O cacimbo de Sintra

Dediquei este mês de Junho à campanha anti-mosca. Não uso o plural porque nunca há mais de uma. Matam-se individualmente à medida que aparecem.

Uma mosca está perdida no gélido cacimbo de Colares. Os andorinhões foram apanhar moscas para Cascais onde o sol brilha como se estivéssemos em Junho.

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Uma mosca está perdida no gélido cacimbo de Colares. Os andorinhões foram apanhar moscas para Cascais onde o sol brilha como se estivéssemos em Junho.

Em Sintra a melancolia chama-se webcams.

Depois de queimar os olhos com as imagens vindas de Lisboa, de Odivelas e de toda a parte por onde nunca viveu Byron, o passatempo é encontrar outra terra deitada abaixo pelo nevoeiro. Será que na Ericeira...não, está sol. Nas Caldas talvez? Não...experimenta o Gerês.

O diabo aproveita o tempo que sobra de não ir à praia. Dediquei este mês de Junho à campanha anti-mosca. Não uso o plural porque nunca há mais de uma. Matam-se individualmente à medida que aparecem.

É bom viver com zero moscas. Dura meia-hora no máximo. Chega outra mosca. Não sei como entram. Dão comigo em doido. Tapei os buracos das fechaduras, nunca abro uma janela, entro e saio pelas portas como se estivesse numa farsa de Feydeau: não dou tempo à mosca para partilhar o meu ingresso, agito os braços para ser ainda menos convidativo.

Mato-as com um pano de polir copos. Elas bem se podem gabar de ver 360 graus - a ponta do pano é tão rápida que não chega a surpreendê-las. Ainda não começaram a fremir a probóscide de espanto e já estão mortas.

Só vem uma ao enterro da anterior e dedico-me logo a ela. Às vezes consigo convencê-las a ir passear para o vidro das janelas. Gostam de sentir a frescura do cacimbo nas patinhas. É o último prazer que levam desta vida.

Que fizeste este Verão? Olha, apanhei moscas e percebi Schubert.