Espanha tem talento mas não tem o melhor do mundo

Três golos de Cristiano Ronaldo garantiram o empate a Portugal no arranque do Mundial. Numa partida emocionante, com seis golos, valeu a vontade do madeirense para contrariar a fúria espanhola.

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O que é que fez vir de Moscovo o pequeno Vova Pesotsky e o seu pai? O que fez viajar de Deli, na Índia, os colegas de trabalho Sudy Curatui e Natush Relhan? E muitos outros adeptos do planeta futebol que aterraram em Sochi esta sexta-feira? Cristiano Ronaldo. O artista, o melhor do mundo, que pode ter dado um passo gigantesco para manter a coroa. Três golos da super-estrela portuguesa evitaram a derrota da selecção nacional frente à Espanha, na partida inaugural do Mundial da Rússia que foi também um hino ao desporto que une o globo.

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O que é que fez vir de Moscovo o pequeno Vova Pesotsky e o seu pai? O que fez viajar de Deli, na Índia, os colegas de trabalho Sudy Curatui e Natush Relhan? E muitos outros adeptos do planeta futebol que aterraram em Sochi esta sexta-feira? Cristiano Ronaldo. O artista, o melhor do mundo, que pode ter dado um passo gigantesco para manter a coroa. Três golos da super-estrela portuguesa evitaram a derrota da selecção nacional frente à Espanha, na partida inaugural do Mundial da Rússia que foi também um hino ao desporto que une o globo.

E o número três é para reter neste encontro de grandes sensações. Bastaram três minutos para Ronaldo inaugurar o marcador, naquele que é o terceiro golo mais rápido da história da competição. Três minutos demorou a Espanha a dar a volta ao marcador, na segunda parte (55’ e 58’), quando perdia por 2-1. E três minutos faltavam para o final do tempo regulamentar quando surgiu o derradeiro golpe de teatro de CR7 a empatar o derby ibérico.

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No Estádio Olímpico de Fisht, com 44 mil espectadores nas bancadas, sentiram-se pouco as ondas de choque do terramoto espanhol desencadeada pela saída turbulenta do seleccionador Julen Lopetegui. Não pairou o fantasma do suicídio sportinguista em Lisboa, que deixou alguns jogadores de Fernando Santos provisoriamente sem clube. Em Sochi jogou-se à bola. E neste particular, a selecção espanhola é sinónimo de arte.

Sem dúvida é uma equipa melhor do que a portuguesa colectiva e individualmente. Tem uma qualidade técnica impressionante e volta a lembrar a "roja" que deslumbrou o mundo entre 2008 e 2012, quando conquistou dois títulos europeus e um mundial pelo meio. Tudo sob a batuta de um Iniesta que continua, aos 34 anos, a ser um desequilibrador que decide uma partida a qualquer momento. Mas a lista de artistas é longa e estende-se ao banco.

Mas não tem Cristiano Ronaldo. E isso fez toda a diferença nesta partida. O português empurrou literalmente Portugal e esteve a léguas de todos os seus companheiros. Sozinho provocou o erro de Nacho, seu companheiro no Real Madrid, que se estreou em partidas oficiais. Derrubou o madeirense dentro da sua área e a cobrança do penálti foi uma formalidade para o melhor do mundo (3’).

Mas não foi só Nacho a tremer com Ronaldo. O experiente guarda-redes De Gea ofereceu um grande frango ao remate do atacante à entrada da área quando deixou escapar para as redes uma bola que parecia controlada. Um “pollo” como dizem os espanhóis em cima do intervalo (44’), que voltou a dar vantagem ao conjunto de Fernando Santos, que se deixara empatar vinte minutos antes, com um golo de Diego Costa, precedido de falta violenta sobre Pepe, que o vídeoárbitro não sancionou, apesar dos protestos portugueses.

A fúria espanhola, que saiu para o intervalo em desvantagem mas com uma posse de bola de 61%, fez-se sentir pouco depois do reatamento. Rondou a área portuguesa como um lobo esfomeado até surgirem dois golpes que foram quase fatais para Portugal. Diego Costa bisou à boca da baliza, após um livre de David Silva e o improvável Nacho redimiu-se com um potente remate de primeira que ainda embateu no poste antes de entrar. Patrício nada podia fazer.

A "roja" colocava-se pela primeira vez em vantagem no marcador e entrava na sua zona de conforto. Os espanhóis continuaram a circular a bola com a qualidade e o estilo que se lhe reconhece e Portugal ficava a ver e a correr atrás dela, recuando perigosamente. Fernando Santos apostou tudo, fazendo entrar João Mário (68’), Quaresma (69’) e André Silva (80’) para procurar mais presença na área. Mas voltou a ser a pérola portuguesa a fazer levantar um estádio em forma de concha nas margens do mar Negro.

Provocou a falta de Piqué em zona frontal. Agarrou na bola e cobrou o livre directamente ao canto superior esquerdo da baliza de De Gea. O melhor guarda-redes da Premier League acompanhou a bola com os olhos e irá contar o que viu a José Mourinho, seu treinador no Manchester United. E pior na fotografia não ficou, porque CR7 falhou por centímetros o golo do triunfo num cabeceamento já nos descontos. Uma única falha que ninguém irá recordar.

O empate ibérico, entre os dois grandes candidatos do Grupo B aos oitavos-de-final, deixou ainda particularmente feliz outro português. Carlos Queiroz que lidera inusitadamente a classificação, após a vitória do seu Irão contra Marrocos (1-0). Ele que nem tem uma boa relação com Cristiano Ronaldo.

O pequeno Vova Pesotsky, de 10 anos, regressou a Moscovo com a sua camisola de Portugal com o número 7 mais feliz do que nunca. Tem já bilhetes para os próximos dois jogos.