Morreu Álvaro de Carvalho, um dos construtores do SNS

Álvaro de Carvalho tinha 69 anos e faleceu vítima de cancro. Era há vários anos director do programa para a saúde mental e foi um dos psiquiatras que acompanhou as vítimas da Casa Pia.

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Álvaro de Carvalho era o director do Programa Nacional para a Saúde Mental André Kosters/Lusa

O psiquiatra Álvaro de Carvalho, director do Programa Nacional para a Saúde Mental, morreu esta quinta-feira aos 69 anos, vítima de cancro. Os amigos recordam a sua “disponibilidade”, “generosidade” e “audácia” e os responsáveis políticos lembram que ele foi “um dos construtores do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.

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O psiquiatra Álvaro de Carvalho, director do Programa Nacional para a Saúde Mental, morreu esta quinta-feira aos 69 anos, vítima de cancro. Os amigos recordam a sua “disponibilidade”, “generosidade” e “audácia” e os responsáveis políticos lembram que ele foi “um dos construtores do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.

À frente do programa da Direcção-Geral da Saúde (DGS) desde Janeiro de 2012, onde se manteve mesmo depois de já apresentar sinais evidentes da doença, Álvaro de Carvalho tinha sido antes coordenador nacional para a Saúde Mental da DGS e foi subdirector-geral da saúde durante um ano. Esteve, aliás, envolvido na definição das políticas de saúde mental da DGS ao longo de duas décadas.

Professor assistente convidado de saúde mental e psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa desde 1981, foi membro de várias sociedades científicas, como a Sociedade Portuguesa de Suicidologia e a Sociedade Portuguesa de Psicanálise, e director do departamento de psiquiatria e saúde mental do Hospital S. Francisco Xavier.

O ex-director geral da Saúde Francisco George, que o conheceu na Faculdade de Medicina de Lisboa, define-o como “um homem bom, íntegro, que sempre pensou de uma forma independente” e se destacou pelas suas “propostas inovadoras e muito audaciosas”.

“Não é exagerado dizer que a criação do serviço médico à periferia, logo depois de 1974, se fica a dever a Álvaro de Carvalho” que, já na faculdade, se tinha revelado “um lutador e um resistente”, recorda George. O serviço médico na periferia (os médicos foram então trabalhar para vários concelhos do interior do país) foi “uma das maiores inovações que estiveram na origem do desenvolvimento do Serviço Nacional de Saúde, em 1979”.

Como psiquiatra, à frente do Programa Nacional para a Saúde Mental, “destacou-se sobretudo pela luta que conduziu contra a estruturas asilares do foro psiquiátrico”, prossegue George. “No dia em que o Hospital Miguel Bombarda (Lisboa) fechou, telefonou-me para manifestar o seu contentamento e para festejarmos aquele dia histórico.”

Álvaro de Carvalho ficou também conhecido enquanto médico coordenador da Casa Pia de Lisboa, entre 2002 e 2008, onde foi um dos psiquiatras responsáveis pelo acompanhamento das vítimas de abusos sexuais que estavam acolhidas naquela instituição.

"Um herói que não cobra"

“Ele estava sempre aberto para os outros”, lembra Catalina Pestana, que era provedora da Casa Pia nessa altura. Catalina, que partilhou com o psiquiatra a liderança da associação Rede de Cuidadores (fundada para apoiar crianças maltratadas na sequência do mediático processo), continua a falar de Álvaro de Carvalho no presente: “Ainda hoje, passados todos estes anos, alguns dos jovens que acompanhou iam ter com ele, mesmo depois de ter ficado doente. Ele é um herói que não cobra. É generoso. Consegue dar, sem sinais de estar a dar”.

De tarde, em nota à imprensa, o ministro Adalberto Campos Fernandes e a directora-geral da Saúde manifestaram o seu pesar pela morte de Álvaro Carvalho, sublinhando que foi “um dos construtores do Serviço Nacional de Saúde”, ao longo do seu percurso. Os responsáveis lembram que “foi no seu mandato como director de Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental da DGS, entre Fevereiro de 1996 e Outubro de 2000, que foi aprovada a Lei de Saúde Mental, legislação de referência para o sector”.

O velório realiza-se nesta sexta-feira a partir das 17h. O funeral sai às 10h de sábado da Igreja São João de Deus, em Lisboa, para a Igreja do Castelo na Lourinhã, de onde o psiquiatra era natural e onde será enterrado.