Merece ganhar quem está mais tempo no topo ou quem acaba em primeiro?

Benfica e Sporting foram os grandes protagonistas da temporada que neste domingo acaba. Ambos têm argumentos para justificarem a conquista do ceptro.

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O campeonato desta época foi discutido até ao fim Francisco Leong/AFP

O percurso de um campeão ao longo das várias jornadas da I Liga é, quase sempre, afectado por altos e baixos. Tirando casos raros de domínio quase absoluto da prova, como sucedeu com o Benfica de Jimmy Hagan (1972-73) com mais de 100 golos marcados e apenas dois empates consentidos em 30 jornadas ou, mais recentemente, o FC Porto de André Villas-Boas (2010-11), que registou 27 vitórias e três empates, tendo 93,3% de aproveitamento, o caminho até ao topo tem sempre alguns percalços. Esta temporada não é excepção e antes que se decida alguma coisa, uma discussão já paira no ar. Merece ser campeão quem esteve mais tempo em primeiro lugar ou quem termina nessa posição?

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O percurso de um campeão ao longo das várias jornadas da I Liga é, quase sempre, afectado por altos e baixos. Tirando casos raros de domínio quase absoluto da prova, como sucedeu com o Benfica de Jimmy Hagan (1972-73) com mais de 100 golos marcados e apenas dois empates consentidos em 30 jornadas ou, mais recentemente, o FC Porto de André Villas-Boas (2010-11), que registou 27 vitórias e três empates, tendo 93,3% de aproveitamento, o caminho até ao topo tem sempre alguns percalços. Esta temporada não é excepção e antes que se decida alguma coisa, uma discussão já paira no ar. Merece ser campeão quem esteve mais tempo em primeiro lugar ou quem termina nessa posição?

Jorge Jesus, treinador dos “leões”, já se referiu à questão algumas vezes esta temporada, deixando no ar a ideia de que o campeão justo seria o Sporting, que liderou a classificação da I Liga durante 16 jornadas, mais seis do que o rival “encarnado”. Isto sem contar com a derradeira ronda, que se joga hoje.

Augusto Inácio também defende esta tese. “Há muita coisa que se intromete na classificação final. Claro que é politicamente correcto dizer que quem chega ao fim em primeiro merece ser campeão, mas durante uma época há muito empurrões que podem ajudar uma equipa a levantar-se quando está a escorregar, como foram os três penáltis não assinalados contra o Benfica em Guimarães. E depois há o futebol jogado por cada equipa. O Sporting foi sempre superior…”, começou por dizer ao PÚBLICO Augusto Inácio. E quando questionado sobre se o Benfica será um justo campeão o director-geral do futebol “leonino” foi taxativo: “Não é um campeão verdadeiro. Não é um campeão justo. Foi muito ajudado para ser campeão.”

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Já Toni apresenta outra argumentação. “O campeonato é uma prova de longa duração, de resistência, de regularidade. Não se contabilizam as exibições, mas os pontos”, declara. O antigo jogador e técnico campeão pelos “encarnados” dá mesmo como exemplo o recente caso holandês: “Não sei quem é que andou mais tempo à frente, se foi o Ajax ou o PSV, mas sei que o campeão foi o PSV.” Toni fez até uma analogia com o ciclismo para defender a sua tese. “Na Volta a Portugal, muitas vezes, também há um ciclista que anda de amarelo a prova quase toda e depois perde no contra-relógio do último dia”, referiu ao PÚBLICO.

16 jornadas na frente

A equipa “leonina” chegou ao topo à passagem da oitava jornada, depois de ter derrotado os benfiquistas de forma categórica no Estádio da Luz (0-3) e manteve-se naquela posição de forma quase ininterrupta até à 24.ª. Neste período de domínio sportinguista só numa jornada a equipa cedeu o comando quando, na 14ª ronda, e depois de uma derrota pela margem mínima na Madeira, frente ao União, permitiu que o FC Porto conquistasse a liderança. Mas os portistas nem tiveram tempo para aquecer o lugar já que, logo na jornada seguinte, o Sporting derrotou o FC Porto e retomou a liderança.

O Benfica tem números mais comedidos. O domínio “encarnado” da classificação só começa à jornada 25, após o triunfo (0-1) em Alvalade. Depois de ter sido primeiro, juntamente com outros seis emblemas (entre os quais FC Porto e Sporting), na ronda inaugural da prova, fruto de ter conseguido o resultado mais folgado da jornada, os “encarnados” nunca mais voltaram a estar tão em cima. Foram oitavos, sextos, quintos, quartos, terceiros e até mesmo o segundo lugar só chegou à 16.ª ronda. Claro que para este histórico muito influenciou o jogo em atraso com o União da Madeira – uma partida que devia ter sido realizada na sétima jornada mas que só o foi entre a 13.ª e 14.ª.

Apenas depois de 24 partidas e do triunfo no terreno dos “leões” a equipa de Rui Vitória recuperou a liderança, dessa vez isolada, nunca mais a tendo perdido até hoje, totalizando 10 jogos no topo da classificação.

Outro dos debates que já marcou a discussão da justiça ou injustiça da conquista do campeonato tem a ver com os resultados registados entre os crónicos candidatos ao título. A diferença de forças entre Benfica, Sporting e FC Porto em relação às restantes equipas é grande e, por isso, há quem defenda que, pelo menos do ponto de vista, moral, a entrega do título a uma equipa que nos confrontos directos só venceu um – caso do Benfica – fragiliza o novo campeão.

E depois há o sempre discutível campeonato do melhor futebol. Quem o pratica, como é que isso se avalia, há quanto tempo o bom desempenho dura… Uma coisa é certa, só um nome ficará registado na história.