Operação Fátima dá a Portugal um plano de contingência para o futuro

O plano montado na área da saúde e socorro para o Centenário das Aparições foi desenhado para ser replicado em qualquer situação grave de emergência que possa vir a acontecer. Portugal fica assim com um plano de contingência actualizado e testado ao pormenor.

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Parte da equipa que montou o plano no Ministério da Saúde Rui Gaudêncio

Cerca de 1400 profissionais e centenas de meios vão estar em Fátima entre os dias 10 e 14 deste mês para garantir que qualquer problema de saúde, seja grande ou pequeno, tenha uma resposta rápida e adequada. O trabalho de planeamento e execução começou há cerca de cinco meses, coordenado por uma equipa do Ministério da Saúde, e envolveu diversas entidades e ministérios. Mas este não é apenas um plano para o Centenário das Aparições e a visita do Papa. Foi planeado e construído para poder ser executado numa qualquer situação de emergência no futuro. Portugal passa a ter um plano de contingência actualizado, testado e em que todas entidades sabem claramente o que fazer e como fazer se houver um problema grave em Portugal que envolva necessidade de socorro — como, por exemplo, uma catástrofe natural ou um atentado terrorista.

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Cerca de 1400 profissionais e centenas de meios vão estar em Fátima entre os dias 10 e 14 deste mês para garantir que qualquer problema de saúde, seja grande ou pequeno, tenha uma resposta rápida e adequada. O trabalho de planeamento e execução começou há cerca de cinco meses, coordenado por uma equipa do Ministério da Saúde, e envolveu diversas entidades e ministérios. Mas este não é apenas um plano para o Centenário das Aparições e a visita do Papa. Foi planeado e construído para poder ser executado numa qualquer situação de emergência no futuro. Portugal passa a ter um plano de contingência actualizado, testado e em que todas entidades sabem claramente o que fazer e como fazer se houver um problema grave em Portugal que envolva necessidade de socorro — como, por exemplo, uma catástrofe natural ou um atentado terrorista.

António Marques da Silva foi nomeado pelo Governo presidente da Comissão de Gestão do Plano de Contingência do Ministério da Saúde para as Comemorações do Centenário das Aparições de Fátima. Foi a ele que, nos últimos quase cinco meses, coube a sempre difícil tarefa de fazer com que as muitas entidades das mais diversas áreas se articulassem para, chegada a hora de agir, funcionarem como se fossem apenas uma.

Um objectivo que este médico, director do Departamento de Anestesiologia, Cuidados Intensivos e Emergência do Centro Hospitalar do Porto (Hospital de Santo António), diz ter sido conseguido, atribuindo os méritos do sucesso a todos os envolvidos. Foi como montar um puzzle, como afirmou ao PÚBLICO, em que “só consegue ter a imagem completa quando as peças estiverem todas juntas”. Por isso, a poucos dias de todos irem para o terreno — muitos vão mesmo viver por esta altura em Fátima, a começar pelo presidente e vários membros da comissão —, diz: “Podemos estar tranquilos com o esforço e empenho das diversas entidades.”

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Antes e depois de Fátima 2017

“Existe uma mais-valia enorme nestas situações que vai muito para além da situação em si. Se as diversas entidades têm de falar umas com as outras e perceber como podem rentabilizar melhor os meios, tudo isto é um lucro que fica para além de Fátima”, diz. Para o presidente da comissão, se acontecer uma situação inesperada “os algoritmos já estão pensados, os interlocutores já se conhecem, os meios de comunicação já estão estabelecidos, as logísticas já conseguem ser accionadas”.

O objectivo da equipa foi o de que, em matéria de socorro, “haja um antes de Fátima 2017 e um depois de Fátima 2017”. Dá como exemplo o trabalho que foi feito nos dez hospitais mobilizados, entre os quais estão os maiores do país, onde foram feitos diversos simulacros em que membros da comissão, do INEM e da protecção civil estiveram presentes, “tipo observadores externos, para ter a certeza de que o que era suposto ser feito foi feito e para avaliar o grau de resposta existente”. “Isto implicou que nos dez hospitais as pessoas fossem obrigadas, no bom sentido, a rever os planos de contingência, a actualizá-los e a testá-los. Só isto foi uma mais-valia enorme.”

“O dia-a-dia acontece, vai tudo correndo bem, vamos estando preocupados com o dia-a-dia e não valorizamos tanto o planeamento para a excepção. Depois, quando há uma data anunciada para alguma coisa que vai acontecer, ficamos um bocadinho mais preocupados, e se houver uma ocorrência real ficamos muito preocupados, mas o desafio é ter uma cultura de tratamento de áreas do que é chamado medicina de catástrofe e de como lidar com múltiplas vítimas. Se temos essa cultura enraizada e institucionalizada nas diversas entidades, isso implica maior articulação, maior comunicação, maior rentabilização de meios, maior trabalho em rede e isso tem ganhos para o dia-a-dia”, salienta.

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Tudo estudado e escrito

Todos os cenários foram estudados e testados várias vezes, porque, acrescenta António Marques da Silva, “nestas coisas não se pode deixar nada ao acaso”. “Nestes cenários é preciso ser obsessivo, exaustivo, no sentido de verificar todos os passos: por onde vão, como vão, como se comunica, o que cada um tem de fazer.” E ficou “tudo por escrito”, para que na altura de agir “ninguém tenha dúvidas” sobre o que fazer.

Outra das regras da comissão foi lutar contra “uma síndrome que os portugueses por vezes têm” — “o do coitadinho, o pensar que somos um país pobre que está na cauda da Europa”. “Somos um país que tem gente capaz e que tem alguns meios ao nível do primeiro mundo. O que nós precisamos, sobretudo nesta área, é de organização, de investir na rentabilização do que temos. E isso, às vezes, é que é o grande desafio”, afirma.

António Marques da Silva diz mesmo que, “se não somos capazes de rentabilizar o que temos, não temos idoneidade para pedir mais”. “Os problemas não se resolvem atirando dinheiro para cima deles, nem atirando mais meios. Os problemas resolvem-se rentabilizando a capacidade instalada.”

Questionado sobre os custos da operação — “uma das maiores dos últimos anos e certamente a maior operação relativa a Fátima” —, o presidente da comissão diz que não lhe cabe a ele revelá-los. Assegura, porém, que “não houve nenhuma linha de financiamento específica” para a operação ou “aproveitamento da situação” e que tudo foi feito “dentro dos orçamentos das diversas entidades envolvidas”.

“Posso dizer que o dispositivo é robusto e perfeitamente digno de um país civilizado e conseguido graças a um trabalho escrupuloso e detalhado. Esperemos que não aconteça nada, mas, se acontecer, a resposta será digna e à altura”, conclui.