“A presença do Santuário facilita-nos a vida? Não.”

Presidente da Câmara de Ourém diz que é ao município que a população recorre, quando necessita de ajuda. Santuário contrapõe com números de apoios prestados

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Adriano Miranda

Paulo Fonseca não tem dúvidas em considerar que ter Fátima no seu município é “uma benesse e não um peso”, mas isso não significa que sinta a vida facilitada pela presença do Santuário, em termos do apoio social prestado pela autarquia. “Se uma família ficou sem casa ou desempregada vai recorrer sabe a quem? À câmara. É à câmara que recorrem”, diz. O Santuário não dá valores, mas garante que no ano passado apoiou 204 pessoas.

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Paulo Fonseca não tem dúvidas em considerar que ter Fátima no seu município é “uma benesse e não um peso”, mas isso não significa que sinta a vida facilitada pela presença do Santuário, em termos do apoio social prestado pela autarquia. “Se uma família ficou sem casa ou desempregada vai recorrer sabe a quem? À câmara. É à câmara que recorrem”, diz. O Santuário não dá valores, mas garante que no ano passado apoiou 204 pessoas.

O presidente da Câmara de Ourém quer “medir bem as palavras”, mas diz que não tem “tabus” e por isso não foge à pergunta. “A presença do Santuário facilita-nos a vida? Não. Acho que a Igreja portuguesa deveria ser um pouco mais próxima do tempo em que vivemos no mundo. Gostava que a Igreja no seu todo fosse mais aberta e mais cooperante, menos conflituosa, menos dada a esse tipo de posicionamentos”, diz. Paulo Fonseca não esconde que não convive bem com o facto de ter no seu município toda uma estrutura que, fruto da Concordata, não paga qualquer imposto ao município, apesar de ser proprietária de vários imóveis. “É como dizer-lhe a si, ‘você fique descansada porque não tem que pagar o jantar, porque quem paga é aquele’. Assim é fácil. Se o Estado português diz à Santa Sé, ‘meus amigos, fiquem descansados que não pagam impostos aqui’, há que haver compensações para isso. Mas estas são contas de outro rosário”, afirma.

A juntar a isto, o autarca argumenta que é à câmara que a população se dirige, quando necessita de apoio. “Se hoje tiver um bebé e não tiver dinheiro para comprar leite, na hora tem leite para o seu bebé. Se ficar na rua, na hora tem o problema resolvido. Se tiver uma perna partida, na hora tem uma muleta. Isto é na câmara, quando devia ser também com a Igreja. Acho que devíamos ser mais humanistas, menos materialistas”, diz Paulo Fonseca.

A assessoria de imprensa do Santuário contraria esta descrição de Paulo Fonseca, garantindo, por escrito, que este presta apoio a “muitas instituições sociais e eclesiais […] em Portugal e no estrangeiro”. As ajudas, esclarece-se na resposta escrita enviada ao PÚBLICO, “é decidida por uma comissão especificamente constituída por este efeito”. O Santuário explica ainda que no ano passado foram realizados “436 atendimentos, sendo prestada ajuda económica e alimentar a 53 (famílias), medicamentos a 36 (pessoas) e acompanhamento a 23 famílias carenciadas, abrangendo um total de 204 pessoas”. A mesma fonte garante ainda que o auxílio prestado diz respeito “a despesas que vão desde a compra de medicamentos e necessidades básicas a despesas correntes, como pagamento de rendas de casas ou de livros escolares”. Algumas delas, acrescenta-se, “é prolongada no tempo na medida em que muitos dos beneficiários são pobres e idosos”.

O Santuário frisa ainda que a sua actividade social se estende aos refugiados, tendo acolhido uma família curda de sete elementos em Julho do ano passado, a quem foi entregue uma casa e o necessário apoio social e burocrático. “No início do mês de Setembro o chefe de família começou a trabalhar na secção de jardinagem do Santuário”, explica a mesma fonte, garantindo que este “criou todas as condições para que a família fosse integrada e acolhida nesta nova realidade”.

Com uma população residente de cerca de 45 mil pessoas, segundo os dados oficiais de 2015, o município de Ourém, em que se insere a freguesia de Fátima, apresenta indicadores mais favoráveis do que os municípios com dimensões semelhantes na região do Médio Tejo – Abrantes, (quase 37 mil habitantes), Tomar (perto de 38.400) e Torres Novas (perto de 35.700). Apesar de ser, dos quatro municípios, o que tem mais população, em 2015, apresentava menos desempregados inscritos no centro de emprego – 1343 – do que Abrantes (2039) ou Tomar (1476), ficando muito perto dos números de Torres Novas (1320), que tem quase menos dez mil habitantes.

Ourém também apresenta melhores indicadores em relação aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção. Os dados de 2015 indicavam que apenas 0,8% dos residentes em Ourém beneficiavam desta prestação, enquanto a percentagem subia para 3,3% em Abrantes, 2,6% em Tomar e 1,4% em Torres Novas.