Associação de apoio a homens vítimas de abuso sexual recebeu 67 pedidos de ajuda este ano

A associação "Quebrar o Silêncio" abriu portas em Janeiro e presta apoio a vítimas de abuso sexual.

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Desde Janeiro, a associação recebeu 67 pedidos de apoio, dez dos quais de mulheres daniel rocha

Quase 70 pessoas pediram ajuda este ano à "Quebrar o Silêncio", a primeira associação portuguesa que presta apoio especializado a homens vítimas de abuso sexual, disse esta quinta-feira à Lusa o seu presidente, Ângelo Fernandes.

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Quase 70 pessoas pediram ajuda este ano à "Quebrar o Silêncio", a primeira associação portuguesa que presta apoio especializado a homens vítimas de abuso sexual, disse esta quinta-feira à Lusa o seu presidente, Ângelo Fernandes.

A associação abriu portas, em Janeiro, por iniciativa de Ângelo Fernandes, que aos 11 anos foi vítima de abuso sexual por parte de um amigo da família e hoje se dedica a ajudar outros homens que passaram por esta situação.

Desde Janeiro, a associação recebeu 67 pedidos de apoio, dez dos quais de mulheres, também vítimas de violência sexual, disse Ângelo Fernandes, que falava à Lusa à margem do encontro O homem promotor da igualdade, que está a decorrer em Lisboa.

"Tivemos vários pedidos de homens que nos procuram porque sentiam que, até agora, não havia um espaço onde pudessem falar abertamente, com confiança e confidencialidade, das experiências que passaram", adiantou.

Segundo Ângelo Fernandes, muitas destas vítimas sofrem em silêncio longos anos por vergonha ou sentimento de culpa.

"Um em cada seis homens é vítima de abuso sexual antes dos 18 anos e sabemos que há homens que sofrem em silêncio" devido aos valores tradicionais que ainda estão enraizados, como "um homem não pode ser vítima", "não pode pedir apoio".

Segundo o responsável, a "indefinição de abuso sexual" também contribui para este silêncio: "Muitas pessoas pensam que o abuso sexual tem que ter forçosamente penetração ou violação e que não há outra forma de abuso. Enquanto esta visão estreita de abuso for predominante muitas pessoas que foram vítimas, nomeadamente os homens, sentem que não foram vítimas e que, por isso, não têm legitimidade para procurar apoio", explicou.

Ângelo Fernandes acredita que as denúncias de assédio sexual em Hollywood motivadas pelas queixas de actrizes contra o produtor de cinema Harvey Weinstein podem "encorajar outras vítimas a procurar apoio" e constituírem "uma boa oportunidade para sensibilizar e informar" a população.

"Ainda vivemos numa sociedade onde a culpabilização da vítima continua a ser a primeira reacção e quando nós ouvimos vozes que culpabilizam jovens de 14 anos pelos abusos o que estamos a transmitir, enquanto sociedade, é que as vítimas não têm direito de falar e se o fizerem as pessoas não vão acreditar e ainda os vão responsabilizar por aquilo que aconteceu", lamentou.

Sobre o encontro, promovido pela associação, "O homem promotor da igualdade", Ângelo Fernandes disse que o objectivo é "criar um espaço de reflexão sobre o papel que o homem pode ter na igualdade de género, enquanto promotor dessa igualdade".

"É fundamental desafiarmos os valores tradicionais da masculinidade e reconhecer que a igualdade de género beneficia todos e todas", afirmou. No fundo, o que se pretende é que "se comece a desafiar e a desconstruir os comportamentos tóxicos da masculinidade e que se invista em novos valores para a masculinidade".

A "Quebrar o Silêncio" tem como missão apoiar os homens vítimas de abuso sexual a ultrapassar os traumas consequentes desse abuso e a retomar o controlo da sua vida, através de apoio psicológico e grupos de apoio.