Criadores de conteúdos, reúnam-se!

Muito embora todos conheçamos alguém que faça vídeos, seja fotógrafo ou um bom designer nas mais variadas vertentes, mal sabemos que essas pessoas lutam pelo seu trabalho. Não chega só clicar num botão e fica tudo feito

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Igor Miske/Unsplash

Portugal tem crescido e não é só a nível económico. Aquilo que cresce a cada dia neste nosso país são conteúdos multimédia, culturais e de entretenimento diversificados. E isto é um alerta sobre aqueles que criam esses conteúdos.

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Portugal tem crescido e não é só a nível económico. Aquilo que cresce a cada dia neste nosso país são conteúdos multimédia, culturais e de entretenimento diversificados. E isto é um alerta sobre aqueles que criam esses conteúdos.

É importante ressalvar que, com a emergência da Internet e dos meios digitais, tem sido mais fácil aceder a diversos materiais artístico-culturais. Estamos mais em contacto com vários artistas nacionais, podemos conhecer a sua obra ao detalhe e até comprá-la. De artistas plásticos até pessoal ligado ao audiovisual, temos de tudo e isso é algo que acaba por ser muito positivo. Particularmente para o panorama sociocultural português.

Mas Portugal tem um “pequeno” problema. E esse problema chama-se falta de reconhecimento. Muito embora todos conheçamos alguém que faça vídeos, seja fotógrafo ou um bom designer nas mais variadas vertentes, mal sabemos que essas pessoas lutam pelo seu trabalho. Não chega só clicar num botão e fica tudo feito. Não. Eles investem muito para poder dar o seu melhor. E quando chega a hora de alguém nos encomendar um trabalho existe sempre alguns erros a acontecer. Como, por exemplo, a falta de liberdade artística e, o pior de tudo, procurar alguém que trabalhe pro bono. Muitos empregadores acreditam que o reconhecimento é um método de pagamento. Levando a que muitos trabalhadores percam o tempo num projecto que não lhes dará nenhuma compensação monetária e caso haja alguma reclamação, procuram sempre outro que faça o mesmo. Conduzindo o freelancer a aceitar as condições em muitos dos casos. E este é o maior estigma que atormenta os artistas (irei utilizar esta palavra para generalizar todos os que criam conteúdos).

Mas o leitor pode questionar-se: “Então, mas isso acontece com todos?”. A resposta é não. Felizmente! Mas acontece com demasiados artistas. Vou dar-vos um exemplo. Tenho o prazer de conhecer inúmeras pessoas talentosas no ramo das artes. Em conversa com uma dessas pessoas perguntei sobre os seus trabalhos. E ela mostrou-me a imagem gráfica de um restaurante — o qual não vou colocar aqui, por razões óbvias. Perguntei-lhe como correu o trabalho. E ela explicou-me que a entidade em questão procurou trabalhar com ela por ser uma jovem designer, alegando que deveria ser dado mais trabalho a pessoas como ela, que possuíam uma imagem fresca sobre o mundo. Prometeram uma boa compensação monetária e ainda um trabalho na área de publicidade e comunicação do estabelecimento. Uma proposta de sonho. Durante seis meses ela esteve ligada ao projecto que seria um marco importante na sua carreira e também no portefólio pessoal. Foi aí que entrou a realidade. Com despesas para pagar (deslocações e licenças de programas), decidiu que deveria pedir aquilo que era seu e fora prometido. Mas nunca teve uma resposta. Acabaria por ser ignorada, tanto através das chamadas e emails como também pessoalmente, quando se dirigia ao local. Decidiu então colocar um processo por uso do seu trabalho sem pagamento de direitos de autor. A situação acabou por envolver advogados e levou a que o próprio restaurante mudasse de imagem de modo a não ter de mencionar quem realizou o trabalho anterior, mantendo ainda algumas coisas relacionadas com o mesmo. E isto é um de muitos exemplos que acontecem.

Mas para chegar ao ponto de alguém pedir os nossos “serviços” fica muita luta para trás. Muitas horas agarrados a uma folha de papel a tentar perceber o que pode ser feito. Horas a desenhar, editar, filmar ou até gravar. Infelizmente, os caminhos são diferentes para todos. O conteúdo cresce, mas a falta de reconhecimento também. Com tantas pessoas a crescerem no meio artístico, há apenas duas ou três que conseguem chegar a um patamar mais alto. Todos aqueles que lutam por conseguir fazer o que gostam merecem a devida atenção. Neste mundo, onde todos estamos ligados à Internet, não há desculpa para não reconhecer.

Se o leitor chegou até aqui, parabéns! Vou então deixar uma ideia no ar.

A ideia é simples: embora existam inúmeras entidades e empresas que dêem o devido crédito aos artistas, podia haver uma maior amplitude das suas obras através dos meios de comunicação. Isto é, aqueles centros de propagação de uma mensagem ou ideia como os jornais, rádios e canais de televisão visto por milhares de pessoas, podiam ser uma óptima ferramenta de promoção de artistas. Podiam auxiliar todos aqueles que procuram mostrar o seu trabalho e as suas qualidades. Nunca se sabe quem vê e quais as mudanças que irá trazer.

Neste sentido, queria fazer um pequeno pedido: por favor, sempre que forem pedir um trabalho a um artista, paguem o valor que pedem. Eles não fazem valores muito altos a pensar no próprio umbigo, mas sim no trabalho que tiveram e nos materiais que gastaram. Não é fácil fazer algo com toda a dedicação e não receber o devido crédito. Não procurem regatear o trabalho dos outros. Não façam cara feia quando vos é apresentado algo e, mais importante, não roubem o trabalho dos outros. Procurem dar o devido crédito à pessoa que o fez e com isso partilhar com todos. Só assim conseguimos manter esta onda de criatividade portuguesa em constante movimento.

Para terminar, queria só agradecer a todos os que leram, espero que possam ver que não é fácil fazer seja o que for. É uma luta constante e a falta de reconhecimento dói. Faz-nos acreditar que algo não está bem. A meu ver está na hora de fazermos as coisas bem e mostrar que Portugal é campeão europeu de futebol, futsal, hóquei em patins e de influenciador dos jovens artistas que nascem a cada dia neste nosso país. E isso não é mau.