É “urgente” integrar nutricionistas em instituições sociais, diz bastonária

Na sexta-feira, o ciclo de seminário de Nutrição Comunitária e Saúde Pública vai abrir a discussão. A bastonária da Ordem dos Nutricionistas diz estar preocupada com os valores de obesidade e desnutrição que afectam crianças e idosos portugueses.

Foto
Alexandra Bento alerta para os preocupantes níveis de desnutrição e de obesidade entre idosos institucionalizados LM miguel Manso - publico

A bastonária da Ordem dos Nutricionistas advertiu nesta quinta-feira para a necessidade "urgente" de garantir a intervenção de nutricionistas junto das crianças e dos idosos em instituições, para reverter problemas de saúde que afectam estes dois grupos da população.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A bastonária da Ordem dos Nutricionistas advertiu nesta quinta-feira para a necessidade "urgente" de garantir a intervenção de nutricionistas junto das crianças e dos idosos em instituições, para reverter problemas de saúde que afectam estes dois grupos da população.

Para que isso aconteça, "temos de juntar à mesma mesa decisores políticos, representantes das instituições de solidariedade social e nutricionistas, com o objectivo de definir um plano de acção que dê resposta às necessidades nutricionais da população", sublinhou Alexandra Bento, que defende a integração de nutricionistas nas instituições de solidariedade social.

Alexandra Bento falava a propósito de um ciclo de seminários de Nutrição Comunitária e Saúde Pública que vai reunir na sexta-feira, em Santa Maria da Feira, três centenas de nutricionistas, decisores políticos e representantes de instituições de solidariedade social, com o objectivo de debater o papel dos nutricionistas nessas entidades.

Este ciclo de seminários pretende sensibilizar a comunidade profissional e científica na área da nutrição, bem como as instituições responsáveis pela prestação de apoio social, para "a importância de olhar de forma cuidada" para o estado nutricional dos milhares de pessoas que beneficiam do trabalho destas entidades e para "a responsabilidade que o Estado e as instituições têm no sentido de facultarem uma alimentação rica e equilibrada aos cidadãos que pretendem apoiar".

Alexandra Bento salientou que, segundo dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física, uma em cada quatro crianças e, aproximadamente, um em cada três adolescentes tem excesso de peso e/ou obesidade.

"Mas este quadro poderá ser revertido", considerou, referindo que um grupo de investigação liderado por Júlio César Rocha, nutricionista e investigador do Cintesis - Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, avaliou a prevalência do excesso de peso em crianças entre os dois e os seis anos de idade, tendo concluído que "a presença de nutricionistas nas pré-escolas pode contribuir para prevenir a obesidade infantil".

Os investigadores avaliaram uma amostra de 129 crianças que frequentam um jardim-de-infância do Norte do país, onde os hábitos alimentares são supervisionados por um nutricionista há mais de uma década e a actividade física é oferecida gratuitamente duas vezes por semana.

Os resultados revelaram que a prevalência global de excesso de peso e obesidade nestas crianças é de 11,7% - uma taxa três vezes mais baixa do que a encontrada na população pediátrica em geral.

"Os dados indicam que a presença de um nutricionista que desenvolva, implemente e supervisione um plano alimentar controlado junto das crianças em idade pré-escolar é capaz de influenciar positivamente o peso dessas crianças", salienta o investigador do Cintesis, Júlio César Rocha.

A bastonária da Ordem dos Nutricionistas destaca ainda resultados de vários estudos nacionais que dão conta de taxas preocupantes de desnutrição e de obesidade entre os idosos portugueses, especialmente acentuadas no caso dos idosos institucionalizados.

Citou um estudo da Universidade do Porto - Nutrition UP 95),  por exemplo, que verificou que 14,8% de uma amostra representativa da população idosa portuguesa apresentava risco de desnutrição e que mais de um terço apresentava deficiência de vitamina D – 39,6%. Além disso, 84,9% dos idosos tinham um consumo de sal excessivo face às recomendações da Organização Mundial da Saúde, cinco gramas por dia, e 11,6% encontravam-se pouco hidratadas.

"Estes resultados revelam que é urgente garantir a intervenção de nutricionistas junto das populações mais sensíveis, as crianças e os idosos, para revertermos alguns dos problemas de saúde que afectam estes dois grupos da população", frisou a bastonária.

O encontro, que decorrerá no Cineteatro António Lamoso, em Santa Maria da Feira, é promovido pela Ordem dos Nutricionistas, pelo Centro de Apoio Social de Mozelos e pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, com o apoio do Cintesis - Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e de outros parceiros.