As mulheres distanciaram-se mais dos seus pais

Das portuguesas nascidas entre 1970 e 1986, 44,8% desempenhavam profissões mais elevadas do que as dos seus pais, contra apenas 27,3% dos homens

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Enquanto isso, os salários das mulheres continuam a um nível mais baixo Rui Gaudêncio

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Se Portugal não sai pior da fotografia na comparação com os parceiros europeus em termos de mobilidade social ascendente, é muito por causa das mulheres: 48% das nascidas entre 1970 e 1985 atingiram um nível de escolaridade superior ao do seu pai, contra apenas 33% dos homens.

O estudo não comparou níveis entre mães e filhas, admitindo os seus autores que, e dado que as mulheres chegaram mais tarde à escola, a mobilidade ascendente das filhas seria aqui ainda mais vincada. Na comparação com a Europa, as portuguesas nascidas na década de 1970 que atingiram um nível académico superior ao dos seus pais ficam apenas dois pontos percentuais abaixo das restantes europeias: 48% versus 50%.

Mais distanciadas dos seus pais no que à escolarização diz respeito, as mulheres progrediram também mais do que eles no tocante à profissão. Entre as portuguesas nascidas na década de 1940, apenas 29,4% acabaram por ocupar categorias profissionais mais elevadas do que a dos seus pais, enquanto entre os filhos a percentagem sobe ligeiramente para os 30,7%. Na média da União Europeia, para a mesma década, 44,4% das mulheres tinham profissões mais qualificadas e mais bem remuneradas.

Mas, nas décadas seguintes, mais concretamente entre 1970 e 1986, as diferenças acentuaram-se a favor das mulheres: 44,8% desempenhavam profissões mais elevadas do que as dos seus pais, contra apenas 27,3% dos homens.

Se considerarmos que foi em 1986 que as mulheres ultrapassaram pela primeira vez os homens nas matrículas no ensino superior e que, no ano passado, 55% dos doutoramentos foram protagonizados por mulheres, poder-se-ia arriscar antecipar que dentro de poucos anos elas estarão mais representadas em cargos de topo.

Enquanto isso, apesar de terem crescido mais em termos proporcionais, os salários das mulheres continuam a um nível mais baixo. Em 2015, elas recebiam em média menos 20% do que os homens, numa desigualdade que se agrava para os 28% quando se sobe até aos quadros superiores.

Considerando que Portugal é “um país interessante do ponto de vista da participação feminina no mercado de trabalho”, a investigadora Teresa Bago d’Uva não arrisca antecipar se a diferença entre mulheres e homens em cargos de topo tem os dias contados, quer em termos de disparidades salariais quer em termos de presença. “É impossível dizer quando poderá desaparecer, se é que algum dia chegará a acontecer, mesmo num país como o nosso, com uma alta participação feminina no mercado de trabalho e em que o trabalho a tempo parcial não é muito comum”, declarou ao PÚBLICO, para lembrar que “factores como a divisão de tarefas domésticas e familiares e o impacto da maternidade na progressão na carreira” pensam, e muito, nesta equação.