Qual é a melhor altura para lançar um guarda-redes?

Mile Svilar é apenas mais um a ser "lançado às feras" prematuramente. Resta saber se será capaz de se afirmar como o fizeram vários dos melhores guarda-redes da actualidade.

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A 13/14 de Maio de 1997, jogava-se a segunda mão das meias-finais da Copa do Brasil entre o Palmeiras e o Flamengo. Na baliza do “mengão”, estava um experiente internacional brasileiro, Zé Carlos, que andara uns anos no futebol português (Farense, V. Guimarães e Felgueiras) e que já estava do lado errado dos 30 e já perto do fim da carreira. No banco, estava um jovem de 17 anos e oito meses de idade a quem o técnico Sebastião Rocha recorreu após uma lesão do seu titular. Quatro dias depois, era o titular num Fla-Flu, que o “mengão” perdeu, mas o jovem “goleiro” defendeu um penálti.

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A 13/14 de Maio de 1997, jogava-se a segunda mão das meias-finais da Copa do Brasil entre o Palmeiras e o Flamengo. Na baliza do “mengão”, estava um experiente internacional brasileiro, Zé Carlos, que andara uns anos no futebol português (Farense, V. Guimarães e Felgueiras) e que já estava do lado errado dos 30 e já perto do fim da carreira. No banco, estava um jovem de 17 anos e oito meses de idade a quem o técnico Sebastião Rocha recorreu após uma lesão do seu titular. Quatro dias depois, era o titular num Fla-Flu, que o “mengão” perdeu, mas o jovem “goleiro” defendeu um penálti.

Esse jovem era Júlio César e também ele é a prova de que a experiência não é necessariamente um posto quando se fala de guarda-redes. Ou seja, duas décadas de futebol ao mais alto nível em clubes de topo e na selecção brasileira já não garantem a Júlio César a titularidade do Benfica e foi do banco que, na quarta-feira, viu Mile Svilar, 20 anos mais novo, tornar-se no guarda-redes mais novo da história da Liga dos Campeões, com apenas 18 anos e 52 dias, ultrapassando Iker Casillas, que se estreara na Champions pelo Real Madrid com 18 anos e 118 dias. E todos sabemos a carreira que o actual guarda-redes do FC Porto (que também parece ter perdido a titularidade para José Sá) tem tido.

Mas o erro que o jovem belga cometeu frente ao Manchester United e que resultou em mais uma derrota dos “encarnados” na Champions faz pensar sobre se Rui Vitória entregou a titularidade a Svilar demasiado cedo. “Os treinadores conhecem os seus jogadores e sabem como é que eles trabalham diariamente, sabem da qualidade deles. Guarda-redes, ou não, se um jogador é titular é porque, à partida, tem qualidade. E há muitos guarda-redes que começam a jogar muito cedo. Quando há qualidade, não há que ter medo”, diz ao PÚBLICO Paulo Santos, antigo guarda-redes internacional português com uma longa carreira, com passagens, entre outros, por Sporting, Benfica, FC Porto e Sp. Braga.

Svilar tem qualidade, segundo a opinião de Rui Vitória, que o classificou como “craque”, e do próprio José Mourinho, que disse que o belga formado no Anderlecht, seria uma “fera”. Mesmo depois da falha contra o United, que foi apenas o seu segundo jogo como sénior (estreara-se poucos dias antes frente ao Olhanense), o técnico “encarnado” garantiu a titularidade do belga no próximo domingo frente ao Desportivo das Aves, o que o torna no segundo guarda-redes mais jovem a jogar no campeonato português dos últimos 20 anos, apenas atrás do angolano Kadu, que, com 17 anos cinco meses e 12 dias, fez oito minutos na baliza do FC Porto frente ao Rio Ave.

Se a estreia precoce na primeira equipa dos dragões de pouco tem valido de pouco ao ainda bastante jovem angolano de 22 anos (é suplente da Oliveirense), já o segundo nome desta lista tem tido uma carreira longa e também está a caminho de bater vários recordes. Com 18 anos, 9 meses e 4 dias, Rui Patrício estreou-se na baliza do Sporting a defender um penálti e a garantir uma vitória na Madeira frente ao Marítimo. Mais de uma década depois, Patrício é inamovível tanto no Sporting como na selecção nacional e, para os padrões dos guarda-redes, ainda tem uma longa carreira pela frente.

Na verdade, entre os guarda-redes de topo do futebol mundial, quase todos foram lançados muito novos em equipas de topo e com grandes resultados. Ninguém foi tão precoce como Gianluigi Donnarumma, que chegou aos 16 anos à baliza do AC Milan e não mais deixou a titularidade, relegando para suplente o experiente espanhol Diego López. Buffon, um dos melhores guarda-redes da história do futebol, também chegou aos 17 anos à baliza do Parma e, pouco depois, já estava na Juventus e na “squadra azzurra”. David de Gea chegou à baliza do Atlético Madrid aos 18 anos e, dois anos depois, já estava no Manchester United. Thibaut Courtois, o titular da selecção belga, estreou-se pelo Genk antes de fazer 18 anos, e é o dono sem rival da baliza do Chelsea.

Por muitos guarda-redes precoces com sucesso, há outros cuja carreira não continuou com muito brilho. Se ainda não é muito claro o que irá acontecer a Bruno Varela, que passou de titular do Benfica e convocado por Fernando Santos a terceira opção, o percurso de Rui Nereu acabou por ser descendente. O recorde que é agora de Svilar pertencia-lhe desde que se estreou na Liga dos Campeões em 2005-06 frente ao Villarreal e pela mão de Ronald Koeman.

Nereu, então um jovem com 19 anos da formação benfiquista, estava atrás de Moreira e Quim (que ainda jogam, respectivamente no Estoril e no Aves) na hierarquia dos guarda-redes, mas estava no banco nesse jogo em casa do “submarino amarelo”. Quim foi o titular mas saiu lesionado na primeira parte, entrando Nereu, que foi decisivo a segurar o empate. “Foi uma das melhores noites da minha carreira, se não a melhor”, contava em 2011 ao Maisfutebol. Mas Nereu acabou por não deixar muita marca no Benfica, com apenas sete jogos pelos “encarnados”, tendo depois passagens por Académica e Arouca, entre outros, estando, aos 31 anos, a defender as redes do Freamunde.