Cartas à Directora

Com o túnel do Marão, nem ficam os que lá estão

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Com o túnel do Marão, nem ficam os que lá estão

É preciso de facto muita hipocrisia e muito cinismo para os nossos governantes e as nossas elites apresentarem o túnel do Marão como um passo decisivo na coesão territorial. O túnel do Marão, tal como a rede de auto-estradas, só seria um factor de coesão territorial se o país estivesse nivelado. Isto é claro como a água. E, se tiverem dúvidas, façam a seguinte experiência. Coloquem dois recipientes, um com água e outro vazio, no mesmo plano e façam o túnel do Marão entre eles. O que é que acontece? O que tem água esvazia para o recipiente que não tem água até ficarem ambos com a mesma quantidade de água.

Agora experimentem colocar o recipiente com água num nível superior e voltem a fazer o túnel do Marão. O que é que acontece ao recipiente que tem água? Acontece precisamente o que vai acontecer a Trás-os-Montes: fica completamente vazio.

Quem olhar para Portugal não pode deixar de saber que vivemos num plano inclinadíssimo em direcção à cidade Lisboa-Porto (a tal Singapura de Passos Coelho e Sócrates) e, sem medidas urgentes e corajosas, para nivelar o território, o túnel do Marão e as auto-estradas apenas vão acelerar o processo de esvaziamento do interior. E não nos iludamos, só existe, neste momento, uma forma de repovoar o território: através da deslocalização de serviços e de órgãos de direcção do Estado para o interior do país.

E não vale a pena voltar a ressuscitar as fantasias de Natal de querer repovoar o interior dando incentivos às empresas para aí se fixarem. Neste momento, o interior só tem reformados e desempregados pouco qualificados e não há nenhuma empresa com dimensão (a não ser as empresas altamente poluentes) que se queira fixar num sítio onde não existe mão-de-obra em quantidade e qualidade suficientes.

Ou seja, ou é o Estado, através da deslocalização de serviços e órgãos de direcção do Estado, a levar gente para o interior do território ou, em breve, não mora lá ninguém.

Santana-Maia Leonardo, Ponte de Sor 

 

O PS e as sondagens

O PS está a descolar do PSD nas sondagens. Uma delas, dá um avanço de seis pontos aos socialistas, com um score eleitoral de 38,5 por cento. Este resultado não me surpreende. António Costa tem-se revelado um bom primeiro-ministro, a geringonça funciona, como ele disse, a página da austeridade já foi virada, como ele prometeu, e o relacionamento com o PR tem sido exemplar, como ele desejou. Acresce que Catarina Martins e Jerónimo de Sousa são, também, políticos competentes, formando com Costa uma trindade de respeito, de grande probidade, na linha da velha honradez republicana. O PS representa o fim da austeridade, o PSD a continuação desta. Enquanto assim for, as sondagens – e as eleições, quando houver – favorecem os socialistas. Não vejo, sinceramente, que vantagem advém para o PSD em ter um líder comprometido com a austeridade. E Maria Luís seria outro erro. É mais do mesmo.

Simões Ilharco, Lisboa