A dobradinha fugiu a Almaz Ayana

Campeã olímpica dos 5000m perdeu para a queniana Vivian Cheruiyot a final dos 10.000m. No salto com vara, o ouro vai para a Grécia.

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Vivian Cheruiyot, do Quénia, disparou na parte final dos 10.000m e garantiu o ouro REUTERS/Lucy Nicholson

Para além de Usain Bolt e de se saber se ele iria conseguir chegar a uma terceira medalha de ouro no Rio de Janeiro, na prova de 4x100m com a selecção jamaicana, ficava também a questão de se apurar se Almaz Ayana, a grande vencedora dos 10.000m no dia inaugural do atletismo, com recorde mundial, iria juntar a essa proeza o título dos 5000m na final desta madrugada.

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Para além de Usain Bolt e de se saber se ele iria conseguir chegar a uma terceira medalha de ouro no Rio de Janeiro, na prova de 4x100m com a selecção jamaicana, ficava também a questão de se apurar se Almaz Ayana, a grande vencedora dos 10.000m no dia inaugural do atletismo, com recorde mundial, iria juntar a essa proeza o título dos 5000m na final desta madrugada.

Livre da sua compatriota Genzebe Dibaba, a única que lhe tem feito frente recentemente na légua – e que escolheu estar nos 1500m, tendo perdido… –, para Ayana a grande questão que se punha era saber qual a táctica a utilizar para chegar a este novo sucesso, sendo que aceitar uma chegada conjunta ao sprint seria para ela sempre algo arriscado. As adversárias, a priori, constituíam um factor menos importante.

A final foi lançada com um primeiro quilómetro não muito rápido, próximo dos três minutos, e logo a seguir a etíope mostrou ao que vinha, acelerando o ritmo para se isolar na frente, partindo o pelotão e ganhando clara vantagem sobre as três quenianas que se uniram na sua perseguição, Vivian Cheruiyot, a medalhada de prata dos 10.000m, Hellen Obiri e Mercy Cherono.

O andamento subiu de tom e Ayana passou aos 3km em 8m47,80s, sendo projectável um tempo para perto do recorde mundial. Tudo parecia evidente, mas subitamente a etíope começou a perder alguma da vantagem que tinha e as quenianas começaram a acreditar que ela era mortal, afinal, como as outras. E rapidamente Cheruiyot e Obiri viriam a alcançar Ayana, a volta e meia do fim, deixando-a para trás de imediato. Foi um autêntico acto de predação e a prova ficou aí decidida. Quanto ao resto, já se sabe que Cheruiyot é muito rápida a finalizar e ela fê-lo em 14m26,17s, recorde olímpico, contra 14m29,77s de Obiri e 14m33,59s de Ayana, enquanto a outra queniana, Mercy Cherono, ficava ainda no quarto lugar (14m42,84s), adiante da segunda etíope, Sembere Teferi (14m43m75s.)

Tratou-se de uma completa desforra do Quénia face ao que acontecera na dupla légua e Ayana ficou tão abalada que nem conseguia, na entrega das medalhas, olhar bem para sua rivais africanas.

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Almaz Ayana não se mostrou satisfeita com o bronze conquistado nos10.000m REUTERS/Lucy Nicholson

A outra final individual feminina da jornada foi a do salto com vara e pareceu ir acabar cedo quando as duas primeiras medalhadas de Londres há quatro anos, a americana Jennifer Suhr (ouro) e a cubana Yarisley Silva, falharam os 4,70m, ficando ambas em sétimo lugar. No entanto, a outra americana, Sandi Morris, esteve ao seu melhor nível e com a ajuda da jovem neozelandesa Eliza McCartney levou a contenda mais para cima, face, à grega Ekaterini Stefanidi.

Foi mesmo McCartney quem passou 4,80m ao primeiro ensaio, igualando o seu recorde nacional e criando a ilusão de que poderia aos 20 anos tornar-se campeã olímpica. Morris e Stefanidi só o fizeram ao segundo salto mas a 4,85m conseguiram inverter posições com a neozelandesa, passando ambas à segunda, enquanto esta falhava os três ensaios disponíveis e ficava certa com a medalha de bronze.

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Neste contexto Stefanidi estava em vantagem sobre Morris, pois esta tivera um derrube excedentário a 4,70m, em relação à grega, o que se mostrou pesado nas contas finais. Assim Stefanidi assistiu ansiosa ao último salto da americana a 4,90m – se ela passasse, ficaria com o ouro. E raramente se viu um salto tão azarado como esse. Sandi Morris estava totalmente do lado de lá da fasquia e bem acima dela, mas um imperceptível toque com o pé acabou por a derrubar, e o título rumou à Grécia.

A final masculina do lançamento do martelo tinha ficado privada do seu grande favorito, o polaco Pawel Fajdek, eliminado de forma inesperada e misteriosa, e tonara-se subitamente muito aberta.

Iam competir atletas regulares ao longo do ano, como Dilshod Nazarov, do Tajiquistão, velhas glórias, como o bielorrusso Ivan Tsikhan (que entretanto viu anulada por suspensão a segunda marca de sempre na disciplina, de 86,73m) ou o húngaro Krisztián Pars, campeão olímpico em Londres, e representantes da nova geração, como o quatari Ashraf Elseify, o recordista mundial júnior. Foi mesmo Dilshod Nazarov quem se impôs, com 78,68m ao quinto ensaio, face a um Tsikhan que aos 40 anos ainda é muito forte tecnicamente mas que perdeu o fulgor dos velhos tempos (77,79m). Outro dos potenciais favoritos, o polaco Wojciech Nowicki, vinha fazendo uma prova pobre até ao último lançamento, mas aí conseguiu 77,73m e chegou à medalha de bronze, arredando da mesma o mexicano Diego del Real (76,05m), que esteve prestes a cumprir mais uma surpresa no atletismo olímpico.

As outras finais da madrugada foram as de 4x100m. A prova feminina esteve envolta em polémica, já que devido à falha da segunda transmissão, durante a meia-final, a equipa americana tinha perdido o passaporte para a final e depois de protesto – na base de que Allyson Felix tinha sido tocada por uma atleta brasileira e por isso não conseguiu entregar o testemunho em condições a English Gardner – pôde fazer a prova sozinha em pista, em repetição, para com o tempo obtido ser colocada na final.

As americanas viriam mesmo a ganhar a final de forma enfática, correndo na pista um e superiorizando-se largamente à Jamaica, utilizando a campeã do comprimento Tianna Bartoletta no primeiro percurso, a vice-campeã dos 400m, Allyson Felix, no segundo, English Gardner no terceiro e Tori Bowie a fechar. Com 41,01s obtiveram a segunda marca da história, apenas atrás do recorde mundial que tinham obtido nos Jogos de Londres de 2012 (40,82s), e curiosamente com Bartoletta e Felix então igualmente nos dois primeiros percursos. Jamaica ficou com a prata, com 41,36s, a Grã-Bretanha com o bronze, com um recorde nacional de 41,77s.

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Tori Bowie, Tianna Bartoletta, Allyson Felix e English Gardner celebram o triunfo nos 4x100m AFP PHOTO / PEDRO UGARTE

Depois veio a estafeta masculina e o inevitável aconteceu – Jamaica de ouro, Usain Bolt com mais uma tripla dose dessemetal, como oito e quatro anos antes…