As histórias que se contam à volta de um copo de vinho. Ou dois

A escolha do local revelou-se certeira. O centro comercial em que se realizou o Vinhos de Portugal durante três dias, numa zona de classe alta em São Paulo, atraiu muitos interessados.

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Para além do sucesso nas iniciativas pagas como o Mercado dos Vinhos – com provas directamente feitas com os produtores ou provas e harmonizações organizadas por críticos de vinhos de Portugal e do Brasil –, também o espaço de convívio, de acesso gratuito, foi muito procurado. E porque uma das partes mais interessantes do vinho é a sua história, e porque há sempre muitas histórias que podem ser contadas à volta de um vinho, o programa Tomar um Copo esteve praticamente com lotação esgotada. Nos três dias.

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Para além do sucesso nas iniciativas pagas como o Mercado dos Vinhos – com provas directamente feitas com os produtores ou provas e harmonizações organizadas por críticos de vinhos de Portugal e do Brasil –, também o espaço de convívio, de acesso gratuito, foi muito procurado. E porque uma das partes mais interessantes do vinho é a sua história, e porque há sempre muitas histórias que podem ser contadas à volta de um vinho, o programa Tomar um Copo esteve praticamente com lotação esgotada. Nos três dias.

 “Camões e o Vinho”

Em cada um dos três dias, a abordagem foi diferente. Mas o resultado foi sempre o mesmo.

Assistência inebriada com as histórias que José Bernardes, director-geral da Biblioteca da Universidade de Coimbra, e especialista em Camões, ali levava para falar do vinho na poesia de Camões.

Se a palavra aparece pouquíssimas vezes na vasta obra do poeta, ela está latente numa grande parte da sua obra. Até porque a mais importante parte d'Os Lusíadas – pelo menos aquela que o poeta descrever mais prolongadamente – é a ilha dos Amores.

Bernardes recordou que ao enlace sexual de nautas e ninfas, e ao banquete em que se serviam “vinhos odoríferos”, se seguiu a revelação, e os nautas portugueses foram convidados a conhecer o segredo do espaço e do tempo – afinal, a perceber o futuro. “Vénus queria transformar a raça. Os nautas portugueses entraram na ilha humanos e saíram de lá divinos”, concretizou. O poder de transformação do vinho, a maneira como ele actua no coração dos homens, a sensação da felicidade que proporciona, a procura do futuro que é permanente. Os temas de Camões são actuais, no dia de hoje.

“O Douro em cartoons

Luís Afonso, autor do Bartoon, o cartoon diário do PÚBLICO, cuja personagem está sempre atrás de um bar, partilhou com os presentes as suas histórias com o Douro e o vinho do Porto.

Alentejano de Serpa, respondeu ao desafio do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) de pensar em qualquer coisa para assinalar os 260 anos da mais antiga região demarcada do Mundo, e o resultado é uma série especial de cartoons que vão estar à venda no instituto.

“Podia ter feito uma coisa completamente diferente, mas a verdade é que quando fui passar um dia ao IVDP, para me inteirar de todas as historias e todos os personagens, acabaram por me saltar à cabeça os personagens, E fazia sentido fazê-los com os meus bonecos”, explica.

Uma das personagens era incontornável: “O próprio marquês de Pombal, que criou a região, e cuja figura já era, ele próprio com aquelas cabeleiras e aquela roupa, um dos meus bonecos”. As outras duas personagens, o barão de Forrester e a Ferreirinha, confessa o autor, foram mais desafiadoras e empolgantes. “O facto de ele ser um amante da fotografia e um verdadeiro geógrafo, autor de um dos primeiros e mais relevantes mapas da região, fez-me pensar nele com um cabelo tresloucado”, explica. Dona Antónia, a Ferreirinha, tinha de ser desenhada com “as saias de balão que a salvaram do naufrágio, claro”.

O resto leva também o humor de Luís Afonso – as conversas são anacrónicas (até porque os personagens viveram com um século de diferença), mas o humor não se compadece com espartilhos de calendários. “De facto, essa saia não é lá muito prática para entrar a bordo”, diz o barão, enquanto ajuda a Ferreirinha a subir a bordo de um rabelo. “Mas é uma maravilha para flutuar, acredite”, responde-lhe a Ferreirinha. 

"Gosto destes desafios, até porque são uma maneira de esquecer a actualidade e a política. Aqui estamos a falar de História. E de histórias", diz o autor.