Os hackers também param para ver o jogo

Dados mostram que o número de ciberataques tende a diminuir no começo e no final de grandes competições desportivas. Pelo meio, a história é outra.

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Este ano, as preocupações com os ciberataques começaram muito antes do apito inicial NFS - Nuno Ferreira Santos

O Mundial 2018 na Rússia já arrancou e, com a competição, muitas preocupações sobre a segurança digital dos jogadores, dos fãs nos estádios, e dos espectadores com os olhos colados a ecrãs em todo o mundo. Os hackers, porém, também param para ver o jogo. Em anos anteriores, dados recolhidos pela empresa de Internet norte-mericana Akamai, mostram que o número de ciberataques diminui sempre no começo das grandes competições de futebol quando ainda não há um vencedor definido.

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O Mundial 2018 na Rússia já arrancou e, com a competição, muitas preocupações sobre a segurança digital dos jogadores, dos fãs nos estádios, e dos espectadores com os olhos colados a ecrãs em todo o mundo. Os hackers, porém, também param para ver o jogo. Em anos anteriores, dados recolhidos pela empresa de Internet norte-mericana Akamai, mostram que o número de ciberataques diminui sempre no começo das grandes competições de futebol quando ainda não há um vencedor definido.

"Contrariamente a eventos como os Jogos Olímpicos, em que o número de ciberataques atinge um pico durante a cerimónia de abertura, durante os mundiais acontece o oposto", diz Patrick Sullivan, director de tecnologia e estratégia da Akamai, ao PÚBLICO. "Não sabemos o motivo, mas especulamos que seja porque os atacantes também estão a ver o Mundial."

O efeito é temporário. Com o avançar das partidas, os cibercriminosos voltam ao trabalho e, tal como noutros megaeventos desportivos, aproveitam a azáfama das pessoas para seguir os passos e apostar nas suas equipas favoritas online para as enganar. “Ataques vindos dos países das equipas derrotadas sobem muito acima do normal. Geralmente, com o objectivo de eliminar notícias sobre as equipas vencedoras”, diz Sullivan. “Também é comum que os activistas utilizem várias formas de ciberataques para protestar sobre a equipa anfitriã.”

Desde o anúncio de que a Rússia iria receber o Mundial 2018 que notícias sobre os problemas do país têm feito correr muita tinta na imprensa: desde a condenação da actividade do país na Crimeia e na Ucrânia, a acusações sobre “fábricas de trolls criadas para interferir nos processos democráticos em todo o mundo ao manipular a informação que circula nas redes sociais.

A isto soma-se uma longa história de ataques de cibersegurança nos mundiais de futebol. Em França, em 1998, um jogo de computador infectado com um vírus pedia às pessoas para votarem na equipa vencedora e, em troca, apagava toda a informação que tinham no disco rígido. Quatro anos mais tarde, no Mundial na Coreia do Sul, circulou um vírus disfarçado de calendário com actualizações ao minuto. Na África do Sul, em 2010, havia vários sites de apostas que infectavam o computador do utilizador e depois pediam dinheiro para o desbloquear.

Desta vez, as preocupações começaram muito antes do primeiro apito, com os governos dos EUA, do Reino Unido, e da Austrália, a revelar receios de ataques vindos de entidades governamentais. Para evitar problemas, a Federação Australiana de Futebol é uma de muitas a utilizar a sua própria ligação de Internet móvel, os jogadores dos EUA deixaram todos os aparelhos electrónicos em casa (ou, pelo menos, foram avisados para o fazer pelos serviços de inteligência do país), e programas de encriptação foram instalados nos aparelhos dos jogadores ingleses.

Tal como no começo dos jogos, porém, os ciberatacantes fazem uma pausa para a final da competição. “Os atacantes em todo o mundo parecem parar os ataques durante os últimos jogos”, lê-se num relatório da empresa Akamai sobre o Mundial de 2014, no Brasil. “Nessas duas horas e meia, a guerra do mundo digital faz uma pausa enquanto o mundo pára para ver o jogo.”