“Temos acordos para alcançar os 1200 postos de trabalho nos próximos dois anos”

Fundão está a crescer e o autarca já diz que há "carência de casas" para acolher todos os jovens que estão a chegar à terra.

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Adriano Miranda

O presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes, está sentado num sofá do seu gabinete, orgulhoso da estratégia que engendrou para atrair empresas e trabalhadores qualificados. Está certo de que, para lá do número de postos de trabalho, está em causa “uma coisa que é intangível mas que faz a diferença, que é a democratização da inovação”.

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O presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes, está sentado num sofá do seu gabinete, orgulhoso da estratégia que engendrou para atrair empresas e trabalhadores qualificados. Está certo de que, para lá do número de postos de trabalho, está em causa “uma coisa que é intangível mas que faz a diferença, que é a democratização da inovação”.

Como é que isto tudo começou?
É preciso, pelo menos, alguma coragem para um território rural, que não tem uma universidade ou um politécnico, se posicionar na área de desenvolvimento de software. Achei que o Fundão, pelas suas características rurais, pelo seu estilo de vida, poderia atrair programadores, freelancers, do mundo inteiro. Começamos com uma campanha que tinha alguma piada, que depois parámos, claro: ‘Se estás farto de estar em Singapura ou em Nova Iorque, vem programar para Castelo Novo, que é uma aldeia histórica, medieval. Nós ajudamos a financiar os primeiros seis meses.’

E foi alguém para Castelo Novo?
Não. O que aconteceu foi que chamei a atenção de grandes empresas. Acharam piada porque temos dois aspectos inovadores. Criamos uma bolsa de arrendamento low-cost e temos um programa de formação avançada. Somos investidores no capital humano. Se uma empresa precisa de um determinado perfil, se há uma pessoa que se quer requalificar, nós investimos. São áreas muito especializadas. Estamos a falar, às vezes, de linguagens. Muitas vezes, se fôssemos para a formação convencional, nem havia formadores, era preciso ir buscar o formador a outros países. Nós referimos: que não seja pela falta de um recurso altamente especializado que não se possa desenvolver o nosso ecossistema. Falamos com a universidade, os politécnicos, o instituto de emprego, criámos sinergias. Em pouco dias conseguimos soluções à medida.

Houve quem reagisse mal a essa política de renda apoiada para atrair trabalhadores qualificados?
Eu não tenho o mesmo programa para as pessoas do Fundão. Ora, quem é do Fundão pode perguntar: por que é que a câmara está a apoiar a renda de um engenheiro que vem de Lisboa e não a minha? E aí entra outra questão que é de ter um plano de intervenção bem definido e executá-lo, não andar às curvas. Eu tenho este programa de atracção de empresas e de criação de valor para as empresas do concelho que queiram expandir-se. Devo dizer que hoje a contestação é menor do que quando comecei e que isso tem a ver com os resultados.

Quantos trabalhadores qualificados se mudaram para o Fundão?
Isto teve um crescimento muito superior ao contratualizado inicialmente. Estamos a crescer. Temos 500 postos de trabalho directos nas onze empresas que neste momento estão colocadas no Fundão. Temos acordos para alcançar os 1200 postos de trabalho nos próximos dois anos. E eu estou permanentemente em negociações para continuar a atrair empresa e start-ups.

Já há falta de casas?
Esse é um indicador que mostra que alguma coisa mudou. Nós não tínhamos T1 e T2. Nós não tínhamos mercado de arrendamento. Hoje, temos mercado de arrendamento e estamos com carência de casas por causa da atracção de jovens e não só que trabalham aqui. Nem tudo é simples em muitos aspectos numa terra de cerejas que de repente também é terra de tecnologias de informação e comunicação. Já estamos a fazer a ligação entre a parte agrícola e a tecnologia. Ajuda termos cá estas empresas, porque trazem muita massa crítica. Isto não é só postos de trabalho directos, não é só riqueza, é uma coisa que é intangível mas que faz a diferença, que é a democratização da inovação. Ter acesso a inovação é importante para o que pode ser a regeneração do território.

E a habitação?
Pois isso é um problema. Já estamos a mobilizar e a sensibilizar [construtores civis], pelo menos há dois anos a esta parte. Estamos a ganhar notoriedade e as pessoas começam a acreditar. Começa a haver muito mais investimento também na componente imobiliária para o mercado de arrendamento, coisa muito difícil porque no interior do país houve muitas falências, muitas mesmo. Alguns lotes, na zona consolidada da cidade, ficaram a meio com a crise. Vamos dar um impulso para facilitar a regeneração das casas e alguma construção na zona consolidada. Vamos precisar de 350 a 400 fogos nos próximos dois anos e meio.

Quanto é que a câmara gasta por ano com este programa?
À volta de 140 mil euros. Isto tem um payback de cinco anos e meio, ou seja, em cinco anos e meio eu recebo todo o dinheiro público que investi. Isto é sensivelmente tanto quanto pode custar a requalificação de uma rotunda, para falar em algo que se associa muito aos autarcas. Eu tenho muitas rotundas que não estão requalificadas, que não têm nada lá em cima. Fazer uma obra é a coisa mais simples para um autarca. Às vezes, o difícil é pagá-la. É diferente atrair uma empresa ou fazer com que as empresas do concelho se internacionalizem ou que start-ups vejam aqui um bom ecossistema para se desenvolverem. São valências novas. Já temos acordo com a base tecnológica, criámos o primeiro co-working e o primeiro fab-lab, temos um centro de biotecnologia na área vegetal. Há uma mudança de paradigma relativamente ao que fazem os presidentes de câmara. Eu digo que este vai ser o caminho, sobretudo, em regiões como a nossa.