Será o Deutsche Bank o teste decisivo para as regras da banca europeia?

Receios de que o governo alemão se recuse a resgatar o maior banco do país em caso de necessidade, criando um “Lehman Brothers europeu” agravaram descidas na bolsa.

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Acções do Deutsche Bank têm estado em queda Reuters/TOBY MELVILLE

Com as acções a caírem mais de 20% desde o início do mês, a enfrentar a ameaça de uma multa de 14 mil milhões de dólares nos Estados Unidos e com cada vez mais analistas a encontrarem sinais de fragilidade nas suas contas, o Deutsche Bank é agora o novo foco da crise do sector bancário europeu. E arrisca-se mesmo a constituir o teste decisivo para as novas regras bancárias da zona euro, criticadas em países como a Itália e Portugal, mas até agora defendidas com determinação pela Alemanha.

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Com as acções a caírem mais de 20% desde o início do mês, a enfrentar a ameaça de uma multa de 14 mil milhões de dólares nos Estados Unidos e com cada vez mais analistas a encontrarem sinais de fragilidade nas suas contas, o Deutsche Bank é agora o novo foco da crise do sector bancário europeu. E arrisca-se mesmo a constituir o teste decisivo para as novas regras bancárias da zona euro, criticadas em países como a Itália e Portugal, mas até agora defendidas com determinação pela Alemanha.

As dúvidas em torno do maior banco alemão (e um dos maiores do mundo) existem praticamente desde o início da crise financeira. Mas nas últimas semanas adensaram-se com a notícia de que a autoridade reguladora do sistema financeiro nos Estados Unidos se prepara para exigir ao Deutsche Bank o pagamento de uma indemnização de 14 mil milhões de euros pelo seu papel no deflagrar da crise financeira internacional em 2008.

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Esta potencial multa, embora ainda possa ser sujeita a uma negociação, é de um montante tão elevado que seria capaz de colocar o banco alemão em sérias dificuldades para continuar a cumprir os rácios de capital que lhes são exigidos. Isto mesmo num cenário em que a multa ficasse consideravelmente abaixo dos 14 mil milhões agora exigidos, até porque questões como a exposição do Deutsche Bank aos mercados de derivados continuam a ensombrar a saúde financeira da instituição bancária.

É por isso que, nos mercados, parece ser neste momento um dado adquirido que o Deutsche Bank irá ter que reforçar, nos próximos tempos, o seu capital. É o que afirma, por exemplo, um analista de uma firma de investimento internacional, citado pelo Financial Times: “Praticamente toda a gente está agora convencida que [o Deutsche Bank] vai ter de reforçar o seu capital. Eles ficaram sem margem para erro, não vejo como é que o podem evitar”.

Esta necessidade de reforço de capital, que diluiria os montantes detidos pelos actuais accionistas, é o principal motivo pelo qual as acções do banco têm vindo a perder uma grande parte do seu valor nos mercados bolsistas. Desde o início do ano, os títulos do Deutsche Bank caíram mais de 50%, com a queda a cifrar-se em mais de 20% durante este mês.

O clima de incerteza nos mercados ainda mais grave se torna neste momento porque subsiste a dúvida sobre como é que esse reforço de capital poderá vir a ser feito. A hipótese preferida pela administração do banco e pelas autoridades é, claro, obter esse capital junto de investidores privados. Há quem assinale que o Deutsche Bank tem como almofada de segurança um volume avultado de títulos de dívida que podem ser convertidos em acções, ajudando a recolocar os rácios a níveis saudáveis caso seja necessário.

O problema é se esse dinheiro vindo dos privados não chegar. Será que aí haveria dinheiro público disponível para ajudar?

A primeira resposta dada pelo Governo alemão durante esta semana pareceu indicar que a disponibilidade não é muita. “Não há qualquer base para uma especulação desse tipo”, afirmou o porta-voz do governo liderado por Angela Merkel quando questionado sobre a possibilidade de uma intervenção pública no Deutsche Bank. A própria chanceler preferiu esta terça-feira não fazer comentários sobre o assunto.

Ao mesmo tempo, Hans Michelbach, um membro destacado do partido de Merkel, tomava uma posição muito mais clara. “É inimaginável que viéssemos a ajudar o Deutsche bank com dinheiro dos contribuintes. Isso conduziria a um protesto da opinião pública”, afirmou citado pela Bloomberg.

Estes sinais vindos de Berlim criaram ainda mais nervosismo nos mercados, já que colocaram em causa a ideia há muitos anos consolidada de que o Deutsche Bank é “demasiado grande para falir” e que o Estado alemão acabará sempre por o resgatar, em caso de necessidade.

A questão é que, para Merkel, o problema não está só na reacção que a opinião pública alemã poderia ter a um resgate. Desde o início do ano, entraram em vigor as novas regras para o sector bancário da zona euro que não permitem que ocorra uma injecção de capital por parte do Estado antes de accionistas, credores e mesmo grandes depositantes assumirem as suas perdas.

Até agora, a Alemanha tem-se apresentado, perante o apelo a uma maior flexibilidade nas regras feito por outros países, especialmente a Itália, como a grande defensora do novo regime. Uma mudança de opinião brusca apenas para salvar o Deutsche Bank poderia constituir um golpe fatal para a legitimidade da Alemanha pedir que outros países cumpram estas e outras regras.

Para Angela Merkel este seria um desafio difícil. Como afirmou recentemente o FMI, o Deutsche Bank é “o banco que mais contribui para riscos sistémicos” e isso significa que um cenário de perdas para accionistas e credores poderia ter um impacto muito significativo no resto do sistema financeiro mundial. Nesse momento, Merkel teria de decidir se estava disposta a arriscar fazer do Deutsche Bank um “Lehman Brothers europeu” ou se preferia sacrificar, com elevados custos políticos, as regras bancárias europeias.