Governo dá quatro meses ao Exército para avaliar curso de Comandos

Ficam suspensos os próximos cursos, mas o actual mantém-se. Será feita uma avaliação clínica aos formandos do actual curso e uma inspecção técnica extraordinária às "provas de classificação e selecção de comandos".

Foto
PÚBLICO/Arquivo

O Exército tem quatro meses para apresentar as conclusões da avaliação ao curso de Comandos anunciada nesta quinta-feira. Em causa está a inspecção técnica extraordinária cujo relatório terá de ser entregue ao ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, adiantou ao PÚBLICO fonte da tutela.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Exército tem quatro meses para apresentar as conclusões da avaliação ao curso de Comandos anunciada nesta quinta-feira. Em causa está a inspecção técnica extraordinária cujo relatório terá de ser entregue ao ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, adiantou ao PÚBLICO fonte da tutela.

A inspecção irá servir para avaliar “as provas de classificação e selecção de comandos” e os “seus referenciais”, explicou o Exército num comunicado enviado ao início da tarde desta quinta-feira. Poderá estar em causa a qualidade do processo de selecção clínica e física dos jovens que o Exército aceita nos cursos de comandos?

O Ministério da Defesa Nacional não responde, mas o Exército não afasta qualquer possibilidade. “Não é uma questão de receio quanto a algum problema no processo de selecção. É uma questão de querermos verificar todos os procedimentos. Tudo está em cima da mesa”, disse ao PÚBLICO o porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira. O mesmo responsável disse desconhecer ao início da noite desta quinta-feira o prazo acordado para o Exército entregar as conclusões da inspecção ao Governo.

A inspecção técnica extraordinária é um processo interno do Exército conduzido pela Inspecção-Geral do Exército. A Polícia Judiciária Militar está igualmente a investigar o caso e também a Procuradoria-Geral da República confirmou ter aberto um inquérito-crime.

No imediato, o chefe do Estado-Maior do Exército decidiu suspender a abertura de mais cursos para a formação de comandos. Mas o 127.º curso, que actualmente decorre, e que ficou recentemente marcado pela morte de um jovem militar, irá continuar, sendo apenas alvo de uma “suspensão temporária” para “a execução de uma avaliação clínica aos formandos” no “Centro de Saúde Militar de Coimbra”.

O porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira, sublinhou também que o actual curso vai continuar de forma “controlada e adaptada”.

O comunicado surgiu algumas horas depois de o ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, ter anunciado que os cursos de comandos ficariam suspensos até que se apurem as causas da morte do militar no passado domingo durante um treino que decorria sob intenso calor. José Azeredo Lopes falou então à RTP em Londres, onde participa numa reunião ministerial de Defesa dedicada às operações de manutenção de paz nas Nações Unidas.

Na nota divulgada, o Exército dá conta de que a decisão de suspender os cursos partiu do “chefe do Estado-Maior do Exército, general Frederico José Rovisco Duarte, no âmbito das suas competências” e em “articulação” com o ministro da Defesa Nacional.

A competência para a suspensão do curso, sublinhou o porta-voz do Exército, pertence ao chefe do Estado-Maior do Exército, cujas decisões têm sido "coordenadas e acertadas" com o gabinete do ministro da Defesa.

Segundo o tenente-coronel Vicente Pereira, os próximos cursos de comandos estão suspensos, já que o chefe do Estado-Maior do Exército pretende "aguardar as conclusões dos inquéritos que estão a decorrer, analisá-las e verificar se há necessidade de proceder a alguma alteração nos próximos". "Só depois da análise feita é que se determinará o passo seguinte a dar", sublinhou o responsável.

No Hospital Curry Cabral, em Lisboa, continua internado um militar com complicações hepáticas e a necessitar de um transplante de fígado. Já no Hospital das Forças Armadas, também em Lisboa, permanecem internados quatro outros militares, sendo a sua situação clínica estável.

O Regimento de Comandos foi reactivado em 2002 depois de ter sido extinto em 1993 na sequência da morte de três jovens militares durante vários cursos, duas delas por exaustão. Criados no início dos anos 1960, os comandos tiveram a sua maior intervenção durante a guerra colonial, perdendo depois disso algum protagonismo.