Como Danoninhos

Foi assim que dei com uma esplanada inteira a comer os queijinhos frescos com uma colher de café, sem tirar a cinta de plástico, como quem despacha um iogurte, nem todos com um pacotinho de açúcar.

Era uma empregada de mesa cheia de graça. Chamava-se Simone. Era romena, cheia de saudades da Roménia, para onde conseguiu voltar, deixando saudades aqui em Portugal. Falava português perfeitamente, com pronúncia portuguesíssima e a coisa que mais gostava de fazer era ralhar com os clientes.

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Era uma empregada de mesa cheia de graça. Chamava-se Simone. Era romena, cheia de saudades da Roménia, para onde conseguiu voltar, deixando saudades aqui em Portugal. Falava português perfeitamente, com pronúncia portuguesíssima e a coisa que mais gostava de fazer era ralhar com os clientes.

Ela mantinha, com razão, que cada dia da semana pedia um prato diferente. Quando nós não nos portávamos como ela queria - pedindo, por exemplo, bacalhau à terça-feira ou caldeirada à quarta-feira - ela exasperava-se e passeava, furiosa, pelas salas, gritando: "Vocês não sabem quemêr! Não sabem quemêr! Vocês julgam que sabem, que as vossas mãezinhas vos ensinaram bem, mas, desculpem lá, não sabem quemêr!"

Lembro-me dela cada vez que vejo turistas a lidar mal com os nossos pratos. O bicho de sete cabeças é o peixe. Há países inteiros que nunca lidaram com uma espinha na vida. O peixe aparece todo em filetes e paralelipípedos, cobertos de pão ralado. Quando servem peixe com espinhas a estes principiantes ficam chateados. Arranham as postas com a faca e o garfo à procura das espinhas. O peixe fica todo esfarrapado, irreconhecível. Comem uma farripa mas antes disso dão-lhe uma martelada com a faca, a ver se não esconde uma pequena e traiçoeira espinha.

Olham uns para os outros para ver como se faz. Foi assim que dei com uma esplanada inteira a comer os queijinhos frescos com uma colher de café, sem tirar a cinta de plástico, como quem despacha um iogurte, nem todos com um pacotinho de açúcar.