A homenagem ao homem “concreto e discreto”, “coerente e consequente”

O funeral de Belmiro de Azevedo decorreu esta tarde no Porto e contou com a presença de empresários, governantes, autarcas, amigos, colaboradores e populares.

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A igreja do Cristo Rei, no Porto, foi pequena para receber as centenas de pessoas que se quiseram associar à homenagem a Belmiro de Azevedo, o empresário que liderou a Sonae e que morreu com 79 anos na passada quarta-feira. Frei Bartolomeu Domingues, que liderou as cerimónias, referiu-se ao homem “concreto e discreto” e à personalidade “coerente e consequente” que estava a assinalar a passagem “para a vida definitiva”.

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A igreja do Cristo Rei, no Porto, foi pequena para receber as centenas de pessoas que se quiseram associar à homenagem a Belmiro de Azevedo, o empresário que liderou a Sonae e que morreu com 79 anos na passada quarta-feira. Frei Bartolomeu Domingues, que liderou as cerimónias, referiu-se ao homem “concreto e discreto” e à personalidade “coerente e consequente” que estava a assinalar a passagem “para a vida definitiva”.

Discreta foi também a cerimónia, com a família a agradecer a todos os presentes mas a quem pediu para aceitarem o recolhimento que quiseram ter nas despedidas finais: a urna não saiu sequer pela porta principal onde muitos jornalistas e populares a aguardavam. Concreta foi a posição do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que por várias vezes se referiu à viagem que fez de Lisboa para se associar às homenagens - não participou na missa, que se realizou às 16h00 por compromissos de agenda -, primeiro a título pessoal, mas sobretudo como Presidente da República “em representação de todos os portugueses”.

“Foi um homem singular, muito marcante na vida portuguesa, praticamente durante toda a democracia. Foram mais de 40 anos em que afirmou as suas qualidades invulgares de liderança, de determinação e de visão de futuro”, afirmou o Presidente da República, acrescentando que Belmiro de Azevedo foi para além da economia e interveio em áreas relevantes como “a educação, a cultura, a solidariedade social, a comunicação social, a formação das pessoas”. Por isso, foi dizendo que não comentava mais nada senão a homenagem que lhe merecia Belmiro, admitindo que pode haver muitas opiniões, mesmo aquelas que são transmitidas em sede parlamentar. “Sinto que estou a representar todos os portugueses, quando digo que não há muitas figuras na democracia e na vida empresarial como Belmiro de Azevedo”, afirmou aos jornalistas quando estes o confrontaram com os votos contra  do PCP na moção de pesar votada na Assembleia da República a assinalar a morte do empresário.

Marcelo saiu cerca das 14h30, alguns minutos antes de entrar na igreja um dos seus antecessores na Presidência da República, o general Ramalho Eanes. Acompanhado pela mulher, Manuela Eanes, o ex-chefe de Estado seguiu toda a cerimónia, não sem antes deixar um testemunho acerca do contributo dado por Belmiro de Azevedo “para a modernização enquanto grande empreendedor, homem capaz de criar riqueza e trabalho, homem capaz de aproveitar oportunidades e descobri-las e, depois, explorá-las com ambição, ousadia, risco e, sobretudo, competência”.

Para Ramalho Eanes, a sua independência “mostrava que tudo isto se fazia e mostrava ainda que tudo isto é possível, mesmo em Portugal”. “Algumas vezes foi prejudicado pelo poder, por ter em relação ao poder esta posição distante, crítica, que todos conhecemos”, sublinhou. O eurodeputado Paulo Rangel referiu-se a Belmiro como um “verdadeiro criador de talentos e gerador de energia e inteligência”.

Foram muitas as figuras e personalidades que se associaram às cerimónias, mesmo sem deixarem registo de declarações públicas: o presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa; os presidentes da Corticeira Amorim e da Mota Engil (respectivamente António Rios Amorim e António Mota); o ex-banqueiro Artur Santos Silva; o ex-primeiro ministro Pedro Passos Coelho e o antigo ministro Miguel Cadilhe. A representar o actual Governo estiveram os ministros da Economia, Manuel Caldeira Cabral e do Ambiente, João Matos Fernandes, e ainda a secretária de Estado da Indústria, Ana Lehman.

O pároco que presidiu às cerimónias referiu-se “à estupidez absoluta” que é falar-se de sorte ou da falta dela quando se analisa a história que escreve cada pessoa, defendendo que o que existe é “o mérito, a competência e a honra”. E nisso, Belmiro de Azevedo “encontrou a plenitude”. Ao elogiar os textos do Evangelho escolhidos pela família (o capítulo sexto, do Evangelho de São Mateus, onde se ensina a oração do Pai Nosso), o pároco exortou todos os presentes a perdoar e a seguirem o exemplo de Belmiro, a deixar contributos para um mundo melhor. 

Paulo Azevedo, que acompanhou cunhada, filhos e sobrinhos nas leituras alternadas durante a Oração Universal, endereçou as suas preces à tia, que faleceu e foi a enterrar no mesmo dia do irmão, e à possibilidade de se construir um mundo “mais próspero, mais justo, mais ético e mais sustentável”. O texto mais emocionado, que encerrou a cerimónia pública, coube à neta Joana, que terminou as suas palavras a deixar promessas: “Não te preocupes, avô, saberemos tomar conta da avó e dos nossos pais”.