Produto usado no controlo de gaivotas nos Açores pode ter implicações na saúde pública

Denúncias reportam a morte de várias gaivotas e cães. Direcção Regional não descarta a possibilidade desta substância ter implicações na saúde pública e já notificou o Delegado de Saúde.

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A “praga das gaivotas” em São Miguel, não é de agora. Miguel Madeira

A Direcção Regional do Ambiente (DRA) dos Açores suspendeu, na passada quarta-feira, a realização dos testes de controlo da população de gaivotas junto ao aterro municipal de São Miguel após a morte de várias gaivotas. Os testes, que consistiam na colocação de “iscos” – pequenos sacos com Pentobarbital de Sódio, uma substância utilizada no controlo de pragas -, eram levados a cabo pela empresa municipal de operações do ambiente, Musami.

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A Direcção Regional do Ambiente (DRA) dos Açores suspendeu, na passada quarta-feira, a realização dos testes de controlo da população de gaivotas junto ao aterro municipal de São Miguel após a morte de várias gaivotas. Os testes, que consistiam na colocação de “iscos” – pequenos sacos com Pentobarbital de Sódio, uma substância utilizada no controlo de pragas -, eram levados a cabo pela empresa municipal de operações do ambiente, Musami.

Esta substância sintética, usada de forma comum como sedativo e hipnótico, provocou a morte de várias gaivotas durante a semana passada. Na sexta-feira, data em que foi notificada, a DRA recolheu amostras para análise e comprovou, “como esperado pelo veterinário municipal”, que a substância usada nos testes tinha provocado a morte dos animais, afirmou ao PÚBLICO Olívia Granada, da DRA.

A Direcção Regional não descarta, no entanto, a possibilidade desta substância ter implicações na saúde pública. Nesse sentido, foram recolhidos novas amostras e serão realizadas, “nos próximos dias”, contra-análises para tentar perceber as implicações desta substância nos seres humanos.

Esta quinta-feira, a DRA notificou a Delegação de Saúde de Ponta Delgada sobre esta situação, “para conhecimento da delegação, não para alarme”, acrescentou Olívia Granada.

As novas análises pretendem ainda averiguar se existe alguma relação entre a morte destas aves e as de, pelo menos, dois cães encontrados nas imediações do aterro municipal. Na terça-feira, chegaram denúncias da morte de dois cães à Quercus São Miguel. As denúncias, que Rui Teixeira, presidente da associação, considera “muito fundamentadas”, apontam para um envenenamento junto à lixeira.

Denúncias que a Musami afirmou não ter tido conhecimento. "Não existe materialmente qualquer prova que qualquer cão tenha morrido devido à ação de teste de controlo de gaivotas no Ecoparque da Ilha de São Miguel", garantiu ao PÚBLICO Carlos de Andrade Botelho, director geral da empresa municipal, esta sexta-feira.

Para além da suspensão dos testes, a DRA pediu à Musami que fossem retirados os “iscos” que ainda possam existir no local. A empresa municipal afirmou que já tinham sido "retirado as armadilhas e não era sequer necessária a notificação".

Carlos de Andrade Botelho esclareceu, numa resposta enviada por email, que as armadilhas foram colocadas pela autoridade sanitária de Ponta Delgada e, citando as conclusões do veterinário municipal, "foi utilizado um produto adequado ao tipo de animal num contexto de proteção da saúde humana, dado as gaivotas serem um vetor (portadores de doenças tal como os ratos)." O director da Musami defendeu ainda que "os animais que transportam doenças e que afetam o ser humano e atividades económicas devem ser controlados, não exterminados" e que os testes foram realizados "ao abrigo da lei aplicada aos aterros nos Açores."

“Não é raro o uso de venenos”

Rui Teixeira destaca que esta situação, “infelizmente, nada tem de extraordinário. Nos Açores, não é raro o uso de venenos”. Dá como exemplo a protecção, “muitas vezes”, usada pelos criadores de vitelos face aos cães vadios: “Não é nenhuma raridade – até é habitual – ver-se comida envenenada a proteger os vitelos”.

Na página de Facebook da associação, dois posts denunciam a morte de dois cães, que apareceram mortos junto a gaivotas.

A associação ambientalista pede à população para não tocar em nenhuma ave. “Estas podem estar envenenadas com substâncias altamente perigosas, com consequências tanto para seres humanos como para animais domésticos”, lê-se na rede social da Quercus São Miguel.

Rui Teixeira lamenta que a Direcção Regional do Ambiente “não tenha feito nada para isto não aconteça”, referindo a falta de regulamentação e sensibilização para o uso abusivo destas substância. O presidente da Quercus São Miguel apela a que as pessoas “não usem venenos sem conhecerem as suas implicações.”

A “praga das gaivotas” em São Miguel, confirmada pela DRA e pela Quercus, não é de agora. Já este ano, em Fevereiro, a manchete do Açoriano Oriental dava conta de que a empresa Portos dos Açores se dizia “impotente” para banir gaivotas na marina de Ponta Delgada. Em 2014, o mesmo jornal reportava as queixas dos agricultores perante “a praga” das gaivotas.

 

Atualizado esta sexta-feira pelas 13h, para incluir respostas da Musami. A empresa municipal respondeu às perguntas do PÚBLICO esta manhã.