O irmão cão

Um cão nosso amigo tem um irmão. O irmão é tão parecido com ele que é impossível não os confundir. No entanto, é outro cão. Nós sabemos que é outro cão, porque quando falamos com ele — “Olá, Toureiro! Como estás tu?” —, ele vira a cara e não nos liga nenhuma. Nós, pela parte que nos toca, sentimo-nos idiotas e saímos dali.

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Um cão nosso amigo tem um irmão. O irmão é tão parecido com ele que é impossível não os confundir. No entanto, é outro cão. Nós sabemos que é outro cão, porque quando falamos com ele — “Olá, Toureiro! Como estás tu?” —, ele vira a cara e não nos liga nenhuma. Nós, pela parte que nos toca, sentimo-nos idiotas e saímos dali.

Com o tempo afeiçoámo-nos ao irmão. Ele é que não há maneira de engraçar connosco. No fundo, ele deve levar a mal a festa que fazemos sempre que nos encontramos com o irmão. Na euforia do momento esquecemo-nos sempre de fazer uma festinha ao outro cão que é o cão irmão, que é ele.

A última vez que nos encontrámos com o irmão cão foi no Parque Panagini. O Parque Panagini é um sítio para fazer piqueniques que toda a gente pensa erradamente ser dedicado ao compositor Niccolò Paganini. Diz-se, também erradamente, que o homem que pintou a tabuleta a assinalar o Parque Paganini estava bêbado e enganou-se. Algum autarca com bom coração terá tido pena do pintor e é por isso que o erro nunca até hoje terá sido corrigido.

Na verdade o parque chama-se de facto Panagini e é dedicado a Ferruccio Panagini, um célebre jogador de hóquei em patins.

Não sei se o irmão cão sabe o nome do parque ou se está consciente da confusão que reina em torno dele. Mas sabe, de certeza, que não sabemos o nome dele. É o que lhe basta para nos esnobar.

Nós não temos maneira de saber. Pressentimos que ele é capaz de cheirar a nossa ignorância acerca de quase tudo. E não gosta nada.