A inevitável promoção de Abel Ferreira aconteceu dois anos antes

O antigo treinador da equipa B do Sp. Braga foi apresentado como novo líder dos bracarenses até 2020. Rui Águas, que trabalhou com Abel Ferreira durante ano e meio, elogia a sua “formação acrescentada”

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Abel Ferreira Mário Cruz/Reuters

Quatro meses e nove dias depois de uma pomposa estreia na I Liga como treinador, derrotando em Alvalade o Sporting, Abel Ferreira foi nesta quarta-feira oficialmente apresentado como técnico do Sporting de Braga e, curiosamente, o seu segundo jogo como treinador da principal equipa bracarense será domingo, tendo novamente os sportinguistas como adversários.

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Quatro meses e nove dias depois de uma pomposa estreia na I Liga como treinador, derrotando em Alvalade o Sporting, Abel Ferreira foi nesta quarta-feira oficialmente apresentado como técnico do Sporting de Braga e, curiosamente, o seu segundo jogo como treinador da principal equipa bracarense será domingo, tendo novamente os sportinguistas como adversários.

Com apenas 38 anos e formação de professor do 1.º  Ciclo do Ensino Básico, o substituto de Jorge Simão tinha afirmado, no final de 2017, que “até aos 40 anos estaria seguramente na formação do Sp. Braga”. Mas Rui Águas, que trabalhou com Abel Ferreira no clube minhoto, reconhece que o novo líder do Sp. Braga “não podia desperdiçar esta oportunidade”.

A 18 de Dezembro, a vitória de Abel Ferreira frente ao seu antigo treinador (Jorge Jesus) e o seu antigo clube (Sporting) foi retumbante, mas apesar dos inegáveis méritos tácticos e da audácia apresentada pelo interino técnico dos “arsenalistas”, Abel Ferreira impressionou pelo discurso fluído e estruturado após o final da partida. Para Rui Águas, não foi uma surpresa. Treinador adjunto de Jesualdo Ferreira no Sp. Braga entre 2003 e 2006, o futuro técnico do Pharco FC, clube egípcio sediado em Alexandria, trabalhou durante um ano e meio com Abel e recorda-o “bom conversador, com uma formação diferente dos demais”. Apesar de, na altura, Abel Ferreira ainda não se distinguir como um líder – “havia jogadores com muitos anos de casa e não era fácil um jovem chegar e impor-se” -, Rui Águas diz que o seu antigo pupilo era “empenhado”, mas “revoltado quando não jogava”. “Não geria bem a não utilização”, lembra.

Sobre a aposta de António Salvador no técnico da equipa B do Sp. Braga, Rui Águas diz que os treinadores valem “pelo momento”, mas considera que “faz sentido”. “Se apostam nele é porque o seu trabalho está a ser de qualidade. O Abel conhece a realidade que vai encontrar melhor do que ninguém e o presidente conhece-o como jogador e treinador”, diz Rui Águas ao PÚBLICO.

Para além das qualidades tácticas já demonstradas, Águas elogia também o discurso de Abel Ferreira, que pode ser “uma lufada de ar fresco no futebol português”. “Tem uma formação acrescentada, como eu tenho, o que é positivo. Para mim não tem feito grande diferença. Espero que faça para ele, porque é algo importante. Quantos mais recursos se tiver, melhor”, conclui Rui Águas.

E a forma eloquente como Abel Ferreira explana as suas ideias voltou a ficar bem vincada quando ontem, ao lado de António Salvador, foi anunciado como substituto de Jorge Simão e treinador do Sp. Braga até 2020. Ao contrário do seu antecessor, que assumiu um discurso de ruptura quando foi apresentado, Abel Ferreira procurou ser conciliador, garantindo que enquanto for treinador do Sp. Braga, não vai colocar-se num pedestal: “Que fique bem claro que não sou eu que vou jogar, enquanto estiver neste cargo, comigo vamos ganhar todos e perder todos.”

Sem querer definir objectivos até ao final da época - “não sei se vamos ganhar os jogos todos, mas vamos lutar até à última gota de suor” -, Abel Ferreira diz que é “preciso fazer rapidamente reset” e tentar exibir “outra atitude, outra imagem”, com os “jogadores a jogarem para ganhar, com uma filosofia que valorize o espectáculo”.

Já António Salvador, afirmou que a escolha do novo técnico foi baseada no “trabalho que está à vista de toda a gente” na equipa B e no “conhecimento que tem da casa”. “É um homem da casa e mais tarde ou mais cedo isto ia acontecer. Com a saída de Jorge Simão antecipou-se a chegada do Abel. Contratei-o em 2004 como jogador ao clube nosso vizinho [V. Guimarães], mas disse-lhe que tinha dúvidas na sua contratação, porque nem sequer era titular dessa equipa, mas pela forma como se expressou e pelo carácter que mostrou decidi contratá-lo e ainda bem porque mostrou que era um grande jogador e um líder na equipa“, disse o presidente do Sp. Braga.