A terra dos arrozais protege-se com a barragem da Aguieira

No zona do Baixo Mondego, a situação dos agricultores divide-se em dois: os que estão em zona de regadio não deverão ter problemas de seca; os que não estão deverão passar dificuldades.

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pedro cunha

“Nesta altura começa a ser preocupante. O nosso clima costuma dar chuva durante Fevereiro”, constata António Fonseca, que cultiva 45 hectares no Baixo Mondego, 25 dos quais para o plantio de arroz. Se bem que choveu nos últimos meses, o agricultor de 44 anos receia que não seja o suficiente para mitigar os efeitos de um ano seco como foi 2017.

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“Nesta altura começa a ser preocupante. O nosso clima costuma dar chuva durante Fevereiro”, constata António Fonseca, que cultiva 45 hectares no Baixo Mondego, 25 dos quais para o plantio de arroz. Se bem que choveu nos últimos meses, o agricultor de 44 anos receia que não seja o suficiente para mitigar os efeitos de um ano seco como foi 2017.

O arroz, é sabido, necessita de água em abundância. “A sementeira tem que ser feita na água e ao longo do ciclo é preciso uma lâmina de alguns centímetros” que funciona como regulador térmico, descreve António Fonseca. No seu caso, como os campos são em zona de regadio do Vale do Mondego, entre Carapinheira, Meãs do Campo e Tentúgal, “não deve haver qualquer dificuldade”.

Isto porque a obra hidrográfico do Mondego, iniciada há mais de três décadas mas nunca concluída, assegura regadio a uma vasta área do Baixo Mondego. Mas o mesmo não acontece nas encostas do vale, explica o presidente da Cooperativa Agrícola do Concelho de Montemor-o-Velho, Armindo Valente. Nas zonas em que não há regadio “já houve quebras de produção”, descreve.

José Simões planta milho na zona do vale e batata na encosta do vale. “Na encosta, a água é pouca e os poços estão a secar”. Em 2017, perdeu 80% da produção no monte devido à seca. Este ano depende de Março e Abril. “Se chover muito, as batatas acabam por se estragar também”, aponta o agricultor de 56 anos.

O grosso da produção de arroz da Cooperativa de Montemor provém da zona a jusante da vila. “Já são cotas muito baixas, pelo são terrenos com alguma salinidade”, o que representa um obstáculo à cultura, refere Armindo Valente. “É preciso água doce suficiente para lavar esses terrenos”, prossegue, acrescentando que, no ano passado houve quem não tenha feito essa lavagem e que, caso o mesmo venha acontecer num segundo ano, “pode ter impacto na colheita de 2018”.

Tudo depende da reserva da Aguieira

“Há dois anos estávamos debaixo de água”, recorda Armindo Valente, que faz também parte da direcção da Associação de Beneficiários da Obra Hidroagrícola do Baixo Mondego. A solução? “Mais reservas de água. A barragem da Aguieira começa a não ser suficiente para a indústria, para a agricultura e para a população”. Isso mesmo pode verificar-se este ano, considera. “Esperamos que ainda venha alguma chuva e que não seja preciso fazer restrição às culturas” na zona de regadio, afirma o responsável.

O coordenador da Associação Distrital dos Agricultores de Coimbra (ADACO), Isménio Oliveira, explica que a cota da barragem da Aguieira é “a grande preocupação dos agricultores”. Numa altura em que se aproximam as duas sementeiras das maiores culturas do distrito (arroz e milho), a cota da barragem que alimenta o sistema de regadio do Baixo Mondego “está abaixo do que é normal para esta época do ano”. Caso a situação se mantenha, “estas culturas poderão estar em risco”.

Ainda assim, a albufeira da Aguieira parece ter recuperado parte do seu armazenamento com as chuvas dos últimos meses. Passou de uma média mensal de 50,6% em Novembro de 2017 para 78,2% já em Janeiro deste ano. Mas isto pode não ser suficiente, até porque é comum que os metros cúbicos de água armazenada na Aguieira aumentem durante estes meses de Inverno.

Os últimos registos do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos mostram que a 22 de Fevereiro a cota da barragem atingiu 119,48 metros e 327 milhões de metros cúbicos de água. Estes números estão longe dos mínimos registados em Dezembro de 2017, em que a cota caiu para os 110.47 metros e o volume armazenado para os 212 milhões de metros cúbicos de água.

Em Viseu, tempo seco e pouca chuva

Em Novembro a situação em Viseu ganhou destaque na agenda mediática. A barragem de Fagilde, utilizada para abastecer os concelhos de Mangualde, Nelas, Penalva do Castelo e Viseu, atingiu 10% da capacidade, o que levou a medidas de remediação anunciadas pela autarquia e pelo governo. Se entretanto, com a pluviosidade dos últimos meses, as reservas de Fagilde recuperaram, o mesmo não aconteceu aos solos diz o presidente da Associação dos Baldios e Agricultores da Região de Viseu (Balagri), Delfim Moutinho.

O responsável não arrisca previsões optimistas para quem vive do que a terra dá. “Os índices de humidade são baixos, a chuva não cai. Não é de todo uma situação agradável para os agricultores”, ilustra. A solução passa pelo recurso a furos para captação de água, uma vez que várias foram as nascentes que secaram no decurso do ano passado.

Os principais afectados serão o produtores de fruta e as criações de gado, avança o presidente da Balagri. A juntar à seca, os incêndios de 2017 levaram a uma situação de escassez de plantas forrageiras, o que obriga à compra de fenos para alimentar os animais. Delfim Moutinho explica que Viseu é uma região de pequena e média agricultura e, por isso, a compra de alimentação para o gado ou os gastos extra com a captação de água têm um peso acrescido nestas pessoas. Caso o panorama se mantenha nos próximos meses na zona, a seca “terá certamente impacto na produção deste ano”.