O puzzle da produtividade portuguesa: que caminho tomar?

Aumentar o valor da produção final de um país é indispensável para que a sua população melhore a qualidade de vida ao longo do tempo.

“A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo.” Esta tão famosa frase de Paul Krugman, Nobel da Economia em 2008, introduz um dos tópicos mais debatidos na atualidade assim como um dos grandes obstáculos às economias dos países ocidentais: a estagnação do crescimento da produtividade. Num estudo publicado este ano pela McKinsey & Company sobre este fenómeno, verificou-se que desde os anos 60, tanto nos Estados Unidos como na Europa, o crescimento da produtividade tem vindo a diminuir e que atualmente os valores se aproximam de mínimos históricos. Como parte integrante de um mundo cada vez mais globalizado, Portugal não tem apresentado uma narrativa muito diferente. Segundo dados do Banco de Portugal, o crescimento da produtividade nos últimos anos tem sido muito baixo chegando mesmo em vários anos a ser negativo, como foi o caso de 2017, com um decréscimo de 0,6%.

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“A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo.” Esta tão famosa frase de Paul Krugman, Nobel da Economia em 2008, introduz um dos tópicos mais debatidos na atualidade assim como um dos grandes obstáculos às economias dos países ocidentais: a estagnação do crescimento da produtividade. Num estudo publicado este ano pela McKinsey & Company sobre este fenómeno, verificou-se que desde os anos 60, tanto nos Estados Unidos como na Europa, o crescimento da produtividade tem vindo a diminuir e que atualmente os valores se aproximam de mínimos históricos. Como parte integrante de um mundo cada vez mais globalizado, Portugal não tem apresentado uma narrativa muito diferente. Segundo dados do Banco de Portugal, o crescimento da produtividade nos últimos anos tem sido muito baixo chegando mesmo em vários anos a ser negativo, como foi o caso de 2017, com um decréscimo de 0,6%.

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Mas, primeiro, há que perceber qual a importância da produtividade e qual a razão pela qual Krugman destaca tanto o seu peso no futuro da prosperidade de uma economia. Se um país produz maior quantidade de bens e serviços, o seu PIB aumentará e, por sua vez, quanto maior for este, maior será o PIB per capita (caso a população não cresça exponencialmente). Por sua vez, um maior PIB per capita representa de forma geral uma melhor qualidade de vida da população, caso não haja um nível elevadíssimo de desigualdade. A demonstração disto é que países como Islândia (5.º maior PIB per capita e 2.º menor índice de gini, no mundo) [1] ou Noruega (4.º maior PIB per capita e 9.º menor índice de gini) [2] são considerados, de forma relativamente consensual, países com elevada qualidade de vida. Assim sendo, aumentar o valor da produção final de um país é indispensável para que a sua população melhore a qualidade de vida ao longo do tempo. Este aumento poderá ser feito de duas principais formas: aumento da quantidade de trabalho ou da qualidade do trabalho. Em relação à quantidade de trabalho, atualmente não nos sobra grande espaço para melhorias dado que em 2017, a taxa de desemprego portuguesa se encontrava nos 8,9% e os portugueses trabalham em média 39 horas por semana. Quanto ao aumento da qualidade do trabalho, esta sim é a principal fonte de possíveis aumentos do PIB e prende-se com a capacidade produtiva dos trabalhadores, ou seja, a produtividade. Surge então uma questão: com o desenvolvimento tecnológico que se tem experienciado nesta era digital, o que estará por detrás desta estagnação e como poderá ela ser evitada?

Uma das principais razões é, sem dúvida, o clima de incerteza económica que se iniciou com a crise da dívida e que apenas recentemente se começa a reverter. Neste tipo de contexto económico, as expectativas sobre o futuro são negativas e o consumo diminui, o que por sua vez leva a um nível baixo de investimento privado. Portanto, mesmo havendo tecnologia e métodos de produção avançados disponíveis no mercado, as empresas não investem nesses métodos e a produtividade para de crescer. Esta análise é corroborada pelo facto de a formação bruta de capital fixo, uma medida de investimento em maquinaria, equipamento e materiais, ter diminuído bastante em termos de percentagem do PIB, apenas recuperando recentemente chegando aos 16,2%, ainda assim, um valor muito inferior ao de países como Alemanha (20,3%), Espanha (20,6%) e mesmo Polónia (17,7%). Já a média da UE encontra-se também acima nos 20,1%.

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Já o consumo recuperou relativamente bem após a crise, parcialmente devido às políticas de incentivo ao consumo praticadas pelo Governo. No entanto, e agravando o problema abordado, grande parte foi canalizado para bens importados, visível pelo recente deterioramento do saldo da balança de bens [3]. Este mostra-nos mais uma vez que a procura interna não é suficientemente forte para levar as empresas a investir mais e que as empresas exportadoras também não exportam suficiente para cobrir o aumento das importações. Desta forma, compreende-se que o saldo de 3511,1 milhões de euros [4] da balança comercial em 2017 seja um valor bastante enganador, dado que o saldo positivo se deve maioritariamente à contribuição do setor dos serviços, sobretudo o turismo. Infelizmente, o setor do turismo não beneficia de forma tão direta do avanço tecnológico e, desta forma, a sua produtividade é bastante baixa enquanto as empresas exportadoras de bens, as quais enfrentam padrões de competição elevados no exterior, apresentam mais frequentemente alta produtividade.

Para já, no entanto, Portugal encontra-se numa boa fase de recuperação económica, tendo apresentado em 2017 uma taxa de crescimento do PIB de 2,7% [5]. Os índices de sentimento económico, 113,2 [6], e confiança do consumidor, -0,6 [7], apresentam também valores altos em comparação com a última década.

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Contudo, este crescimento apresenta uma tendência de abrandamento, e se continuarmos com os baixos valores de investimento e exportação referidos anteriormente, as perspetivas de crescimento futuro não se apresentam muito favoráveis. A implementação de políticas que promovam o consumo de bens nacionais ou que apoiem empresas exportadoras poderão, contudo, contribuir para que o cenário se reverta. Algumas das propostas a este nível poderão passar pela redução do IRC a empresas que apresentem uma forte presença no estrangeiro, promoção de acordos comerciais e parcerias com países onde o potencial de exportação seja elevado e criação de programas que facilitem o acesso a financiamento por parte de empresas que tenham potencial de exportação mas não sejam capazes de suportar os custos de entrar noutros mercados. Acima de tudo, há que relembrar que o futuro está nas nossas mãos e temos atualmente um tecido empresarial com potencial para impulsionar a economia no futuro. Por vezes, é apenas preciso um empurrãozinho do Estado para se atingir o máximo potencial. Até que isso aconteça, fica a mensagem: “Investimento e exportação é o caminho de ação.”

[1] Dados The World Bank
[2] Dados The World Bank
[3] Dados Banco de Portugal/PORDATA
[4] Dados Banco de Portugal/INE/PORDATA
[5] Dados INE
[6] Dados Banco de Portugal
[7] Dados Banco de Portugal

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico