É o Dia da Criança, era todos os dias

Lembro-me do calor, da segurança e da liberdade. É Dia da Criança e lembro-me destas fotos comigo lá dentro.

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Quando me apercebi que existia, passou a ser um dia como os outros, ou seja, esses dias em que, fosse Inverno ou Verão, me sentia sempre quente e protegido – e não falo do clima, falo daquilo que a memória preservou, uma segurança tão total que nem imaginava que fosse possível não a ter, em que nem imaginava que não fosse possível ter o tempo todo ocupado a montar uma bicicleta, aos pontapés numa bola ou fechado em casa a inventar mundos incríveis com praticamente nada.

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Quando me apercebi que existia, passou a ser um dia como os outros, ou seja, esses dias em que, fosse Inverno ou Verão, me sentia sempre quente e protegido – e não falo do clima, falo daquilo que a memória preservou, uma segurança tão total que nem imaginava que fosse possível não a ter, em que nem imaginava que não fosse possível ter o tempo todo ocupado a montar uma bicicleta, aos pontapés numa bola ou fechado em casa a inventar mundos incríveis com praticamente nada.

Quando me apercebi que havia um Dia da Criança, tornou-se então um dia como os outros, com o aliciante de haver uma surpresa em forma de prenda para tornar a coisa mais interessante (quando calhava ou seria todos os anos?, já não me lembro). Não era prenda com o peso oficial do Natal ou de um aniversário, era uma recordação, uma surpresa simpática, digamos, antes de o dia continuar a correr livre como os outros.

Quando me apercebo agora que ainda existe Dia da Criança, vejo que tanto muda, que o mundo se transforma tão radicalmente, mas somos ainda o que fomos e seremos. Em crianças, aqueles que têm o privilégio de ter para si aquele calor e aquela segurança são o que sempre foram. Há-de ter-se encontrado na escavação de uma qualquer villa romana uma pequena escultura em forma de bicho, com que brincavam os futuros patronos e as futuras matronas da casa. E recordo-me bem de ter lido uma notícia que dava conta da descoberta, algures na Rússia, do desenho que um miúdo do século XIII deixou gravado em madeira – era o seu bloco de pintura e ali deixou a imagem de um cavaleiro e a história que inventou para ele.

Ser criança é viver um Verão que parece eterno e isso não muda, como tenho comprovado, agora que sou eu a puxar toalhas sobre a areia como trenós improvisados, e os pequenos seres que são transportados riem tanto como eu ria na mesma posição. Ser criança deve ser transformarmo-nos em monstros assustadores ou simpáticos (é indiferente, arrancam sempre gargalhadas) e tenho a certeza que ainda será conseguir fazer vida de adulto e conduzir um carro na hora de ponta do supermercado com muito mais animação e criatividade do que os adultos conseguem.

Lembro-me do calor, da segurança e da liberdade. É Dia da Criança e lembro-me destas fotos comigo lá dentro.