Eles pintam, dançam e cantam e estão a surpreender a Europa do futebol

Em apenas sete anos, o Östersund passou da IV Divisão sueca a clube sensação nas provas da UEFA onde está muito perto de discutir o acesso à fase de grupos da segunda competição europeia

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Jogadores do Östersund no último jogo que realizaram na Liga Europa Reuters/TT NEWS AGENCY

Foi a equipa sensação da segunda pré-eliminatória da Liga Europa e está muito perto de disputar o play-off de acesso àquela competição – para já está em vantagem frente aos luxemburgueses do Fola Esch, a quem venceu por 1-0 na primeira mão da terceira pré-eliminatória. Mas a chegada a esta fase da competição só aconteceu depois de o Östersund ter protagonizado uma das maiores surpresas da eliminatória anterior ao afastar o histórico e bem mais conceituado clube turco Galatasaray. Tudo numa equipa composta por jogadores a quem o treinador pede que não joguem só futebol, mas que também pintem, cantem e dancem.

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Foi a equipa sensação da segunda pré-eliminatória da Liga Europa e está muito perto de disputar o play-off de acesso àquela competição – para já está em vantagem frente aos luxemburgueses do Fola Esch, a quem venceu por 1-0 na primeira mão da terceira pré-eliminatória. Mas a chegada a esta fase da competição só aconteceu depois de o Östersund ter protagonizado uma das maiores surpresas da eliminatória anterior ao afastar o histórico e bem mais conceituado clube turco Galatasaray. Tudo numa equipa composta por jogadores a quem o treinador pede que não joguem só futebol, mas que também pintem, cantem e dancem.

O Östersund fez assim história logo na sua estreia nas provas da UEFA, mas não é a primeira vez que este clube fundado há apenas 20 anos, e que chegou à I Divisão do campeonato sueco apenas em 2015, surpreende. A época passada, o Östersund conquistou a Taça da Suécia, batendo na final o Norrköping e ganhando, dessa forma, o direito de competir na Liga Europa.

Criado a partir da fusão com mais outros dois emblemas da cidade de Östersund, o clube tem contribuído para aumentar a popularidade do futebol numa cidade mais conhecida pela sua forte ligação à prática de desportos de Inverno e na qual se realizam várias competições de esqui e patinagem. Prova disso mesmo é o facto de os habitantes desta habitualmente gélida cidade sueca estarem a aproximar-se do clube. A média de espectadores por jogo nos encontros caseiros no campeonato sueco foi de quase 6 mil pessoas em 2016 – equivalente a 12% da população total da localidade. E a segunda partida da equipa frente ao Galatasaray teve perto de 10 mil pessoas a assistir num ecrã gigante propositadamente montado para o efeito.

Mas a história de sucesso do Östersund tem por trás um trabalho no mínimo raro no futebol profissional protagonizado pelo relativamente anónimo técnico inglês Graham Potter. Enquanto alguns treinadores utilizam referências bélicas para reforçar o espírito de união entre os jogadores das equipas que dirigem – Luiz Felipe Scolari citava máximas do livro A Arte da Guerra, de Sun Tzu, Pep Guardiola chegou a recorrer a imagens do filme Gladiador, de Ridley Scott, – o relativamente anónimo técnico inglês Graham Potter optou por outro caminho.

No Östersund desde 2010, numa altura em que o clube tinha caído para a IV Divisão sueca, Potter conseguiu três promoções em cinco temporadas e trouxe a equipa para o primeiro escalão em sete épocas. Tudo isto levando os jogadores mais ou menos anónimos a participar em actividades culturais, como a escrita de livros, organização de exposições de arte e até a dançarem o Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky.

“Já fizemos uma peça de teatro, já pintámos, já dançámos, já cantámos – eu participei em tudo e não é fácil”, declarou o médio inglês Jamie Hopcutt, no Östersund desde 2012. “Tudo isto tira-nos completamente fora da nossa zona de conforto, mas tem-nos ajudado enquanto equipa”, acrescentou ao site da Uefa.

A equipa é formada, basicamente, por jogadores suecos a que se juntam alguns futebolistas de outras nacionalidades, sobretudo ingleses e africanos, embora sem grande experiência. A excepção serão o capitão Brwa Nouri, que já foi internacional pelo Iraque, e o médio Fouad Bachirou, que já alinhou pela selecção das Comores.

Apesar da evidente inexperiência da equipa do Östersund, ela está a fazer o seu caminho. E Graham Potter dá sinais de que não vai mudar. Pelo contrário, pretende continuar a dirigir a equipa da forma pouco convencional como o tem feito até agora e que tem produzido tão bons resultados. “No futebol, são precisas histórias como a nossa, que mostrem que tudo é possível”, disse.