Um homem generoso que não perdoava traições

Era um homem jovial e generoso que escolhia os seus amigos e que não gostava de perdoar (não sei mesmo se as chegava a perdoar…) traições e infidelidades.

Falei a primeira vez com o Sr. Pedro Queiroz Pereira (de quem era fã na juventude dos nossos anos sessenta, enquanto PQP piloto de automóveis), depois da reprivatização da então Portucel/Soporcel e fui descobrindo nele um homem jovial e generoso que escolhia os seus amigos e que não gostava de perdoar (não sei mesmo se as chegava a perdoar…) traições e infidelidades.

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Falei a primeira vez com o Sr. Pedro Queiroz Pereira (de quem era fã na juventude dos nossos anos sessenta, enquanto PQP piloto de automóveis), depois da reprivatização da então Portucel/Soporcel e fui descobrindo nele um homem jovial e generoso que escolhia os seus amigos e que não gostava de perdoar (não sei mesmo se as chegava a perdoar…) traições e infidelidades.

O tema florestal foi por mim abordado nalgumas ocasiões em que nos encontrámos em privado e perante as minhas eventuais dúvidas e sugestões (com que bastas vezes concordou) sempre soube ouvir e lembrar o seu motto: “Se eu soubesse e quisesse gerir as minhas empresas, fá-lo-ia pessoalmente. Ao escolher os seus presidentes executivos, entendo que devem ser eles a tomar as decisões do dia-a-dia e que devem ser integralmente deles, as responsabilidades dos sucessos e insucessos que venham a ter”.

Mas nem por isso deixei de sentir nele o desânimo natural perante a incompreensão (que tantas vezes partilhámos) da opinião publicada, relativamente ao modelo de negócio (baseado no eucalipto) que está na base do grupo Semapa. Dizia-me ele: “continuar com entusiasmo o trabalho pioneiro do meu Avô na Companhia Portuguesa de Celulose, em Cacia, investir e reinvestir no maior projecto industrial português que se baseia numa cadeia de valor nacional e que gera produtos exportáveis e competitivos com o maior valor acrescentado nacional, ter colaboradores altamente qualificados e motivados, dar valor a terras marginalmente produtivas, incentivar uma investigação florestal séria e independente, fazer questão de adoptar e exigir as melhores práticas florestais do País, bater-me (colocando dinheiro onde outros colocam palavras) pela Sustentabilidade e pelo futuro e… acordar de manhã e ler num qualquer jornal, notícias que me apontam levianamente, como uma pessoa promotora de “crimes ambientais”, dá-me vontade de vender tudo e de me ir embora desta terra…”.

Talvez por isso se batesse tanto pela necessidade de fomentar o contraditório nos meios de comunicação social…tendo muitas vezes compreendido a minha irritação perante a passividade dos “institucionalmente ofendidos” e dos “eticamente obrigados”…

Era um homem de honra e de carácter: recusou-se – numa sessão de honra do WBCSD em que era co-anfitrião – a sentar-se na mesma mesa com o CEO da cimenteira suíça que o traíra no momento da privatização da CIMPOR (com o conluio do então governo português), viu barrado o seu acesso à EDP aquando da sua privatização e viu recusada a sua proposta de manter portuguesa a CIMPOR, a mais internacional das empresas nacionais, sempre se focando em Portugal e no investimento produtivo e não escondendo o que pensava sobre o presidente do BES ou sobre quem quer que fosse que com ele interagisse. Meses após a aquisição da Torralta pelo grupo SONAE teve lugar uma reunião em Tróia a que assisti, na qual estiveram presentes o Eng Belmiro de Azevedo e o próprio PQP. A certa altura o eng. Belmiro virou-se para PQP e disse-lhe: “Tudo isto podia ser mais fácil se você tirasse dali aquele mamarracho! (referindo-se à presença da Secil na paisagem) ”. PQP retorquiu de pronto: “Pode ser um mamarracho mas se não fosse a presença dele ali, talvez você não tivesse comprado isto (Tróia) tão barato!”. A sala riu. Belmiro sorriu e não respondeu.

Este é um pequeno contributo para que se conheça este Homem que, sem qualquer motivo que não fosse uma amizade sincera, disse aos presentes aquando da minha saída da Empresa: “O eng. João Soares (sempre insistiu em tratar-me assim em público) tem nesta casa entrada permanente e um gabinete onde poderá trabalhar, sempre que o entender, mesmo depois de nos ter deixado”. Respondi-lhe, pessoalmente e depois por escrito, que ficava muito honrado mas que só lá iria enquanto ele quisesse ou quando me chamasse.

Não sonhava eu que isso iria terminar tão cedo…