O futuro da NBA é grego e chama-se Giannis

Há quatro anos, o melhor marcador da NBA jogava na segunda divisão da Grécia. Antes disso, vendia chapéus e relógios nas ruas de Atenas para sobreviver e os pais eram imigrantes ilegais.

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Benny Sieu/USA TODAY Sports/Reuters

Um “unicórnio”, em termos de Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA), é um jogador que não devia existir, mas existe, seja um base de 1,70m que faz afundanços (Spud Webb) ou um base com altura de poste que foi um dos melhores de sempre (Magic Johnson). O “unicórnio” mais raro, se é que podemos colocar as coisas nestes termos, é aquele jogador superlativo a fazer todas as posições de campo, como um base a distribuir jogo, um extremo a fazer penetrações para o cesto e um poste a dominar nas alturas. Na actualidade, ninguém na NBA encaixa tão bem no conceito de “unicórnio” como Giannis Antetokounmpo, um jovem grego de 22 anos dos Milwaukee Bucks que muita gente projecta como o futuro melhor jogador da Liga e candidato a MVP já nesta temporada.

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Um “unicórnio”, em termos de Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA), é um jogador que não devia existir, mas existe, seja um base de 1,70m que faz afundanços (Spud Webb) ou um base com altura de poste que foi um dos melhores de sempre (Magic Johnson). O “unicórnio” mais raro, se é que podemos colocar as coisas nestes termos, é aquele jogador superlativo a fazer todas as posições de campo, como um base a distribuir jogo, um extremo a fazer penetrações para o cesto e um poste a dominar nas alturas. Na actualidade, ninguém na NBA encaixa tão bem no conceito de “unicórnio” como Giannis Antetokounmpo, um jovem grego de 22 anos dos Milwaukee Bucks que muita gente projecta como o futuro melhor jogador da Liga e candidato a MVP já nesta temporada.

Os números “unicórnio” de Antetokounmpo em 12 jogos já cumpridos da época regular são estes: 31,7 pontos (líder da NBA), 10,4 ressaltos, 4,7 assistências, 1,8 desarmes de lançamento e 1,4 roubos de bola, liderando a sua equipa em três destas quatro estatísticas (é o segundo em assistências por uma diferença de 0,3). Os Bucks podem não ser ainda uma equipa de topo na NBA e a sua presença nos “play-off” não é um dado adquirido (são nonos na Conferência Este, com seis vitórias e seis derrotas), mas têm o seu “Greek Freak” de 2,11m, que, antes desta temporada, já era uma “estrela”. Agora, é um fenómeno.

“É uma força da natureza. Nunca vi nada como ele. Pode bem ser o melhor de sempre, se quiser. É assustador só de pensar nisso. É o meu jogador preferido de ver”, avalia Kevin Durant, também ele um “unicórnio”, um dos jogadores mais completos da história da NBA. Palavra a outro “unicórnio”, LeBron James, um dos mais dominadores da história da Liga, mas que nesta época já viu bem de perto o fenómeno grego — num recente Bucks-Cavaliers, “King” James sofreu um “contra” de Antetokounmpo numa entrada sua para o cesto. “É muito bom e está a caminho da grandeza. Se é que não chegou já lá. Tem as ferramentas e tem o talento.”

A NBA fez de Antetokounmpo um milionário, mas as suas origens são bem humildes. Giannis nasceu na Grécia, filho de imigrantes ilegais provenientes da Nigéria, e teve uma infância difícil, em que ele e o irmão mais velho foram vendedores ambulantes nas ruas de Atenas para ajudar à economia doméstica, já que os pais, devido ao seu estatuto ilegal, viviam numa precaridade laboral permanente. “Algumas vezes o nosso frigorífico estava vazio. Havia dias em que não vendíamos o suficiente e não tínhamos dinheiro para a comida”, contava ao New York Times em 2013, numa altura em que se falava dele como uma promessa de basquetebolista.

Os pais haviam chegado à Grécia em 1991, sem passaporte, e instalaram-se em Sepólia, um bairro no norte de Atenas. Dos cinco filhos do casal, Giannis foi o terceiro a chegar. O basquetebol não foi a sua primeira opção desportiva — gostava de futebol —, mas um treinador que o viu na rua, não viu um futebolista, mas um basquetebolista, e convenceu-o a experimentar. Giannis só pegou numa bola de basquetebol aos 13 anos e só começou a jogar numa equipa de jovens aos 15. Com 17, já era a “estrela” do Filathlikos, uma equipa da segunda divisão grega, e foi então que os olheiros da NBA repararam nele. Aos 18 anos, quando já tinha um pré-acordo para jogar em Espanha, foi seleccionado pelos Milwaukee Bucks no “draft” de 2013 na 15.ª posição, ele que tinha aprendido a falar inglês a ver repetidas vezes um Eddie Murphy dos anos 1980, Um Príncipe em Nova Iorque.

Muita gente olhou para o jovem grego como mais um europeu que dificilmente iria jogar na NBA, e previu que os Bucks iriam fazer um “draft and stash” — colocá-lo a jogar na Europa e monitorizar ao longe a sua evolução. Mas foi mesmo morar na cidade da Harley Davidson e levou a família toda com ele. De 6,8 pontos na primeira época, Giannis passou para 12,7 na segunda, 16,9 na terceira e 22,9 na quarta, uma temporada em que chegou ao “All-Star Game” e foi eleito o jogador que mais evoluiu.

Com os seus totais nos primeiros cinco jogos da época (175 pontos, 53 ressaltos e 28 assistências), Giannis teve o melhor início individual de temporada da história da NBA, graças a uma combinação invulgar de talento e características físicas que lhe permitem ser tudo em campo — a única falha que lhe apontam é a falta de lançamento exterior. Por enquanto, não é uma arma que lhe faça falta, a ele que é um obcecado pelo trabalho e procura ficar fora do circo mediático e dos patrocínios, características de outras “estrelas” da NBA, nem sequer pensando em sair da pacata Milwaukee, onde vive com a mãe e com os irmãos.