REN discute com Governo traçado alternativo ao gasoduto do Douro

Depois do chumbo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a REN está a discutir com o Governo uma alternativa de traçado da terceira interligação com a rede de gás natural espanhola que não passe por Património Mundial da UNESCO.

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O presidente da REN, Rodrigo Costa, assegura que o traçado “foi bem feito e tem um impacto mínimo” LUSA/MÁRIO CRUZ

Depois do chumbo ao traçado proposto pela REN para a terceira interligação do gás natural entre Portugal e Espanha a partir de Trás-os-Montes, a concessionária da rede de transporte está a discutir com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) uma alternativa que viabilize o projecto.

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Depois do chumbo ao traçado proposto pela REN para a terceira interligação do gás natural entre Portugal e Espanha a partir de Trás-os-Montes, a concessionária da rede de transporte está a discutir com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) uma alternativa que viabilize o projecto.

Em Janeiro, a APA enviou ao Governo um parecer negativo relativo à construção do gasoduto entre Celorico da Beira (Guarda) e Vale de Frades (Bragança) “com base no parecer técnico final da comissão de avaliação, bem como no relatório da consulta pública” ao projecto.

Uma das principais polémicas em torno do projecto desenhado pela REN foi o facto de se pretender que o gasoduto atravessasse a paisagem protegida do Alto Douro Vinhateiro, que é Património Mundial da UNESCO.

Mas o projecto, que está na lista de infra-estuturas prioritárias da Comissão Europeia, está longe de ter os dias contados: a empresa e as autoridades estão a trabalhar numa alternativa de traçado “que seja viável na perspectiva ambiental e de ordenamento do território e também que seja exequível tecnicamente”, revelou esta quinta-feira o administrador da REN João Conceição.

Segundo o gestor, “nos contactos bastantes construtivos” com a APA, ficou “bem entendido” que há uma “série de restrições” que limitam a escolha do traçado e que têm a ver com o “ponto fronteira de interligação”, ou seja, o sítio onde acaba o gasoduto português e tem início a ligação espanhola (projectada neste caso para Zamora).

As alterações que se fazem do lado de cá da fronteira “têm implicações” com o trabalho e os planos de investimento da congénere espanhola da REN, a Enagás, sublinhou João Conceição. No entanto, a questão do Património Mundial da UNESCO não parece ser um obstáculo instransponível.

“Estamos a trabalhar afincadamente para encontrar uma solução, nomeadamente que diga respeito à questão do Douro Vinhateiro”, disse João Conceição, sublinhando também que é preciso pôr as coisas “em perspectiva”: "Trata-se de 700 metros, não é algo que não se possa corrigir e encontrar alternativas”.

“Compreendemos que ninguém gosta de torres e de tubos, mas os tubos até são enterrados; causam distúrbios no momento da construção, mas depois desaparecem da vista das pessoas”, sublinhou o presidente da REN, Rodrigo Costa, assegurando que o traçado “foi bem feito e tem um impacto mínimo” e “não passa dentro de nenhuma quinta, como muitas vezes foi dado a entender”.

“Era óptimo não ter de fazer buracos, mas estas infra-estruturas são necessárias ao país”, se Portugal quer ter “alguma ambição” de “tornar-se uma peça importante no transporte de gás na Europa”, afirmou o gestor. “O empenho do Governo [no projecto] tem sido importante, principalmente por causa da questão europeia”, destacou ainda o presidente da REN, sublinhando o "impacto económico muito importante” que o gasoduto poderá ter se permitir aumentar a actividade do terminal de gás natural do porto de Sines.

“Da parte da União Europeia, há um real interesse para que o projecto seja desenvolvido em articulação com a ligação Espanha/França”, para que a Península Ibérica se possa tornar uma “zona importante de abastecimento” de gás natural à Europa e possa ter um mercado integrado com o resto da Europa que aumente a concorrência, disse ainda o administrador da REN.