Era só o mail, OK?

“Pode-me dar o seu mail? Tenho uma coisa que eu queria mandar-lhe.” É assim que começa. Quem é que é capaz de recusar? Depois temos de escrever o mail num papel para dar àquela pessoa. Em vão se perguntará se ela tem um papel ou uma caneta. Não, pede desculpa. Não pode decorar? Não, precisa mesmo duma lembrança escrita. Até para mostrar: “Olha, até tenho aqui o mail desse macaco...”

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“Pode-me dar o seu mail? Tenho uma coisa que eu queria mandar-lhe.” É assim que começa. Quem é que é capaz de recusar? Depois temos de escrever o mail num papel para dar àquela pessoa. Em vão se perguntará se ela tem um papel ou uma caneta. Não, pede desculpa. Não pode decorar? Não, precisa mesmo duma lembrança escrita. Até para mostrar: “Olha, até tenho aqui o mail desse macaco...”

Com tempo, arranja-se uma caneta e uma folha de papel. Escreve-se o mail. A pessoa recebe o talão, inspecciona-o para ver se não escrevemos alguma bojarda, tipo vaichatear@ocamoes.pt, e guarda-o.

Três dias depois aparece um mail longo que começa “Conforme combinado...” Em prosa já muito copiada e pastada, que obviamente já beneficiou de ampla propagação junto de todas as entidades públicas do país, propõe-se que auxiliemos o remetente a atingir um objectivo apaixonante como a realização de um festival de sushi para jovens reformados que não gostam de peixe ou de japoneses.

É preciso responder imediatamente para evitar o reenvio do mail com uma mensagem seca e agressiva (“Por acaso teve ocasião de dar uma vista de olhos...”) que sugere que nos achamos importantes de mais para estar a perder tempo com os projectos de vida da arraia-miúda.

Seria mais rápido levar, logo no sítio do primeiro encontro, uma boa seca das antigas, em carne e osso. Mas os chatos são espertos e não vão nisso, porque isso não deixa pegada ecológica que se veja. Não, eles “preferem mandar a documentação”. Claro que preferem.