Falta de qualidade ou "democratização" do erro na arbitragem?

A polémica em torno da arbitragem nacional e de alguns dos lances mais controversos dos últimos jogos não encontra consenso nem entre os membros que integram ou já integram o meio.

Foto
A arbitragem em portugal está debaixo de fogo AFP/GLYN KIRK

O cenário não é inédito e repete-se de ano para ano. A arbitragem volta a estar no centro da permanente tormenta que é o futebol português e a mais recente polémica envolveu a eliminação do Sporting da Taça da Liga, no Estádio do Bonfim, após um controverso penálti assinalado nos descontos da partida com o Vitória de Setúbal. No centro das críticas está Rui Oliveira, um jovem árbitro, que ascendeu à primeira categoria na temporada passada. É um dos dez novos juízes que entraram no escalão principal nos últimos três anos, numa lógica de renovação, que torna o actual quadro da arbitragem das competições profissionais no mais jovem de sempre. Mas será esta inexperiência um sinal de falta de qualidade ou o problema passa pela “democratização” do erro que passou a afectar os três grandes do futebol português (embora esta avaliação dependa muitas vezes do ponto de vista do observador)? As opiniões de ex-árbitros e dirigentes do sector dividem-se.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O cenário não é inédito e repete-se de ano para ano. A arbitragem volta a estar no centro da permanente tormenta que é o futebol português e a mais recente polémica envolveu a eliminação do Sporting da Taça da Liga, no Estádio do Bonfim, após um controverso penálti assinalado nos descontos da partida com o Vitória de Setúbal. No centro das críticas está Rui Oliveira, um jovem árbitro, que ascendeu à primeira categoria na temporada passada. É um dos dez novos juízes que entraram no escalão principal nos últimos três anos, numa lógica de renovação, que torna o actual quadro da arbitragem das competições profissionais no mais jovem de sempre. Mas será esta inexperiência um sinal de falta de qualidade ou o problema passa pela “democratização” do erro que passou a afectar os três grandes do futebol português (embora esta avaliação dependa muitas vezes do ponto de vista do observador)? As opiniões de ex-árbitros e dirigentes do sector dividem-se.

“Têm havido muitos erros esta época, mas, mais do que é habitual, envolvendo os jogos dos grandes, o que provoca sempre mais ruído”, defendeu ao PÚBLICO o antigo árbitro Jorge Faustino: “Quando temos este ano as três equipas grandes a queixarem-se recorrentemente das arbitragens, teremos outras 15 a dizerem que finalmente não são apenas elas a ser prejudicadas. É uma democratização.” Mas o que mudou? “Acho que os árbitros estão hoje mais protegidos e mais libertos para decidir independentemente do jogo e dos protagonistas. E, se calhar, estão também a ser mais protegidos internamente pelo sector, porque não se têm notado grandes alterações nas suas actuações desde o início da época. O lance de Setúbal poderia suscitar dúvidas à primeira vista, mas o árbitro não teve nenhumas, talvez por indicação do assistente, que viu um empurrão na área já nos descontos.”

O lance não teve uma interpretação unânime, mesmo recorrendo às imagens televisivas, mas o que ficou patente foi a incapacidade do jovem árbitro em controlar a tempestade de protestos que se seguiram por parte dos sportinguistas. Este é um dos problemas da inexperiência do actual quadro da arbitragem. Uma renovação inédita, com aspectos positivos e negativos, na opinião do ex-árbitro Duarte Gomes.

“É complicada a passagem do futebol amador para o futebol profissional. São realidades muito distintas. Este salto tem de ser dado de uma forma gradual e tranquila”, defende Duarte Gomes, apesar de salientar que não está aqui em causa a qualidade média dos novos rostos da arbitragem: “É a mesma coisa que um plantel de uma equipa começar do zero, com muito juniores. Por muito talento que exista, o seu sentido competitivo ainda não está maturado. Quem gere a arbitragem tem de ter o bom senso nas nomeações. Deve gerir os momentos em que estes jovens são lançados, sobretudo para sua salvaguarda e da própria competição.”

Mais cáustico é o antigo árbitro Jorge Coroado que qualifica como “fraca” a qualidade técnica desta nova fornada. “Dos novos que emergiram no quadro cimeiro da arbitragem portuguesa não há um que se destaque pela personalidade e autoridade ou pela imposição técnica e disciplinar. Exceptuando a condição física, estão mal preparados, não lhes deram tempo suficiente. Baixaram apenas a média de idades para demonstrar uma renovação.”

Uma opinião que não é partilhada por Luciano Gonçalves, presidente da APAF (Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol). “Esta inexperiência não é, de forma nenhuma, sinónimo de falta de qualidade. Alguns destes novos árbitros na primeira categoria têm já uma longa experiência acumulada nos campeonatos nacionais. Têm estaleca. Quando erram olhamos para eles por serem recentes no primeiro escalão e a sua imagem não ter ainda grande peso. Isso nota-se também ao nível das avaliações.”

E Jorge Faustino reforça que o erro não é um exclusivo dos jovens, dando exemplos que envolveram o próprio Sporting esta temporada. “Já se queixou em jogos que tiveram como protagonistas dois dos reconhecidos melhores árbitros portugueses: Artur Soares Dias, que não assinalou um empurrão a um jogador 'leonino', em Guimarães, que deu um golo; Jorge Sousa, no derby do Estádio da Luz.”