O trabalhão de viver

Não é bom pensar muito na nossa vida.

Estamos sempre a perguntar para onde foi o tempo, porque é que já são cinco da tarde ou sexta-feira outra vez. Farto deste estado perguntativo e da ansiedade que me cobra perdi uma hora a fazer uma lista de tudo o que faço desde levantar-me até apagar a luz para dormir. A lista é chocante por ser comprida e repetitiva mas o que mais deprime é a falta de escolha ou alternativa para quase todas as actividades que ocupam tempo.

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Estamos sempre a perguntar para onde foi o tempo, porque é que já são cinco da tarde ou sexta-feira outra vez. Farto deste estado perguntativo e da ansiedade que me cobra perdi uma hora a fazer uma lista de tudo o que faço desde levantar-me até apagar a luz para dormir. A lista é chocante por ser comprida e repetitiva mas o que mais deprime é a falta de escolha ou alternativa para quase todas as actividades que ocupam tempo.

Quando se está clinicamente deprimido nenhuma dessas coisas interessa e descobre-se que muito poucas são verdadeiramente essenciais. Mas o tempo livre da depressão é aterrador. Não é fisicamente possível ir comprar o pão porque não se consegue sair de casa, porque é difícil levantarmo-nos de onde nos escondemos. Todas as depressões são diferentes: a mim deu-me para ler livros que não me interessavam, desde a primeira à última letra.

Assim ocupava o tempo quase todo. Não era uma vontade minha: era uma maneira metódica de seguir de um momento para outro. Se calhar todas as actividades rotineiras e entediantes que comem grandes fatias da nossa vida constituem uma gigantesca distracção que nos impede de passarmos muito tempo a pensar nela, na nossa vida.

Não é bom pensar muito na nossa vida. O melhor é vivê-la e tentar cansar o pensamento a pensar em coisas que nos são alheias, irremediavelmente distantes. As distracções são maravilhosas mas é impossível esquecer o trabalho que deu expormo-nos a elas e o trabalho que nos espera quando acabarem.