Portugal "precisa de uma estratégia para a inclusão de pessoas com deficiência"

"Há custos enormes para o Estado quando a opção é a institucionalização", defende a coordenadora do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos.

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NéLSON GARRIDO

A coordenadora do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos, Paula Pinto, defendeu este sábado que "o país precisa de uma estratégia para a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade, em alternativa à institucionalização, muitas vezes a única resposta disponível".

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A coordenadora do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos, Paula Pinto, defendeu este sábado que "o país precisa de uma estratégia para a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade, em alternativa à institucionalização, muitas vezes a única resposta disponível".

"A investigação a nível internacional tem mostrado que há custos enormes para o Estado quando a opção é a institucionalização e que devolver as pessoas às comunidades e criar condições para que possam participar, estar incluídas e ser cidadãos de corpo inteiro, acaba por ter muito maior retorno para o Estado", disse Paula Pinto, que falava à agência Lusa durante o seminário internacional sobre Inclusão e Direitos Humanos, organizado pela associação Inovar Autismo, no Pinhal Novo, concelho de Palmela.

"Falta ainda uma real consciencialização desta verdade, que não é apenas uma opinião, mas uma verdade científica comprovada", disse, acrescentando que a possibilidade de as pessoas com deficiência poderem pensar em projectos de vidas, com autonomia face à família, não só lhes permite a possibilidade de terem um papel activo na sociedade como também liberta as famílias", disse Paula Pinto, que apontou a Inovar Autismo como um exemplo neste domínio.

Por um "plano europeu para o autismo"

Se é necessário um plano nacional para a inclusão, na União Europeia é necessário um plano europeu para que haja mais equilíbrio na resposta dos diferentes estados-membros ao problema da inclusão, defendeu Pietro Cirrincione, vice-presidente da Autism Europe, organização que congrega todas as associações na área do autismo a nível europeu.

"Nós precisamos de um plano europeu para o autismo, porque temos alguns países da União Europeia que têm boas práticas e um bom conhecimento do problema do autismo, mas outros ainda estão muito atrasados na aplicação das boas práticas e políticas de inclusão [das pessoas com autismo na sociedade] à luz do conhecimento científico actual. Por isso, precisamos de equilibrar para haver alguma uniformidade", disse.

"Alguns países da União Europeia estão a fazer progressos, noutros estamos a tentar que o façam através de um trabalho em rede. Por exemplo, a [organização sem fins lucrativos] Autism Europe está a encorajar a partilha de experiências. Temos associados de todos os Estados, mas precisamos de harmonização para sermos capazes de mudar a sociedade, para que as necessidades das pessoas com autismo sejam uma prioridade", acrescentou.

Pietro Cirrincione, que saudou o facto de Portugal ser um dos países que está a reflectir sobre o problema da inclusão das pessoas com autismo, defendeu ainda que as "instituições têm de ser actores principais da mudança e ser capazes de exprimir as necessidades e as prioridades das pessoas com autismo".

No seminário, o vice-presidente da Autism Europe participou num painel sobre "Afirmação e Autodeterminação - Percursos de Vida, Percursos de Inclusão", em que cerca de duas centenas de participantes também puderam ouvir o testemunho, na primeira pessoa, de Rita Nolasco, editora de imagem da SIC, e Ricardo Nunes, director da Direcção da Inovar Autismo, que relataram as dificuldades que tiveram de ultrapassar, por serem autistas, para conseguirem uma integração plena na sociedade.

"Sentia que era incapaz, mas não queria que os outros percebessem essa incapacidade. Por vezes, parecia que andava sempre muito atarefada, mas era uma forma de me defender. Até ao dia em que decidi lutar pelos meus objectivos, porque eu queria ter um emprego, queria casar e ter filhos", disse Rita Nolasco, lamentando que, como muitas outras mulheres com síndrome de Asperger, uma forma de autismo menos severa, só sejam diagnosticadas demasiado tarde, muitas já na idade adulta.

"Só soube que era claramente Asperger aos 40 anos", acrescentou Rita Nolasco, salientando que foi este facto que a levou a criar um blogue com esse nome, Claramente Asperger.

Ricardo Nunes, actual director da Inovar Autismo, passou pelas mesmas dificuldades na sua juventude, período em que se sentia bastante isolado e até marginalizado pelos seus colegas.

"No meu caso, tive de mostrar que era capaz de fazer coisas. Mesmo que não as fizesse da mesma maneira, era importante mostrar que era capaz de as fazer, para demonstrar que podia ser incluído na sociedade em que queria ser inserido", disse.

A Inovar Autismo, que organizou o seminário, está a desenvolver vários projectos no âmbito do Instituto Nacional de Reabilitação (INR), todos com o objectivo de construírem alternativas à institucionalização de crianças e jovens, com apoio personalizado e uma preparação prévia dos sectores da sociedade que vão acolher as pessoas com deficiência.