Os Vougas têm quase 100 anos de história e não param de navegar

A única classe de vela portuguesa ganhou um novo impulso. São cada vez mais aqueles que se rendem à beleza deste barco criado na Costa Nova, local onde este fim-de-semana decorre mais um campeonato nacional.

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Nasceu na Costa Nova, em Ílhavo, no final dos anos 20 do século passado, mas não tardou muito a chegar a outros pontos do país, em especial a Lisboa. Foi um dos barcos adoptados pela Mocidade Portuguesa para o treino de vela, razão pela qual chegou a registar uma forte actividade no Rio Tejo. Aquela que é a única classe de vela com origem portuguesa inscrita na Federação Portuguesa de Vela, sobreviveu a anos de declínio e tem vindo a revitalizar-se – em especial nos últimos 11 anos. Testemunho disso é o campeonato nacional que decorre este fim-de-semana no canal de Mira, na Costa Nova. Mais de 30 velejadores, a bordo de 12 barcos Vouga, irão marcar presença na prova que tem um propósito que vai além do espírito competitivo: contribuir para preservar a embarcação desenhada, há quase 100 anos, por um mestre da região, António Gordinho.

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Nasceu na Costa Nova, em Ílhavo, no final dos anos 20 do século passado, mas não tardou muito a chegar a outros pontos do país, em especial a Lisboa. Foi um dos barcos adoptados pela Mocidade Portuguesa para o treino de vela, razão pela qual chegou a registar uma forte actividade no Rio Tejo. Aquela que é a única classe de vela com origem portuguesa inscrita na Federação Portuguesa de Vela, sobreviveu a anos de declínio e tem vindo a revitalizar-se – em especial nos últimos 11 anos. Testemunho disso é o campeonato nacional que decorre este fim-de-semana no canal de Mira, na Costa Nova. Mais de 30 velejadores, a bordo de 12 barcos Vouga, irão marcar presença na prova que tem um propósito que vai além do espírito competitivo: contribuir para preservar a embarcação desenhada, há quase 100 anos, por um mestre da região, António Gordinho.

“São barcos muito elegantes e bonitos. Também são competitivos, mas a sua beleza é inquestionável”, evidencia David Calão, presidente da Associação Portuguesa da Classe Vouga (APCV). Com um comprimento entre 6 a 6,25 metros, mastro e duas velas (área vélica total de 24 metros quadrados), o Vouga original era totalmente construído em madeira. Mais recentemente, começou a permitir-se que o casco seja de fibra de vidro, mas com essas regras de ouro: “o convés, o mastro, a retranca e a cana do leme, têm de ser de madeira”, revela Delmar Conde, construtor naval ilhavense, que se rendeu por completo ao pequeno veleiro nascido na Costa Nova.

“Dá-me muito prazer construir Vougas”, afiança o construtor que tem uma marca própria de veleiros (DC) mas que nos últimos anos tem estado mais concentrado no modelo histórico. “E espero continuar a fazer mais porque gosto mesmo muito”, realça. O preço base de um Vouga anda à volta dos “15 mil euros, mas depois tudo depende do tipo de velas e outras especificidades que o cliente quiser colocar no barco”, desvenda o construtor que é também velejador. De barcos da classe cruzeiro e de Vougas, claro está.

“É um barco muito cómodo, seguro, que cativa o utilizador. E muito rápido”, descreve, enquanto prepara o seu Maria Mar para participar no campeonato deste fim-de-semana. “É o nome das minhas duas netas. Uma chama-se Maria e a outra é Maria Mar”, conta. 

Pronto para chegar em último

Quem também já se perdeu de amores pelos Vougas foi António Oliveira, empresário aveirense e velejador, que não tem um, nem dois, mais sim quatro barcos desta classe. “Sou um grande apaixonado pelos Vougas e quando aparecem oportunidades não resisto”, admite, sem esconder que, com esta aposta, além de alimentar o seu gosto pessoal também ajuda a salvar alguns barcos e a preservar a classe. “O último que comprei tem 70 anos, chama-se Jezebel, e estava no Tejo”, relata, acrescentando que foi um dos barcos que esteve ao serviço da antiga Brigada Naval.

É no Jezebel que António Oliveira irá disputar o campeonato deste fim-de-semana, pronto para “quase de certeza, chegar em último”. “Estes barcos mais antigos são mais lentos que os novos”, justifica, a partir da experiência que tem vivido, igualmente, com o Celta, o seu outro barco histórico e que também irá participar na prova – com uma tripulação da Universidade de Aveiro. As suas esperanças estão depositadas nos seus dois outros barcos, já da nova geração de Vougas e que serão tripulados por jovens velejadores: “O H2OLI vai com a Ana Rocha, que é a campeã de Vougas em título, e o OLI vai com tripulantes amigos dela”. 

E quer veja ou não uma das embarcações a vencer o campeonato nacional deste ano, António Oliveira promete continuar a disputar o campeonato da revitalização da classe Vouga. “Quero mandar construir um novo, mas de forma original, ou seja, com o casco em madeira”, revela o empresário, a propósito do “investimento” que tem projectado para o próximo ano.

“Qualquer dia, até já posso realizar um campeonato só entre a minha frota”, aponta, em jeito de brincadeira.