Campeões olímpicos e mundiais entre os atletas suspeitos de doping

Unidade de Integridade do Atletismo revelou detalhes dos processos disciplinares que envolvem mais de 100 atletas.

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Ruth Jebet é uma das atletas investigadas por suspeitas de doping Reuters/Denis Balibouse

Num esforço de transparência, a Unidade de Integridade do Atletismo (AIU) revelou nesta sexta-feira detalhes sobre os 120 casos com os quais tem lidado desde Abril do ano passado, quando foi criado pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF) para lidar com casos de doping e corrupção na modalidade. Entre a informação revelada está a confirmação oficial de que Ruth Jebet, a queniana que compete pelo Bahrain que é campeã olímpica em 2016 e até esta esta sexta-feira recordista mundial dos 3000m obstáculos, testou positivo num controlo quanto à presença de Eritropoietina (EPO).

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Num esforço de transparência, a Unidade de Integridade do Atletismo (AIU) revelou nesta sexta-feira detalhes sobre os 120 casos com os quais tem lidado desde Abril do ano passado, quando foi criado pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF) para lidar com casos de doping e corrupção na modalidade. Entre a informação revelada está a confirmação oficial de que Ruth Jebet, a queniana que compete pelo Bahrain que é campeã olímpica em 2016 e até esta esta sexta-feira recordista mundial dos 3000m obstáculos, testou positivo num controlo quanto à presença de Eritropoietina (EPO).

A fundista de origem queniana é um entre os 109 casos ainda activos na AIU – 11 processos já foram encerrados e as suspensões cumpridas. Do total de 120, quase todos (118) respeitantes a violações de doping, 103 são de atletas de elite que competiram internacionalmente e que conquistaram entre si 85 medalhas em Jogos Olímpicos e Mundiais de atletismo. E é uma mudança em relação ao que era feito no passado, em que os processos só eram revelados pela IAAF depois de finalizados, resultassem em suspensões ou absolvições. Agora, todos os processos serão divulgados tanto no site da AIU como na conta de Twitter.

Nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016, Jebet, então com apenas 19 anos, brilhou na final dos 3000m obstáculos, conquistando a medalha de ouro para o Bahrain com a segunda melhor marca de sempre. Pouco mais de uma semana depois, a atleta africana correu na etapa de Paris da Liga Diamante e estabeleceu um novo máximo mundial da distância, tirando mais de seis segundos ao anterior recorde (entretanto, nesta sexta-feira, o recorde foi batido pela queniana Beatrice Chepkoech?).

Para além de Jebet, estão igualmente na lista o russo Ivan Ukhov, campeão olímpico do salto em altura nos Jogos de Londres em 2012, a velocista ucraniana Olessia Povh, especialista em estafetas, ou a também queniana que, tal como Jebet, também corre pelo Bahrain, Violah Jepchumba, a terceira melhor de sempre na meia-maratona. Segundo os números revelados pela AIU, grande parte destes casos (57) envolvem atletas russos que já tinham sido denunciados no relatório McLaren – a IAAF mantém, aliás, a suspensão à Rússia, mas permite a participação de atletas russos com o estatuto de “neutros”. Entre os casos de doping, 73 dizem respeito a agentes anabolizantes, enquanto 20 estão relacionadas com o passaporte biológico.

Para além de atletas nesta lista estão também dirigentes e agentes. Um nome sonante entre os dirigentes é o de Frankie Fredericks, o ex-velocista da Namíbia, que está suspenso por suspeitas de corrupção no processo de atribuição dos Jogos de 2016 ao Rio de Janeiro. Entre os agentes, está igualmente suspenso Robert Wagner, agente ligado ao actual campeão mundial dos 100m, o norte-americano Justin Gatlin. O austríaco caiu numa cilada montada pelo jornal britânico Daily Telegraph e admitiu a jornalistas que podia arranjar hormonas de crescimento e testosterona a troco de 250 mil dólares.

“Estamos no início da nossa missão de restaurar a reputação do atletismo e ainda há muito trabalho a fazer. O número de casos reflecte os desafios que temos enquanto desporto, mas também o facto de que estamos dispostos a aceitar o desafio e expulsar os batoteiros do atletismo”, explica Brett Clothier, o australiano que foi nomeado em Junho do ano passado como o líder da AIU. “Desde o início que a administração da AIU decidiu que este era o melhor caminho para mostrar transparência e empenho no que nós estamos a fazer”, acrescenta Clothier, citado pela agência Reuters.

Clothier garante que a actividade deste organismo, que funciona de forma independente em relação à IAAF, irá aumentar: “Podem acreditar que vamos continuar a fazer as coisas sem medo. Um dos aspectos importantes na formação da nossa equipa foi o de incluir unidades de investigação com especialistas que podem expandir a nossa actividade em todos os continentes. Queremos desmascarar as redes de doping.”