os torna menos tristes ou menos chocantes.