Orizicultores de Alcácer do Sal já estimam cultivar metade da produção habitual

Apesar da chuva dos últimos dias, continua a existir "uma situação de falta de água" na região, diz o director do Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado, João Reis Mendes. No ano passado, os produtores de arroz tinham receio de não poder cultivar este ano.

Foto
CARLA CARVALHO TOMAS

O aumento da quantidade de água nas barragens de Pego do Altar e de Vale do Gaio, em Alcácer do Sal, deverá possibilitar o cultivo de, pelo menos, metade da produção habitual de arroz, segundo os orizicultores.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O aumento da quantidade de água nas barragens de Pego do Altar e de Vale do Gaio, em Alcácer do Sal, deverá possibilitar o cultivo de, pelo menos, metade da produção habitual de arroz, segundo os orizicultores.

"Subiram os níveis de armazenamento das barragens, o que dá algum ânimo no sentido em que podemos fazer produção", disse nesta sexta-feira à agência Lusa o director do Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado (Aparroz), João Reis Mendes.

Sem se comprometer com números concretos, "porque quem decide a distribuição da água é a Associação de Regantes e de Beneficiários do Vale do Sado", no distrito de Setúbal, o dirigente da Aparroz indicou que poderá estar "garantido", no perímetro de rega das barragens de Vale do Gaio e de Pego do Altar, "pelo menos 50%" da produção habitual.

"Vamos aguardar até uma decisão definitiva, mas eu acho que menos de 50% [da produção de arroz] já não deixamos de fazer na zona de Alcácer do Sal", afirmou, frisando, no entanto, que continua a existir "uma situação de falta de água", apesar da chuva dos últimos dias.

"Há 15 dias, não tínhamos rega"

A barragem de Vale do Gaio está actualmente com "42% da capacidade de armazenamento" e a de Pego do Altar "com 47%", segundo o coordenador geral da Associação de Regantes do Vale do Sado, Gonçalo Lince de Faria.

"Há 15 dias, quando começou a chover, não tínhamos rega, pura e simplesmente, não tínhamos absolutamente água nenhuma e, neste momento, temos já garantidos 60% da área beneficiada", afirmou, acreditando que a situação pode vir a melhorar "com a chuva prevista para os próximos dias".

Isto significa, especificou, que, dos cerca de seis mil hectares do perímetro de rega do Vale do Sado, "cerca de 60% de área, neste momento, já tem garantias de água".

O mesmo responsável da associação disse acreditar que, "se continuar a chover e a subir a quantidade de água armazenada nas albufeiras", vai ser possível ir "aumentando a área de rega", decisão que deve ser "tomada em Abril", altura em que "os agricultores começam a preparar as terras".

No concelho vizinho de Santiago do Cacém, onde existe uma área de 300 hectares dedicada à produção de arroz, o director adjunto da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado, Ilídio Martins, estima que, com a subida do nível da água na barragem de Monte da Rocha, "cerca de metade da área de produção" possa ser abastecida.

Em Novembro do ano passado, os produtores de arroz tinham receio de não poder cultivar este ano, depois de, devido à quantidade de água disponível nas barragens, já terem reduzido em 2017, "20 a 30%" da área semeada.

A redução da quantidade de água nas barragens de Pego do Altar e de Vale do Gaio notava-se já "desde há três anos", segundo disse em Novembro de 2017 o director-geral da APARROZ.

A situação levou à decisão dos produtores de semear arroz em menos "10 a 15%" da área em 2016 e "20 a 30%" em 2017, de um total de "5.500 a 6 mil hectares".

Ponte não era vista fora de água há 19 anos

A APARROZ tem 30 sócios e trabalha com "cerca de 170 produtores", maioritariamente de Alcácer do Sal, mas também dos concelhos de Montemor-o-Novo, Grândola e Santiago do Cacém.

Com uma "produção média anual de seis toneladas por hectare" e com "um preço médio de 280 euros por tonelada", o cultivo do arroz é uma das principais actividades económicas de Alcácer do Sal, que, quando explorados os seis mil hectares, pode chegar a valer cerca de "10 milhões de euros".

A seca levou mesmo a que, no final do ano passado, tenha ficado descoberta uma ponte, submersa na albufeira de Pego do Altar, que não era avistada fora de água desde 1999.

Nas últimas semanas, com a subida do nível da água, a ponte voltou a imergir.