Jogadores do Sporting em debandada

Patrício e Podence já saíram e há mais rescisões na calha até segunda-feira. Holdimo pede contenção aos futebolistas e avança com acção para destituir a administração da SAD.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

O fracasso das negociações entre o Sporting e o Wolverhampton para a transferência de Rui Patrício abriu uma nova e mais gravosa frente de batalha para o presidente do clube, Bruno de Carvalho, na já de si grave crise que o clube atravessa.

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O fracasso das negociações entre o Sporting e o Wolverhampton para a transferência de Rui Patrício abriu uma nova e mais gravosa frente de batalha para o presidente do clube, Bruno de Carvalho, na já de si grave crise que o clube atravessa.

O novo adversário é a Gestifute, do empresário Jorge Mendes, e as consequências já estão a fazer-se sentir. Rui Patrício e Podence rescindiram os contratos com a SAD (Sociedade Anónima Desportiva) leonina, alegando justa causa — e outros jogadores deverão seguir o mesmo caminho nos próximos dias.

Um desacordo de última hora em relação aos valores envolvidos nas negociações com o clube inglês, treinado por Nuno Espírito Santo, anulou um desfecho que estava praticamente selado. Os “leões” exigiram mais dois milhões de euros ao Wolverhampton e recusaram fazer um acerto de contas com a Gestifute, relativo à renovação do contrato de Adrien Silva, em 2012.

Inconformado com o desfecho das negociações, Rui Patrício avançou para a rescisão unilateral. Horas depois foi a vez do jovem Daniel Podence, de 22 anos, o único futebolista do plantel sportinguista agenciado por Jorge Mendes (Rui Patrício não faz parte, para já, do portfólio da Gestifute). Mas, segundo o PÚBLICO apurou junto de alguns empresários, outros futebolistas deverão seguir o mesmo caminho até segunda-feira, nomeadamente William e Bruno Fernandes.

Bruno de Carvalho tentou sensibilizar Rui Patrício (e outros futebolistas do clube), numa conferência de imprensa ao final da manhã, pedindo ao guarda-redes para reflectir melhor e voltar atrás na decisão. “Tenho pena que o Rui não tenha falado com a sua entidade patronal para perceber o que se está a passar, para perceber que está a ser manipulado por coisas que nada têm a ver com ele.”

Depois, o presidente dos “leões” acusou Jorge Mendes de ser responsável pelo fracasso das negociações com o Wolverhampton, ao querer ficar com sete dos 18 milhões envolvidos no acordo. Algo que foi prontamente negado pela Gestifute através de um comunicado. “O referido diferendo relaciona-se com a intervenção da Gestifute na renovação do contrato do jogador Adrien Silva, a qual teve lugar também a pedido do Sporting [tal como a mediação da transferência de Rui Patrício para Inglaterra], em 2012, numa situação em que o mesmo Sporting corria o risco de o jogador ficar livre (à semelhança, aliás, do que ocorreu na mesma altura quanto ao próprio Rui Patrício) ”, garantiu a empresa de agenciamento e gestão de carreiras.

Ainda segundo a Gestifute, foi Bruno de Carvalho o único responsável pelo fracasso das negociações com o Wolverhampton, ao exigir mais dois milhões de euros, para além dos 18 milhões acordados, o que foi prontamente recusado pelos ingleses: “A Gestifute tudo fez para conseguir obter o acordo de um clube inglês para a transferência do jogador Rui Patrício pelos 18 milhões de euros pretendidos pela Sporting SAD, tendo o jogador, satisfeito com esta possibilidade, realizado exames médicos no dia de ontem [quinta-feira], com autorização da Sporting SAD.”

A proposta do Wolverhampton surgiu após o Nápoles ter desistido da contratação do guarda-redes internacional português, que não interessaria ao novo treinador da equipa, Carlo Ancelotti. Enquanto estiveram a negociar, os italianos ofereceram 18 milhões de euros aos “leões”, pagos em 24 meses, mais dois milhões em objectivos e 15% de mais-valias numa futura transferência. Bruno de Carvalho pretendia antecipar o pagamento junto de uma instituição bancária, pagando uma taxa de juro entre 2% e 4%.

Menos atractiva era a proposta do Wolverhampton: 18 milhões de euros (sem avançar valores por objectivos), a pagar em 36 meses e com 10% numa futura mais-valia. Os “leões” aceitaram os termos, mas a taxa de juro pedida pela banca para antecipar esta receita subia para os 10%/12%, o que implicava que o Sporting tivesse de pagar aproximadamente 1,8 milhões de euros. Um valor que terá sido exigido aos ingleses já ao final da tarde da última quinta-feira, ditando o fracasso do acordo.

Holdimo quer destituir SAD

Os pedidos de rescisão de futebolistas deverão reforçar os argumentos da Holdimo, maior accionista privado da SAD (29,8%), que avançou com uma acção especial em tribunal para destituir a administração de Bruno de Carvalho, com o objectivo de “travar a degradação do património e a situação insustentável de uma empresa que é cotada na bolsa”.

Já depois de ter conhecimento das rescisões, a Holdimo apelou, em comunicado, “à contenção de todos os jogadores”, demarcando-se das posições públicas do presidente leonino: “A Holdimo já requereu intervenção judicial, com carácter de urgência, para destituição imediata dos membros da Comissão Executiva da SAD.” E prossegue: “É com esta autoridade moral que nos dirigimos aos jogadores e agentes, apelando para que se associem à solução e não optem por actos emocionais que podem ter consequências graves para as partes.”

Estes acontecimentos remeteram para segundo plano a “guerra” institucional no clube, que conheceu também novos desenvolvimentos. Bruno de Carvalho avançou para a destituição da Mesa da Assembleia Geral (MAG) e cancelou a reunião magna para o destituir, agendada para dia 23 de Junho.

A direcção sportinguista justifica esta medida (que poderá não ter base de sustentação nos estatutos) por considerar que houve uma demissão em bloco da actual MAG e da maioria dos membros do Conselho Fiscal e Disciplinar. Uma medida desvalorizada por Jaime Marta Soares, que garante não se ter demitido formalmente da presidência da MAG, ainda que tenha anunciado a sua saída no dia 17 de Maio.